Aproximadamente 20 minutos. Este foi o tempo que o caminhoneiro Samuel Cordeiro, de 63 anos, levou para tentar controlar o veículo que ele conduzia e que estava sem freio na descida da serra da Via Anchieta, em Cubatão, no litoral de São Paulo. Parte do trajeto e o momento da parada foi flagrado em vídeo.
Imagens mostram o veículo totalmente sem freio se acidentando na pista sul da rodovia. Uma câmera acoplada na cabine de outro caminhão registrou o ocorrido. Na gravação, também é possível notar que motoristas alertaram uns aos outros, via rádio, sobre o perigo e abriram a passagem na pista para evitar colisão.
"Se é um cara menos experiente, ele poderia ter se jogado pra fora da cabine e deixado o caminhão ir embora. Eu tenho um pouco de experiência, então eu decidi ficar para pará-lo", contou Samuel. O caminhoneiro acumula pouco mais de três décadas à profissão e está acostumado com o Sistema Anchieta-Imigrantes(SAI).
Não por acaso, ele havia descarregado um contêiner horas antes em Guarulhos, na Grande São Paulo. A caixa metálica havia sido retirada de uma empresa em Praia Grande (SP). "Era o meu trabalho do dia. Era uma viagem rápida, para subir (a serra) com o contêiner para deixá-lo lá e descer de volta em seguida".
No retorno, caminhoneiro percebeu que havia ficado sem freio ainda no início da descida da serra. "Fiquei só um pouco nervoso. Minha reação foi jogá-lo onde tinha pedra e onde tinha mato. Eu tentava segurar ele de qualquer forma para não bater", conta. O veículo atingiu velocidade superior a 80 km/h - o limite na via é de 50 km/h.
Foi quando Cordeiro avistou a estrada de serviço, nas proximidades do km 48. "Era minha única opção. Eu joguei o caminhão e na descida ele parou no barranco. Se tivesse ido de volta para a pista seria um estrago, aí ele poderia tombar. Minha reação foi sair rápido da cabine. Eu tenho um problema no joelho, mas nem senti nada na hora".
Com a situação controlada, Samuel, que mora com a família no bairro Vale Verde, em Cubatão, recebeu a assistência de outros caminhoneiros amigos que o reconheceram. Equipes da concessionária Ecovias, responsável pelo trecho, e da Polícia Militar Rodoviária (PMR) também atenderam a ocorrência, segundo ele.
"O vídeo eu só fui ver depois, na internet. A cena foi muito forte e eu percebi que foi Deus quem me guardou naquela hora. Olha, foi um milagre de Deus, porque eu nunca tinha passado por isso antes", desabafou. O veículo foi rebocado até uma oficina Guarujá (SP), onde foi reparado ao custo de mais R$ 3 mil, contabiliza Cordeio.
Ainda segundo Samuel, o caminhão foi comprado há 20 dias por R$ 30 mil - ele vendeu um carro para adquiri-lo. "Eu fiquei desempregado no final do ano passado. Era caminhoneiro contratado. Daí sai (da empresa) e comprei esse caminhão. O antigo dono me garantiu que ele estava em boas condições e revisado", contou.
Após o ocorrido, o caminhoneiro garante que não desistiu de trabalhar nas estradas já que precisa ajudar no sustento da família. "Eu gosto e sempre trabalhei com isso. Eu preciso trabalhar. No caso do caminhão, pensei até entrar no (juizado) de pequenas causas por causa do ex dono, mas vamos ver. Não sei se vale", ponderou.
Segurança
A concessionária Ecovias, responsável por administrar o Sistema Anchieta-Imigrantes, informou que ficou ciente do ocorrido. Por nota, a empresa disse recomendar "a todos os motoristas que façam revisões periódicas em seus veículos e que verifiquem as condições de todos os componentes antes de viajar".
Além disso, a concessionária informou que possui duas rampas de escape (nos kms 42 e 49), similares às antigas caixas de brita utilizadas em competições de automobilismo. Os locais garantem uma parada segura aos motoristas que perderam o freio durante o trajeto de descida da serra.
FONTE: G1
FONTE: G1