O Estado, beneficiado pelos altos índices da balança comercial em atividades envolvendo o comércio exterior, não teve, ou não encontrou, meios de evitar a degradação de suas estradas pelas carretas a serviço da ex-Aracruz Celulose e dos poderosos produtores de rochas e granitos.
Quem vê a evolução da economia do Estado com os olhos voltados unicamente para os índices de desenvolvimento da balança comercial tem a falsa sensação de que provavelmente a população vive uma realidade diferente da de outras regiões. Na verdade, quem vive essa realidade é o grande empresariado que daqui extrai tantas riquezas.
Os valores movimentados são inquestionavelmente altos, mas boa parte deles se deve ao dispêndio de dinheiro público em incentivos e outras formas de subsídios a atividades de exportação. O dinheiro público também se faz presente na manutenção das rodovias capixabas que diariamente sofrem deterioração sob o peso das carretas que cortam o Estado em direção aos portos.
Somente com base em obras que estão em andamento no momento, divulgadas no site do Departamento de Estradas e Rodagens do Espírito Santo (DER-ES), são previstos investimentos de R$ 200 milhões.
É muito dinheiro, mas insuficiente para contornar os problemas causados pelo desgaste causado com o mau uso dos meios de transportes de carga, quase todo ele feito de forma irregular, com carretas circulando sempre com peso acima da capacidade permitida.
Agentes da Polícia Rodoviária e funcionários do Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsporte (Dnit) não desconhecem o fato de a maioria dos motoristas que trabalham com carregamentos de peso superior ao estipulado pelas normas do setor utilizar rotas alternativas para fugir à fiscalização, por já conhecer o percurso em que teria de se submeter às balanças. Fato que certamente também é de conhecimento do governo do Estado, que, entretanto, faz vista grossa a esse tipo de manobra.
O transporte de cargas irregular, além de ser responsável pelo desgaste precoce do asfalto, oferece risco aos condutores de veículos particulares. Nos últimos três anos, os números de acidentes provocados pelos caminhões de granito não são insignificantes: foram oito em 2007 e, em 2008, houve uma morte; em 2009 foram registrados três.
No Estado, estão em funcionamento quatro balanças de pesagens, todas instaladas em rodovias federais. O controle é precário. São poucos e dispersos os postos de fiscalização, cabendo a cada um deles, em média, a pesagem de quatro caminhões por dia, número bastante inferior ao de carretas em circulação.
A questão não é exclusividade do Estado. A deficiência é uma realidade em todo o País, onde se contam 75 unidades de pesagem, 66 delas inoperantes e uma em fase de ativação, conforme informação da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).
Na semana passada, quando empresários do setor de rochas ornamentais pressionaram políticos por mudanças no comando regional da Polícia Rodoviária. Sobre o que teria motivado as pressões nda foi possível apurar, mas não é difícil de imaginar.
Outro fato sobre o mau uso da política na abordagem dessa questão veio à tona quando se soube que um deputado federal – Lelo Coimbra (PMDB) – e dois deputados estaduais – Josias da Vitória (PDT) e Giuliano dos Anjos (DEM) – tentaram conseguir em Brasília o adiamento da implantação de novas regras para o transporte de rochas em caminhões, de 31 de junho para 31 de dezembro deste ano. Foi uma forma de torpedear a deliberação do Contran nº 89, de 18 de janeiro de 2010, criada para apertar o cerco aos infratores.
São transportadas diariamente nas estradas estaduais toneladas e toneladas de rochas ornamentais e muito eucalitpto – todas as cargas em pesadas carretas - até os portos e distribuidoras dos produtos. O que pressupõe fabulosos lucros para seus produtores, mas não estímulo para eles se submeterem a normas de regulamentação. O Espírito Santo concentra uma enorme fatia da pauta de exportações brasileiras, que responde por 66% dos US$ 955 milhões arrecadados com sua venda, algo superior R$ 1 bilhão.
Já a participação das exportações capixabas no mês de abril chegou a 75%, em relação ao volume exportado em nível nacional. Isso corresponde a 175 mil toneladas.
Os números, como se vê, são expressivos, mas não trazem retorno em termos de benefícios para o Estado e seus habitantes.
FONTE: Seculo Diario