No Aurélio, eles são definidos como “proprietários de caminhões que transportam carga sob encomenda”. Na vida real, os carreteiros, além dos caminhões, usam Kombis e caminhonetes para ganhar o pão de cada dia. Alguns estão na profissão há quase 50 anos, outros acabaram de entrar. A renda mensal bruta varia de R$ 2 mil R$ 4 mil. A grande maioria paga INSS para ter uma aposentadoria garantida. Eles estão espalhados em todas as regiões de Belo Horizonte e já se tornaram referência em alguns pontos da capital, como a Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santo Efigênia. Trabalham das 6h às 18h, ou até a hora que “o cliente desejar”. O valor médio do carreto começa em R$ 50. O custo final depende de uma série de fatores. A BHTrans não tem estatísticas de quantos pontos “oficiais” existem na capital.
José Melquíades da Silva de Deus, de 71 anos, é um dos carreteiros mais antigos da Floriano Peixoto. Seu Pardal, como é conhecido, começou na profissão em 1963. Há 47 anos atuando nas ruas da capital, ele mesmo fala que sua vida dá uma novela. “Comecei com uma ‘Fordinha’ no Mercado Central, depois fui para a Praça da Estação e, há 30 anos, estou aqui. Criei minha família com o que ganho fazendo carretos”, relata o dono de um caminhão Ford 350/2002.
Além de criar oito filhos e dar uma ‘ajudinha’ aos 13 netos, quando algum precisa, seu Pardal também teve outras conquistas na profissão, das quais se orgulha de falar. “Construi uma casa e já cheguei a comprar seis lotes”, relembra o morador do Bairro Tupi. Na família, três filhos seguiram a profissão do pai, “de motorista”. Aposentado, ele conta que o mercado está mais competitivo. “Mas ainda dá para fazer a ‘sacola cheia’ toda sexta-feira”, afirma, explicando que o termo se usa para designar compras de alimentos para a família. Segundo o carreteiro, sua renda mensal gira entre R$ 2 mi e R$ 2,5 mil. Por um carreto em BH, cobra de R$ 50 a R$ 250. “Já cheguei a tirar R$ 6 mil, mas isso foi antigamente. Hoje a concorrência é grande”, diz.
Sem apoio
Na profissão, seu Pardal reclama apenas de um fato. “Não temos nenhum apoio. Agora mesmo nós vamos ter que sair daqui. Não temos um sindicato, nenhum político para nos ajudar, nem em época de eleição”. De acordo com a BHTrans, os carreteiros da Floriano Peixoto vão continuar na Avenida do Contorno, só que do outro lado da via, e alguns serão transferidos para a Avenida Churchill, na mesma região. E o apelido de onde vem? “Voava de um ponto para outro e não ficava quieto num lugar só”, explica.
Evandro Campos Moreiros, de 32, está há apenas um mês na Floriano Peixoto. Ele trabalhou na Vale durante seis anos e decidiu seguir a profissão de carreteiro porque “queria trabalhar por conta própria”. “Chequei aqui por indicação de um amigo. O primeiro mês foi muito positivo e minha meta é ter uma renda mensal de R$ 3 mil”, diz ele, que usou o dinheiro do seu Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para comprar seu caminhão baú Volks 3/4. “Ainda pago prestação, mas ano que vem já termina”, planeja.
FONTE: UAI Minas