Os caminhões ganharam, mais uma vez, a anuência federal para trafegar com eixos sobrecarregados, um dos principais vilões da deterioração das vias brasileiras. O Contran (Conselho Nacional de Trânsito) prorrogou por mais seis meses, até 31 de dezembro, a autorização para que esses veículos circulem no país com excesso de peso por eixo de até 7,5%.
É a quarta vez, em menos de dois anos, que o órgão, liderado por integrantes do governo Lula (PT) adia a volta da tolerância máxima de 5% de sobrecarga, que vigorava nos anos 1990 e que era suficiente para comportar as margens de erro de pesagem.
O limite foi flexibilizado em 1999, na gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB), após a greve nacional dos caminhoneiros, mais por razões políticas que técnicas, como reconhecem alguns transportadores de carga.
Ele deveria ter acabado no começo de 2009, segundo o Contran, mas vem sendo postergado a cada semestre.
Segundo Neuto Gonçalves dos Reis, da NTC & Logística (associação do transporte de carga), cada 1% de excesso de peso diminui em mais de 4% a vida de um pavimento. Ou seja, um asfalto que deveria durar dez anos sobrevive menos de quatro anos se todos os veículos rodarem com 7,5% de sobrecarga.
O Contran, em nota, diz que vai aguardar a conclusão de estudos do Inmetro para a pesagem de caminhões que transportam granéis sólidos e líquidos, cuja carga se movimenta com facilidade. Os testes, afirma, são importantes para comprovar a adequação das balanças. O Contran diz ainda que a prorrogação foi pedida pelo Ministério dos Transportes.
Apesar de reconhecer os danos da sobrecarga na qualidade das vias públicas, a NTC defendeu a prorrogação da tolerância de 7,5% porque seus associados cobram mais tempo para se adaptar. Segundo Reis, da NTC, empresas deixaram de se preocupar com a boa distribuição da carga porque a tolerância havia aumentado.
Além disso, buscando ter mais lucratividade, houve quem incorporasse os 7,5% nos cálculos da carga transportada, levando mais produtos em menos caminhões. "Se há uma frota grande com sobrepeso, a durabilidade do asfalto encurta", diz Sérgio Ejzenberg, mestre em transportes pela Poli-USP.
FONTE: ES Hoje