Facchini

Casa sobre Rodas

Uma das principais reclamações dos motoristas de caminhão é a falta de estrutura na estrada como banheiros limpos, locais seguros de parada, restaurantes com preços acessíveis, áreas de descanso, entre outros. Se para aqueles que passam alguns dias longe de casa essa deficiência se torna um problema, imagina para um carreteiro do Rio Grande do Sul que, por falta de condições de manter um imóvel, morou durante quatro anos, ao lado da esposa, dentro de um Alfa Romeu e dependeu, exclusivamente, dos serviços oferecidos ao longo das rodovias do País.
"Foram tempos difíceis, tinha acabado de me casar e como não tinha dinheiro para comprar ou alugar uma casa fui obrigado a usar o meu caminhão para dormir, cozinhar e ganhar dinheiro, lembra o autônomo Guilherme Cristianetti. Na época, meados de 1968, viajava cerca de 1.900 quilômetros e fazia a rota Sapucaia do Sul/RS e Goiânia/GO carregando arame farpado e retornava com amianto. Conta que o mais complicado era encontrar banheiros decentes para poder tomar um banho.
Diante de todas as dificuldades enfrentadas, Guilherme decidiu que um dia equiparia o seu caminhão com todos os itens que lhe garantisse conforto em suas viagens. Porém, durante 35 anos o projeto ficou apenas no campo das ideias e nesse período comprou uma casa, sua esposa deixou de acompanhá-lo para cuidar dos filhos, se aposentou e deu um tempo na profissão.

Apenas em novembro do ano passado surgiu a oportunidade de comprar um Mercedes- Benz 1938, 6x2, ano 1999, e retornar para a estrada. "Pensei, chegou a hora de voltar ao trabalho da maneira que sempre idealizei", conta. E foi assim que, além dos 120 mil reais pagos no caminhão, investiu cerca de R$ 45 mil para transformá-lo em um motorhome.
O trabalho incluiu modificações como o alongamento do chassi em um metro e da cabine em 1,40, mantendo as características originais do caminhão, e a inclusão de banheiro com chuveiro, fogão, geladeira, pia, armários, mesa que se transforma em cama, TV de plasma com DVD, entre outros itens de conforto. Apesar de estar pouco mais de quatro meses com o novo veículo, Guilherme garante que valeu a pena ter aguardado para concretizar uma ideia que surgiu há 42 anos.

"É como se estivesse em casa. Estou com 63 anos e hoje trabalho muito mais relaxado e tranquilo, sem estresse. Sem contar na economia com despesas extras e o aumento da segurança, já que veículos personalizados não são alvo de ladrões". Em relação às desvantagens, Guilherme cita o fato de ter sido agregado no caminhão uma tonelada de tara. Mas, ressalta que o conjunto está dentro do permitido pela lei e atinge 18,40 metros e 32.900kg.
Para Guilherme, que atualmente trabalha no transporte de soja e adubo, o valor gasto no projeto já foi compensado pelo prazer e conforto que o caminhão proporciona. Sente apenas por não ter a companhia da esposa, que hoje trabalha, e tanto sofreu na época em que viajavam sem qualquer infraestrutura. "Apesar de conhecer boa parte do País nunca fui para o Nordeste e em breve quero conseguir frete para essa região e, na ocasião, espero ter a companhia da minha esposa", destaca.
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