Ontem, as ruas do Morumbi tinham algo de diferente das últimas vésperas de feriado prolongado. Além dos carros já habituais, centenas de caminhões trafegavam pela região buscando alternativas à restrição de veículos de carga na Marginal do Pinheiros e em outras vias da zona sul de São Paulo. Durante uma hora, a reportagem contou 320 na Avenida Giovanni Gronchi - situação que incomodava tanto moradores quanto caminhoneiros.
A contagem foi realizada entre 12 e 13 horas, na altura do número 6.000 - trecho que apresentou maior lentidão por concentrar também caminhões que vinham da Avenida Doutor Guilherme Dumont Vilares. Além do alto número de veículos, chamou a atenção a quantidade de caminhões de médio porte: 243, ou 76% do total. Os Veículos Urbanos de Carga (VUCs), que têm até 6,3 metros e estão livres da restrição, somaram 64, ou 20%. Os outros 4% eram carretas - passaram 13 nesse período, algumas com mais de 20 metros de comprimento.
Essas últimas foram as que mais apareceram nas reclamações sobre o trânsito da avenida por causa da lentidão com que subiam os aclives mais acentuados da Giovanni Gronchi. "Isso está horrível. Não dá mais para andar por aqui por causa de tanto caminhão. Ontem, me assustei com o tamanho das carretas, algo que nunca havia por aqui", disse a psicóloga Malu Monteiro, moradora do Morumbi há cerca de 15 anos.
O professor Renato Pereira também notou um aumento no número de caminhões que passam pelo bairro. Ele sente dois efeitos distintos da restrição ao tráfego de veículos de carga que começou a ser fiscalizado ontem - como mora em Moema, na zona sul, viu uma melhora na Avenida dos Bandeirantes, mas reclama da piora do trânsito no Morumbi, onde trabalha. "Hoje de manhã estava um inferno. Fui tentar escapar dos caminhões por uma travessa, mas fiquei preso atrás de um até em ruas pequenas. Piorou muito."
Volta. Grande parte dos caminhoneiros que passaram agora a transitar pelo Morumbi vem das Rodovias Régis Bittencourt e Raposo Tavares em direção a bairros da zona sul de São Paulo, como Santo Amaro e Interlagos. O caminho também é utilizado por motoristas que vão a algumas áreas de Diadema e São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
A principal alegação é que o Trecho Sul do Rodoanel é bom só para quem vai para o litoral. Para quem fica na cidade ou vai para o ABC, a volta é muito longa. Assim, vários preferem enfrentar o trânsito local já saturado do Morumbi - mas não sem reclamações.
"Para nós, essa restrição foi horrível. Eu usava a Marginal do Pinheiros todo dia para ir até o Campo Limpo, mas agora tenho de passar por aqui. Ontem, demorei quase duas horas e meia a mais, somando ida e volta", disse o motorista Rosemir Soares de Souza, de 36 anos, que dirigia uma carreta de seis eixos pela Avenida Giovanni Gronchi.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região (Setcesp) defende maior flexibilização das restrições para diminuir os efeitos colaterais da medida. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), por outro lado, afirma que "está acompanhando e monitorando o comportamento do trânsito diante das novas medidas e, caso necessário, fará os devidos ajustes".
FONTE: Estadão