Facchini

Especialistas acreditam que infraestrutura e logística não acompanham crescimento de safra

O crescimento da safra de grãos no país não é acompanhado pelos investimentos em infraestrutura e logística. Esta é a visão de especialistas da área. Segundo dados da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais, os reflexos estão nos custos logísticos.
Entre 2003 e 2009, o aumento nos gastos com transporte de grãos subiu 147%. Entre os problemas apontados pelo setor estão estradas em péssimas condições de conservação, além da insuficiência de ferrovias e hidrovias.
Para o diretor executivo da Confederação Nacional dos Transportes, Bruno Batista, este é um dos principais gargalos logísticos do país.
– Existem deficiências, principalmente no transporte rodoviário. Nós ainda temos dificuldades e deficiências na movimentação portuária. A malha ferroviária não é tão ampla para atender o crescimento das novas fronteiras agrícolas. De um modo geral ainda existe muito a ser feito – afirma.
A região Centro-Oeste é, hoje, responsável por 35% da produção nacional de grãos. Mas o escoamento da safra ocorre por portos do Sul e Sudeste do país. Com dificuldades de ferrovias e hidrovias pela região, o transporte rodoviário é a única alternativa. Os custos de transporte de uma tonelada de soja, por exemplo, podem chegar a R$ 230. 
Na avaliação do consultor de infraestrutura e logística da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil, Luiz Antônio Fayet, o correto seria exportar os grãos pelo norte do país.
– Esta nova área de fronteira ocupada pelo agronegócio está acontecendo numa região que é altamente deficitária em termos de infraestrutura. E o pior problema, para o qual a CNA vem chamando a atenção, é a questão portuária. Para chegar no porto, vou de caminhão, trem ou lombo de burro e chego lá. Mas se não tenho porto, não tenho como tirar as mercadorias – avalia o dirigente.
Outra questão, de acordo com Fayet, é a legislação em relação à navegação de cabotagem, que é o transporte hidroviário dentro do país. Para o consultor da CNA, a opção por hidrovia seria mais barata e menos poluente se uma série de taxas não travassem esta modalidade.
– A navegação de longo curso se orienta por regras internacionais. A de cabotagem se rege por legislação interna. A legislação interna cria tantos penduricalhos, tantos problemas, que o custo dos fretes não conseguem competir com o caminhão. Então vemos cargas saírem do Paraná ou do Rio Grande do Sul para o Nordeste de caminhão ao invés de ir pela via aquática que é mais barata e gera menos poluição que o transporte terrestre – salienta Fayet.
Já o executivo da CNT acredita que os investimentos em hidrovias e ferrovias ocorrem em passos lentos. Para Batista, a representatividade destes modais no transporte de cargas ainda é pequena.
– Para que haja esta migração do transporte rodoviário para outros modais é preciso que haja esta opção. E isto não acontece hoje no Brasil. A expansão da nossa malha acontece ainda a passos lentos. Com isso, a única opção viável continuam sendo as rodovias. As hidrovias ainda são subutilizadas. A movimentação hidroviária, somada a ferroviária, ainda está em 30% a 30% – informa.
Conforme dados apresentados pela E.C. Consultoria e Assessoria em Comércio Internacional durante o congresso Crop World South America, as perdas com problemas logísticos no Brasil podem chegar a R$ 4 bilhões ao ano.
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