Proibidos desde o último dia 2 de circular entre 5 e 21 horas pela Marginal do Pinheiros e pelas Avenidas dos Bandeirantes, Jornalista Roberto Marinho e Afonso D"Escragnolle Taunay, os motoristas de caminhões passaram a usar rotas alternativas como as Avenidas Giovanni Gronchi e Doutor Guilherme Dumont Villares. As duas, que há muito tempo são insuficientes para suportar o volume normal de automóveis e ônibus, não têm condições de receber tráfego pesado. Nos muitos aclives, as carretas circulam em baixa velocidade, piorando os congestionamentos. Nos declives, os pesados veículos ganham velocidade acima da permitida, ameaçando veículos e pedestres.
Em abril, quando o Trecho Sul do Rodoanel foi inaugurado, o prefeito Gilberto Kassab avisou que as restrições ao tráfego pesado aumentariam. O anel rodoviário deveria atender todos os caminhoneiros que atravessavam a cidade rumando para o Porto de Santos ou outros destinos. Dois meses depois, Kassab cumpriu a promessa de ampliar o plano de organização da circulação de caminhões, iniciado em 2008, quando os veículos pesados foram proibidos de rodar pelo centro expandido da capital entre 5 e 21 horas. Para atender às necessidades de abastecimento da cidade, os Veículos Urbanos de Carga (VUCs) foram liberados para circular, obedecendo apenas ao rodízio de final de placas.
Ao proibir o tráfego de veículos pesados na Marginal do Pinheiros e nas Avenidas Bandeirantes, Roberto Marinho e Afonso D"Escragnolle Taunay, era intenção da Prefeitura obrigar os caminhoneiros, de passagem por São Paulo, a usarem o semicírculo formado pelos dois trechos concluídos do Rodoanel, no oeste e sul da metrópole, e a recém-inaugurada Avenida Jacu-Pêssego, no leste, deixando as ruas da capital apenas para o tráfego leve. Aos infratores, ficou estabelecida multa de R$ 85,00 e punição com quatro pontos na carteira.
No primeiro dia da restrição, mais 12 mil caminhões circularam no Trecho Oeste do Rodoanel, um aumento de 5% no volume de tráfego diário. Pouco, se comparado aos 200 mil caminhões que diariamente circulam por São Paulo. Para fugir das multas e sem disposição de enfrentar o percurso pelo Rodoanel e seus pedágios, os caminhoneiros partiram em busca de rotas alternativas tirando o sossego de uma das regiões mais valorizadas da capital. Na véspera do feriado prolongado da Independência, a reportagem do Estado registrou a passagem de 320 caminhões pela Avenida Giovanni Gronchi, a principal artéria do Morumbi e a escolhida pelos caminhoneiros como via de acesso para os municípios do ABC e do litoral paulista.
Esse jogo entre o setor de transporte de cargas e a Prefeitura, em prática há mais de duas décadas, precisa ter fim. É preciso blindar totalmente as vias que, seja por causa da sobrecarga do tráfego ou do zoneamento, não podem receber carretas e caminhões. Essa blindagem só pode ser imposta por normas rigorosas e por fiscalização permanente. Sem isso, além de os altos investimentos em obras viárias não trazerem o resultado esperado, os prejuízos causados pela circulação de caminhões na cidade se ampliarão.
Antes da proibição dos caminhões na Marginal do Pinheiros, o Município gastava aproximadamente R$ 1 milhão por mês em obras de recapeamento daquela via e da Marginal do Tietê. Os custos com acidentes envolvendo caminhões, com os congestionamentos provocados pelas panes na frota pesada e com a poluição ambiental, são incalculáveis.
Simulações realizadas por entidades especializadas em transporte de carga apontam para uma economia em dinheiro de R$ 172,35 e de tempo de pelo menos quatro horas para cada viagem de caminhão que não passe pelas vias da capital. Os benefícios se estendem ainda pelo ganho de produtividade, redução do estresse dos motoristas e riscos de acidentes.
Portanto, a compensação pelo gasto com o pedágio e pelo percurso no Rodoanel já é mais do que justa para quem tem de entender, de uma vez por todas, que a cidade tem limites.
FONTE: Estadão