Dois policiais militares do Batalhão de Trânsito Urbano e Rodoviário foram detidos administrativamente ontem na Penitenciária Central de Cuiabá (antigo presídio do Pascoal Ramos). O soldado Marco Antônio de Assis e o sargento Maciel Ferraz Berbel foram flagrados cobrando propina de motoristas de carretas carregadas de madeira que passavam pelo posto de fiscalização na Rodovia dos Imigrantes (saída para Santo Antônio de Leverger). Eles ainda estão sendo investigados.
Segundo o comandante do batalhão de trânsito, coronel Wilson Batista, a prisão só aconteceu porque, em agosto, os policiais foram flagrados num vídeo (gravado às escondidas pela equipe da TV Centro América) cobrando propina de um caminhoneiro no posto. Ele conduzia uma carreta carregada de toras de madeira. Quando parou no posto de fiscalização, os policiais que o abordaram logo afirmaram que a quantidade de madeira carregada na carreta era superior ao que informava a nota fiscal da carga.
Tal constatação foi feita sem qualquer instrumento de medição. Para não reter o veículo e enviá-lo para a perícia minuciosa da polícia ambiental (o que prejudicaria os prazos do motorista de entrega da carga), o soldado e o sargento cobraram R$ 500 do motorista, que alegou ter somente R$ 200. Ele pagou a propina e seguiu viagem, tendo tudo registrado em vídeo. Depois disso, avisou à polícia que entregaria o material.
De acordo com Batista, somente ontem a corporação verificou o material gravado e prontamente tomou as devidas providências, incluindo a detenção dos dois militares que figuram no vídeo e a instauração de um inquérito policial militar (IPM) para apurar os fatos. A detenção administrativa dos dois pode ser prorrogada por outros 30 dias. Após as investigações oficiais, um Conselho de Disciplina deve decidir se ambos permanecem nos quadros da corporação. O caso também foi levado ao promotor da vara de Justiça Militar Vinícius Gahyva.
O Ministério Público, aliás, flagrou situação semelhante em maio. O Grupo de Ação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) recebeu denúncia de um caminhoneiro que, quando passou pelo posto de fiscalização da Imigrantes, foi abordado por policiais que lhe cobraram R$ 1.500 para deixá-lo seguir viagem.
Sem ter como pagar e necessitando reaver a carreta detida, ele procurou o MP. O promotor Sérgio Silva da Costa, do Gaeco, então organizou uma ação que culminou na detenção dos dois policiais acusados do crime de concussão (exigir vantagem em função do cargo exercido). Hoje, os policiais respondem ao processo em liberdade.
RECORRENTE - Já segundo o promotor, a conduta dos dois era prática recorrente no posto da Rodovia dos Imigrantes desde o início do ano. Os policiais presos ontem agiam da mesma forma que os presos em maio, que sequer detêm conhecimento ou recursos técnicos para aferir os volumes das cargas. Isso era eficaz para tirar dinheiro de caminhoneiros receosos com os prazos, mas o MP nada pode fazer sem a devida denúncia dos motoristas (direto ao MP ou à Corregedoria da Polícia Militar).
É a mesma constatação do Sindicato dos Caminhoneiros. “Aquele posto já deixou de ser de fiscalização há muito tempo. Ali é pedágio brabo. A reclamação é constante, principalmente dos que vêm de Rondônia, mas é famoso no Brasil inteiro por causa dessa prática”, declarou o presidente do sindicato, Roberto da Costa.
Por sua vez, a PM afirma que tem feito de tudo para coibir a corrupção entre os policiais. O comandante do Batalhão de Polícia Rodoviária, coronel Batista, inclusive informou que em junho levou agentes ao presídio militar em Santo Antônio de Leverger a fim de fazê-los se conscientizar, por meio do impacto dos relatos dos presos, de como é a vida atrás das grades.
FONTE: Diário de Cuiabá