Como estão as estradas brasileiras, por onde trafegam mais de 60% da carga transportada neste país? A palavra final vem da pesquisa 2010 da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Na 14ª versão do estudo, o levantamento de toda a rede pavimentada federal e das principais rodovias estaduais se estendeu por cerca 91 mil km. O trabalho mostra que 14,7% delas podem ser consideradas ótimas e 26,5% boas – no ano passado, esses índices eram de 13,5% e 17,5%, respectivamente. As regulares foram de 45% em 2009 para 33,4% agora, Por outro lado, comprova um aumento das estradas ruins, de 16,9% (2009) para 17,4% em 2010, e das péssimas, de 7,1% para 8%.
Na avaliação de Clésio Andrade, presidente da CNT, a melhora é reflexo dos investimentos realizados pelo governo Lula. Segundo o Instituto de Economia Aplicada (Ipea), os recursos destinados ao setor de transporte passaram de uma participação de 0,38% do Produto Interno Bruto (PIB) em 1999 para 1,15% em 2008. Mas o crescimento foi puxado pela iniciativa privada. Nesse período, os órgãos públicos investiram entre 0,1% e 0,2% do PIB. Já inversões privadas cresceram de 0,24% para 1,05% do PIB. E não se pode esquecer que a malha viária nacional ainda tem cerca de 1,4 milhão de km em pavimentação, como cita o Plano de Logística 2008 da própria CNT.
Do total pesquisado, 76.393 km – 84% – estão sob gestão publica. O restante é administrado por concessionárias. A melhora ocorreu em praticamente todos os parâmetros. Os pontos críticos – como buracos grandes ou erosão das pistas – passaram de 193 em 2009 para 109 neste ano, redução de 43,5%. Os trechos com pavimento e sinalização considerados ótimos ou bons aumentaram 8,3 pontos percentuais e 5,7 pontos percentuais, respectivamente.
As disparidades regionais são enormes. Na região Norte, as estradas classificadas como boas ou ótimas representam só 15,9% do total, o menor do país, embora tenha ocorrido uma melhora substancial. Eram 6,4% em 2009. A média nacional é de 41,2%. Na região Sul, o índice é de 59,1%. Em relação às ruins ou péssimas, a malha viária nortista disparou de 40% para 54,8% do total, o pior do Brasil. No Sul, as vias nessas condições representam 14,1%.
O avanço dos últimos anos nas condições das estradas é inegável. “Mesmo assim, o transporte de carga no Brasil é uma aventura rodoviária. Ainda temos uma enorme malha sem pavimentação e boa parte das vias pavimentadas encontra-se em condições precárias, comprometendo a rentabilidade das transportadoras”, comenta Flávio Benatti, presidente da Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística (NTC&Logística). Essa situação impacta o preço dos fretes.
Segundo Neuto Gonçalves dos Reis, mestre em engenharia de transporte e assessor técnico da NTC&Logística, estradas em más condições obrigam os veículos a reduzir a velocidade e realizar um número menor de viagens. Como os custos fixos (como depreciação e salários) permanecem inalterados, a viagem fica mais onerosa. As despesas variáveis também aumentam. Andando mais devagar, os caminhões gastam mais combustível, pneus, peças.
FONTE: Valor Online