Facchini

Recursos privados e fusões reforçam a frota rodoviária

Grandes fusões e aquisições, anunciadas a partir de 2007, e investimentos privados em infraestrutura para melhorias da eficiência do fluxo de carga estão mudando a cara do mercado de transporte rodoviário de cargas. Representando um papel de destaque na logística brasileira, o negócio de transporte rodoviário começa a ser incorporado a operadoras como estratégia de fortalecimento e garantia de qualidade de serviços, especialmente para grandes clientes.
“Temos uma frota dedicada de 880 veículos, uma espécie de hedge, para garantir a operação logística”, diz Luiz Gustavo da Silva, diretor de operações da Aqces, operadora que está no mercado há dois anos como resultado de investimentos feitos pela gestora de fundos de private equity Green Capital. Com previsão de faturar R$ 200 milhões em 2010 e chegar a R$ 1 bilhão em 2014, a empresa oferece soluções de inteligência operacional e tecnológica para para oferecer a logística integrada a grandes clientes. “Nossa frota rodoviária nos dá segurança no atendimento.”
Além da frota, Silva diz que a empresa está montando uma estrutura para treinar motoristas, uma vez que existe grande dificuldade para encontrar profissionais qualificados nessa área. Apesar da informalidade do setor, o diretor da Aqces acredita que haja uma tendência de profissionalização em curto prazo, puxada pela obrigatoriedade de uso do Conhecimento Eletrônico de Carga, a partir do próximo ano. “Esse aspecto vai ter grande impacto na organização do segmento.”
Aquisições rodoviárias para reduzir custo e ter flexibilidade operacional também fazem parte da estratégia da cinquentenária operadora logística holandesa TNT, que está há no Brasil desde 1983. Nos últimos três anos, a empresa comprou a Mercúrio (2007), e a Araçatuba (2009), para consolidar de forma independente a capilarização da logística integrada, não só no mercado doméstico como também no internacional. “Uma estrutura própria reduz o custo”, diz Ricardo Gelain, diretor de marketing da empresa.
Antes das aquisições, a TNT já operava em parceria com as transportadoras rodoviárias. A partir das compras, a operadora ficou proprietária de mais de 3500 veículos, entre próprios e terceirizados, e consegue atender o Brasil de Norte a Sul, em mais de 5 mil municípios. Isto porque a área de abrangência da Mercúrio, a maior e uma das mais eficientes transportadoras do Brasil na época, é a região Sul, e a da Transportadora Araçatuba, também uma das líderes do setor, é a região Norte. Além dessas compras no Brasil, a TNT incorporou a maior transportadora de cargas do Chile, a Lit Cargo.
“Houve uma decisão da empresa, em nível mundial, em investir em mercados selecionados, e na América do Sul o Brasil é, sem dúvida, o maior destinatário dos recursos”, diz Gelain, sem comentar, contudo, os valores de investimento ou faturamento da unidade brasileira. Apesar da retração da economia na época das aquisições, a aposta da holandesa foi se consolidar no segmento de cargas expressas, cujo crescimento registrava crescimento contínuo.
Além das aquisições, investimentos em tecnologia de informação para interligar sistemas operacionais e de gestão das empresas rodoviárias ao sistema mundial da marca, e mais a automação e conexão da armazenagem aos equipamentos móveis, devem transformar a unidade brasileira em um importante hub dentro de sua logística internacional.
Foi na mesma época, entre 2007 e 2008, que a transportadora rodoviária Júlio Simões incorporou ao seu negócio duas grandes empresas rodoviárias, a Lubiani Transportes e a Transportadora Grande ABC, o que resultou em uma frota de mais de 2.500 caminhões, e um faturamento, em 2009, de R$ 1,5 bilhão.
“O transporte de carga geral, de ponto a ponto, representa 10% do faturamento da companhia”, diz Fábio Veloso, diretor da empresa. A maior parte dos negócios, 53%, está dirigida a serviços dedicados à cadeia de suprimentos, incluindo contratos de gestão de logística desde a entrega da matéria-prima até a gestão da informação e entrega do produto.
Com 54 anos de mercado e origem rodoviária, a Júlio Simões cresceu organicamente em clientes aos quais anteriormente prestava serviços de transporte rodoviário. É o caso da Suzano Papel e Celulose, para quem a Júlio Simões fez seu primeiro serviço de carga dedicada há 52 anos, e da Fibria, com quem tem parceria comercial há mais de 30 anos. Nos negócios da empresa, papel e celulose participam com 22% do faturamento, no segmento de logística.
Com a abertura do capital na Bolsa de Valores de São Paulo no início deste ano, a operadora informa que registra crescimento nos últimos dez anos de 26% ao ano. A estratégia da empresa para continuar crescendo na logística, agora, é investir também na infraestrutura, para superar gargalos e viabilizar a intermodalidade.
Com base em um acordo com a MRS Logística, a Júlio Simões investiu R$ 55 milhões em um centro logístico intermodal em Itaquaquecetuba, na região de São Paulo, às margens da rodovia às margens da rodovia Ayrton Senna (que liga a capital paulista ao Vale do Paraíba) e dos trilhos operados pela MRS, que levam ao porto de Santos e se estendem aos Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. A ligação com a linha ferroviária da MRS está em fase de conclusão.
O centro logístico está em um terreno de, aproximadamente, 500 mil metros quadrados, e um dos módulos desse empreendimento, de 13 mil metros quadrados, já entrou em operação em agosto, com a movimentação de chapas e bobinas de aço da Usiminas, que usará esse módulo para armazenagem de sua carga com rumo ao porto de Santos.
“Temos um plano diretor para a construção de terminais intermodais para compartilhamento de cargas em área de 120 mil metros quadrados”, diz Veloso. Segundo ele, o centro intermodal desenvolverá variados tipos de serviços, que podem ser desde a armazenagem simplesmente até mesmo a montagem industrial de produtos que se destinam ao abastecimento do mercado internacional, utilizando o fluxo de transporte rodoferroviário dirigido ao porto de Santos.
A expectativa é de que o centro logístico intermodal movimente cerca de 60 mil toneladas por mês até dezembro deste ano, e chegue até 80 mil toneladas ainda no primeiro semestre de 2011.
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