Facchini

Rodovia dos Imigrantes precisa de socorro

Transitar na Rodovia dos Imigrantes (MT-407) hoje pode custar ao motorista um pneu, uma mola, um chassi ou até uma vida. Além de uma das mais movimentadas, a rodovia aparece com frequência em notícias de tragédias automobilísticas. Quem vive e trabalha no local aponta que grande parte dos acidentes tem sido causada por falhas na pista, sem sinalização, castigada pelo peso das carretas, por buracos e descaso do Estado, que sequer planeja recuperá-la.
A reportagem percorreu o trecho comentado como dos mais críticos da rodovia, entre o Trevo do Lagarto (Várzea Grande) e o bairro Jardim Industriário (Cuiabá). Não se leva muito tempo para entender porque a via tem causado tanto transtorno. No chão, mal se percebe demarcação das pistas e o acostamento não acompanha toda a extensão. Mas o problema mais sentido é a irregularidade do asfalto. Nos trechos em que ele não está esburacado, está ondulado pelos pneus de carretas com cargas de peso irregular. Algumas ondulações são tão altas que as “cristas” dão impressão de que vão encostar no peito de aço, caso se esteja num carro de passeio.
O mecânico Fábio Marques de Araújo, 28, já se cansou de ouvir queixas de caminhoneiros que, por problemas da pista, têm de recorrer aos seus serviços. A pista ruim da Imigrantes é implacável: quebra mola, molejo, eixo, roda, balança, estirante, pára-lama, chassi e qualquer outra peça que a trepidação atinja.
E se uma carreta sofre com tudo isso, um veículo pequeno praticamente não tem vez. “É ruim para eles, mas bom para nós”, comenta Fábio, que está até contratando mais funcionário para atender à demanda crescente.
São casos como o do caminhoneiro Paulo Honório Gaspar, 39, que inflam os negócios de Fábio. A reportagem mal tinha acabado de conversar com o mecânico quando Paulo arrebentou o chassi de sua Scania após “cair” numa cratera. A soldagem custou atraso na entrega da carga e uma conta de pelo menos R$ 3 mil ao chefe dele, na estrada desde os 14, há dez anos esperando asfalto decente e duplicação na Imigrantes.
Em outros casos, o prejuízo quase vai além das peças de um veículo. Por pelo menos três vezes nos últimos cinco anos o caminhoneiro Gerson Pereira da Costa, 39, viveu a tensão de quase bater de frente com outro caminhão, especialmente na ponte sobre o rio Cuiabá.
Ele diz que há anos ocorre ali o mesmo problema de quase toda a extensão: na tentativa de escapar das crateras ou das ondulações provocadas pelas próprias cargas no asfalto precário, os caminhoneiros acabam se desviando para a outra pista, nem sempre em tempo de os motoristas no sentido contrário perceberem. “As pernas bambeiam tudo, o susto é bastante”, relata Gerson.
A Polícia Militar registrou, em 2009, 50 acidentes na Imigrantes (entre eles, nove abalroamentos, dois atropelamentos, duas capotagens e 21 colisões). Este ano, até agora foram 36 acidentes (entre eles, nove abalroamentos, duas capotagens e 16 colisões). Já o Samu não tem como filtrar dados locais porque seus registros não são digitalizados.

ESTRUTURA
Desgastada e na iminência de mais chuvas, a Rodovia dos Imigrantes não está nos planos de obras do governo estadual. Segundo o superintendente de Obras de Transporte da Secretaria de Infra-Estrutura, Orlando Monteiro, o orçamento atual não permite obras que não sejam paliativas na rodovia (construída há mais de 30 anos), como as operações tapa-buracos. Para Monteiro, um trabalho para solucionar em definitivo os problemas da rodovia – por onde passa desde a produção agrícola do Estado a equipamentos para a construção de uma hidrelétrica no Norte do país – consistiria quase numa “reconstrução”.
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