O caminhão de carga moderno é um investimento na casa dos milhões de reais, com alta tecnologia, monitoramento via satélite, em tempo real, e metas calculadas por engenheiros de produção e especialistas em logística. Tal investimento exige um profissional à altura, com conhecimento não apenas das regras de trânsito, mas das inúmeras ferramentas inseridas no veículo.
Responsáveis pelo transporte de 65% de toda a riqueza gerada no País, as empresas de carga rodoviária não conseguem encontrar motoristas qualificados para conduzir os caminhões delas. Em Maringá, a carência atual é de pelo menos 800 profissionais, segundo estimativa do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Maringá (Setcamar).
No Brasil, existe a necessidade urgente de contratação de 150 mil motoristas de caminhão de carga.
O Setcamar representa 1,8 mil empresas instaladas na região metropolitana de Maringá, o segundo polo de transporte rodoviário cargueiro do Paraná, com frota de 250 mil veículos. Para o superintendente do sindicato, Geasi Oliveira de Souza, a falta de qualificação é o gargalo do setor.
"Hoje é mais fácil comprar um caminhão do que encontrar um caminhoneiro qualificado", afirma. Ele explica que o transporte rodoviário passou muito tempo seguindo um modelo arcaico, que exigia pouco conhecimento do condutor.
Nos últimos oito anos, no entanto, o setor deu um salto tecnológico e a competitividade crescente fez com que as empresas exigissem o cumprimento de uma série de metas do motorista. "O motorista do passado não sabe ler um painel, não conhece a legislação de trânsito e não sabe como conduzir o veículo de maneira econômica", resume Souza.
O diretor de frota da ransportadora Tamoyo, Wilson Mendes dos Santos, declara que a falta de profissionais prejudicou a empresa durante o ano. "Cheguei a ficar seis meses com um veículo parado, porque não encontrava profissional", diz o executivo, que finalmente conseguiu completar o quadro funcional. Ele acredita que a mentalidade do motorista é um dos principais obstáculos para a contratação.
"A primeira coisa que a pessoa pergunta é quantos dias terá que ficar fora de casa", comenta. Ele ressalta que a existência de muitas empresas no setor favorece os motoristas sem comprometimento.
"Ele passa quatro meses em uma empresa, pede as contas e procura por outra, que tem necessidade de mão de obra e acaba o contratando", avalia. Sem confiança na qualidade do profissional, muitas empresas se recusam a entregar um capital de alto valor nas mãos de motoristas sem vínculos sólidos com a companhia.
Alto custo
Presidente da Transcocamar e do Setcamar, Afonso Shiozaki avalia que a formação profissional especializada é cara e não tem subsídio governamental. As transportadoras recolhem contribuição para o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat), mas a entidade carece de estrutura suficiente para oferecer treinamento para o motorista de carga. "Eles têm que recorrer a auto-escolas particulares, onde o curso completo custa entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil", alega. Em auto-escolas especializadas, que não são numerosas em Maringá, o motorista precisa cumprir determinado número de horas práticas na condução de caminhões leves, médios e grandes, simulando o transporte de cargas. "Precisamos de uma ajuda governamental, pois o curso é caro para o motorista", avalia.
A Transcocamar tem uma frota de 400 veículos e sofre com a falta de motoristas nos picos de safra. A empresa transporta cargas nos Estados do Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás.
Com o salário-base da categoria e comissões, o motorista pode ganhar cerca de R$ 3 mil mensais. As empresas de transporte de carga de Maringá contrataram 2.726 motoristas de caminhão para rotas regionais e internacionais, entre janeiro e outubro de 2010. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que o número de demitidos também foi alto: 2.198 pessoas.
REGISTRO
528 vagas é o saldo do emprego com carteira assinada no setor nos dez primeiros meses do ano R$ 962,17 é a média dos salários que consta na carteira de trabalho no ato da contratação.
FONTE: odiario.com