Durante boa parte dos anos 1990, o R 113 colecionava fãs pela interatividade peculiar que trazia sob o capô: quem se habilitasse, conseguia fazer algumas modificações no motor para dar ‘mais gás ao possante’. A potência até poderia ganhar o tal fôlego desejado, no entanto, o resultado cobrava o seu preço e, no final das contas, o consumo de combustível aumentava e a emissão de poluentes andava nas alturas. Mas quem se importava com isso em um tempo em que as exigências do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) apenas engatinhavam?
Sem preocupação com a questão ambiental, para muitos, o importante era sair por aí exibindo a sua máquina turbinada. “Mexer no motor era a grande atração”, comenta Celso Mendonça, gerente de engenharia de vendas da Scania no Brasil, que detalha melhor a história do 114. “Até 1997, era comercializado o modelo R 113, sendo que o ‘R’ indicava o tipo de cabine (avançada), o ‘11’, a capacidade volumétrica do motor (11 litros), e o ‘3’, a geração do caminhão (Série 3)”.
Em 1998, a Scania lançou a Série 4, apresentando o R 114, com duas opções de cavalagem, 320 e 360 cv, e com motor semelhante ao antecessor. “Como o 113 estava no auge da preferência, foi mantido o mesmo trem-de-força, com mudanças apenas no acoplamento da bomba injetora e no respiro do bloco do motor. Na família de 360 cv, o bico injetor, a tubulação e a regulagem de bomba eram diferentes também”, descreve o engenheiro. No novo veículo foram priorizadas as questões de ergonomia e facilidade de manutenção. “Embora muitos usuários Scania identifiquem esse motor como ‘velho conhecido’, vários aprimoramentos trouxeram melhoria de desempenho e confiabilidade”, informava a campanha de lançamento da empresa.
Naquele mesmo ano, o mercado brasileiro conheceu mais um modelo integrante da Série 4, o R 124, com motor de 12 litros que atingia até 360 cv. Provavelmente, esse lançamento quase simultâneo entre os caminhões 114 e 124 tenha causado a confusão entre os menos avisados. Mais uma opção da marca sueca começou a circular no Brasil em 1999: o R 114 de 330 cv. Em 2004, chegaram mais duas opções de potência: 380 cv e a 340 cv, este com motor eletrônico.
Atualmente, esse modelo R 114 de 340 cv ainda está em produção, mas com novo nome e roupagem: é o P 340 Evolução.
Segundo informações divulgadas pela fabricante, esse caminhão suporta até 56 toneladas e foi desenvolvido para o transporte de grãos, líquidos e cargas fracionadas, com tanque, baú e sider. Celso Mendonça garante que o P 340 conserva as mesmas qualidades do R 114, porém, vale lembrar que ganhou todas as melhorias tecnológicas e modernizações inseridas nos modelos mais recentes. Na última edição da Fenatran, em outubro passado, o P 340 esteve entre os destaques da Scania, exibido com motor eletrônico DC 11 03 340, caixa de câmbio de 16 marchas sincronizadas, cabine leito teto baixo, freio auxiliar retarder como opcional e possibilidade de ser adquirido na versão plataforma. Em 2009, o modelo esteve entre os mais vendidos da marca no Brasil. Ele pertence à nova série de pesados Scania, aclamada mundialmente como “Caminhão do Ano 2010’.
Fóruns e comunidades em redes sociais analisam as vantagens e desvantagens do R 114. Não se chega a um consenso, obviamente, mas pelo menos o caminhão ganha adjetivos positivos para os seus atributos mecânicos e a marca é vista com força pela sua experiência de mercado e pelo número de concessionárias. Entretanto, o que mancha a imagem desse modelo da Scania é a sua fama ‘de comer poeira na serra’.
O fraco desempenho nas subidas também foi comentado na revenda JC Caminhões, de São Bernardo do Campo, SP, que indicou o modelo R 124, com caçamba implementada, para o transporte de tijolo e areia. Por outro lado, o vendedor assegurou que o 114 é o que apresenta melhor mecânica.
A manutenção barata foi o item que o vendedor da Nova Era Caminhões, também localizada em São Bernardo do Campo, citou com mais frequência para descrever as vantagens do R 114.
Em outra loja, a Gino’s Caminhões, localizada no bairro do Ipiranga, na capital paulista, o velho R 114 anunciado na internet já havia sido vendido. No entanto, o vendedor explica que tem versões similares da marca, apenas com opções diferentes de cabine e cavalagem.
Na revenda São João Caminhão, de São João da Boa Vista, no interior paulista, o caminhão recebe elogios em relação ao seu desempenho no asfalto. Por não ter o modelo em estoque, o vendedor indica o R 124, informando que se trata do mesmo veículo, porém, com melhor potência.
Sabendo se tratarem de veículos diferentes, na Marcelo Caminhões, revenda com filiais na capital paulista, em Campinas e em Sumaré, estas últimas no interior de São Paulo, o vendedor ressalta que, dependendo do serviço que o veículo vai fazer, pode-se optar pelo modelo de 330 ou 360 cv. No entanto, adverte que, para o uso com caçamba, o R 114 é fraco e tende a patinar, por isso não recomenda sobrecarregá-lo além das 27 ou 30 toneladas que ele consegue puxar.
Essa recomendação do vendedor é justamente o mesmo ponto chave escolhido por Celso Mendonça, da Scania, para explicar o desempenho do caminhão em terrenos com aclives, avisando que não se deve sobrecarregar o veículo além daquilo que ele foi projetado para suportar. “Quando o veículo fica mais lento é porque o utilizam para aplicação errada ou com implemento incorreto. Porque subir, ele sobe, sim”, garante.
Velhos amigos
Mesmo tendo passado mais de uma década desde o lançamento da primeira geração do R 114, a Scania assegura ainda se preocupar com os clientes, investindo cada vez mais no serviço de pós-venda e assistência aos modelos de caminhões mais antigos da marca. Um dos exemplos é o programa ‘Boas Notícias para Velhos Amigos’, com foco nos veículos das décadas de 1980 e 1990.
Sidney Basso, diretor de vendas de serviços da Scania no Brasil, salienta que o dono de um caminhão R 114, ano 1998, encontra tudo o que precisa em uma Casa Scania. “Todo um sortimento de peças e uma equipe treinada estão à disposição desses clientes. Durante 2009, o atendimento a esse tipo de caminhão representou 20% do total do faturamento de peças da Scania”. O executivo ressalta que a rede concessionária da marca ainda tem condições de servir até mesmo veículos que já saíram de linha.”Há um consenso nacional no mercado de peças de que o tempo para se manter um estoque seria de até 10 anos, mas a Scania possui provisão para atender a todos os modelos fabricados no Brasil, desde 1957. Ainda hoje, há itens exclusivos daqueles primeiros caminhões estocados no armazém central da Scania disponíveis para eventuais pedidos”.
O que há de semelhante no mercado
Para Celso Mendonça, a primeira geração do R 114, lançado em 1998, tinha como concorrentes no mercado brasileiro o modelo 1935, da Mercedes-Benz, e o NL 12, da Volvo.
O caminhão da Mercedes equipa motor MB OM-926 LA, com gerenciamento eletrônico, 6 cilindros em linha, turbocooler, potência de 326 cv a 2 200 rpm e torque de 127 mkgf de 1 400 a 1 600 rpm. A transmissão, a MB G 211-16, de 16 marchas sincronizadas. O modelo possui 3 600 mm de distância entre-eixos, peso bruto total de 18,6 t e capacidade máxima de tração de 47 t.
Há três opções de cabine: estendida, leito teto baixo ou teto alto.
O Volvo NL 12 foi lançado em 1989 e está disponível em versão cavalo-mecânico e plataforma, com tração 4x2 e 6x4. Equipado com o motor D10 A, e transmissão manual KFD 117 D de 8 marchas, o modelo 4x2
atinge 235 cv a 2 050 rpm e torque de 138 mkgf a 1 200 rpm. A capacidade máxima de tração é de 57 t. O modelo foi produzido até 2006, quando a fabricante apresentou a renovação da linha FH/ FM.
FONTE: Revista Transporte Mundial