Os caminhoneiros estão invadindo as avenidas Fernando Corrêa da Costa e Beira Rio, em Cuiabá, para fugir dos postos de fiscalização instalados na Rodovia dos Imigrantes. Eles entram na cidade para esconder o sobrepeso da carga, trazendo uma série de problemas para o trânsito. Os veículos obstruem as ruas estreitas da Capital, ampliando os congestionamentos e comprometendo o pavimento, que está velho e não foi projetado para suportar bitrens. Em apenas 1 minuto a reportagem contou 17 caminhões que transportavam produtos frigoríficos, gado e grãos, na Fernando Corrêa da Costa, perto da rotatória de acesso ao bairro Parque Cuiabá.
Existe uma lei, que foi aprovada em janeiro do ano passado pela prefeitura, que limita o tráfego de caminhões na área urbana. Entretanto, as regras não foram implantadas por falta de sinalização e regulamentação. As atribuições são da Secretaria de Trânsito e Transportes Urbanos (SMTU).
O caminhoneiro Sebastião Geraldo Ferreira, 57, estava parado na fiscalização da Secretaria de Transporte e Pavimentação Urbana (Setpu) por estar com carga acima do permitido pela legislação. Ele diz que passa pelo local 1 vez por semana, há 18 anos, e prefere usar a rodovia a entrar na cidade.
Conforme o profissional, muitos optam por usar as vias urbanas para fugir da fiscalização. Na maioria das vezes, conseguem "driblar" os fiscais. Acontece, que quando são surpreendidos para Polícia Militar (PM), já são abordados como suspeitos de infração.
Os policiais têm conhecimento da ação, comum entre os profissionais do transporte, o que causa prejuízos no tempo de viagem, esclarece Ferreira. "A alternativa vira dor de cabeça".
Como a carência na fiscalização, tanto da PM, como dos agentes do SMTU, os carreteiros optam por arriscar. Eles entram na cidade pela avenida Palmiro Paes de Barros. Depois, seguem pela Fernando Corrêa da Costa, Beira Rio, bairro do Porto, Várzea Grande e retomam a rodovia.
O desempregado Valdevino Fontana, 51, afirma que os caminhões deixam o trânsito ainda mais precário. Atualmente, na visão dele, as ruas são estreitas e os buracos tomam conta do asfalto. Os congestionamentos são constantes e o tamanho dos caminhões, dificulta a manobra e deixa o tráfego muito lento, contribuindo para os congestionamentos, comuns em horários de pico.
O vendedor ambulante Délcio Borim, 40, trabalha há 18 anos nas margens da Fernando Corrêa da Costa, e diz que os motoristas alegam que a rota "alternativa" é viável devido aos inúmeros buracos da Rodovia dos Imigrantes. Ele assegura que o tráfego é intenso, principalmente pela manhã e após às 18h.
Fiscalização
A fiscalização é deficiente no posto da Polícia Rodoviária Estadual (PRE). Apenas 2 PMs ficam de plantão junto com um grupo de fiscais volantes, que tem 3 servidores.
A estrutura não conta com balança e o volume de carga é conferido com base na nota fiscal. Mesmo que houvesse o equipamento, não seria possível instalar no local, já que o pátio foi tomado pelos buracos e nem sequer a tampa dos bueiros resistiu a falta de manutenção.
Conforme os fiscais, não há condições técnicas e nem espaço para parar todas as carretas, então o trabalho é feito por amostragem. Todos os dias, cerca de mil caminhões com carga passam pelo local, sendo que 135 são parados, o que representa pouco mais de 10% do total.
Infraestrutura
Os motoristas que usam a Rodovia dos Imigrantes reclamam da falta de estrutura, que pode ser vista nos 27 km da via. O percurso é feito em aproximadamente 1 hora e é muito arriscado porque os motoristas invadem a pista oposta para fugir dos buracos.
Muitas já amargaram prejuízos. Entre eles está José Evair Rodrigues, 37, que está parado em uma oficina. Ele conta que o cambio do caminhão quebrou após passar por um buraco e o conserto ficou orçado em R$ 6 mil, além da perda de alguns dias de viagem.
No frete, o profissional vai pagar para trabalhar, pois o valor do serviço de transporte não cobre o custo de manutenção. A carreta está carregada com madeira e saiu de Sinop (500 km ao norte de Cuiabá), com destino a São Paulo.
Rodrigues relata que a nota fiscal da mercadoria vai vencer e ele precisará tirar outra para seguir viagem. O documento tem validade para 5 dias, a partir da saída do fornecedor.
Como anda por todo o Brasil, ele avalia com segurança que Mato Grosso tem as piores estradas do país.
Lucro
Enquanto uns perdem com a falta de estrutura, outros faturam. Na margem da rodovia várias borracharias e oficinas mecânicas estão instaladas para atender a demanda.
O borracheiro Aparecido Lino da Cruz, 37, diz que apenas no estabelecimento onde trabalha, a média de atendimento é de 6 veículos por dia. A maior parte chega com o pneu sem condições de remendo e precisa fazer a substituição.
Cada pneu novo, custa aproximadamente R$ 1,2 mil. Caso o caminhoneiro recorra a um reformado, o valor cai para R$ 800.
Cruz conta que as reclamações são muitas com relação a estrada, principalmente no trecho próximo da ponte sobre o rio Cuiabá.
No local, o mato ocupou a área de passagem de pedestres e há buracos e rachaduras no pavimento. Filas, como mais de 20 caminhões, esperam para passar. A falta de limpeza também prejudica a visibilidade das poucas placas que não foram danificadas pelo tempo. As faixas, pintadas no pavimento, são praticamente invisíveis e o motorista precisa dirigir no "rumo".
Outro lado
A SMTU informou, por meio da assessoria de imprensa, que a lei não foi implantada devido as exigências das empresas que utilizam o transporte de caminhões dentro da cidade. Os empresários fizeram uma proposta de alterações, que será discutida amanhã com técnicos do SMTU. Conforme a assessoria, o secretário Edivá Alves vai falar sobre o assunto após o encontro.
Quando ao uso da área central como desvio por caminhoneiros infratores, a SMTU vai encaminhar técnicos até o local para verificar a situação.
Estado
A Setpu informou, por meio da assessoria de imprensa, que uma equipe de tapa buraco está no local para fazer o serviço emergencial. O órgão também acrescenta que há uma previsão para reconstrução da rodovia. A obra está prevista para o próximo mês.
A reportagem procurou por telefone a Associação das Empresas Transportadoras de Cargas para falar sobre o assunto, mas os membros da diretoria não atenderam às ligações até o fechamento desta edição (às 18 horas).
FONTE: Gazeta Online