A colheita da soja está começando no Maranhão e no Piauí. As estradas voltam a atrapalhar a vida de agricultores e motoristas.
No Piauí, a expectativa é de uma safra de soja que pode chegar a 1,2 milhão de toneladas este ano. Houve um aumento de 34% em relação à safra passada. O que preocupa os agricultores é que não há boas estradas na região para escoar a safra recorde.
Neste período, um dos depósitos da região de Uruçuí, no Piauí, era para estar cheio de soja. Mas os agricultores estão tentando retardar o máximo a colheita porque estão encontrando dificuldades para contratar caminhoneiros que queiram fazer o transporte do produto.
“A gente está muito preocupado. Está começando a safra e a gente não tem como escoar a produção”, disse Clovis Peters, gerente da fazenda.
Na rodovia que liga os municípios de Bertolínia e Uruçuí apenas 18 quilômetros estão sem asfalto. Mas é o suficiente para prejudicar o transporte da soja.
O caminhoneiro José Silva foi obrigado a abandonar parte da carga no meio da estrada, o que impediu a passagem de outros veículos. “Tive que desengatar uma aqui no morro, correndo o risco de deixar a carga cair no chão e estragar o bem do patrão”, disse.
Quem tentou desviar do obstáculo esbarrou em outro pior. “Vamos ver o fazendeiro plantar a soja dele e deixar na lavoura para ver se puxa, para ver se ela sai sozinha e vai para o porto, não for nós para puxar”, sugeriu o motorista Ronilson Pereira.
No Maranhão, os agricultores plantaram este ano 553 mil hectares de soja. São 10% a mais que no ano passado. O tempo bom fez a produtividade crescer e o resultado é uma safra recorde. São 23% mais do que a do ano passado. Tudo seria comemoração não fossem as péssimas condições das estradas.
Uma das principais vias de escoamento da região é a MA-140, uma rodovia estadual que liga os municípios de Porto Cordeiro a Balsas.
Os agricultores dos Gerais de Balsas colherão este ano 400 mil toneladas de soja. Para que a produção não se perca no campo, eles estão sendo obrigados a recuperar a estradas em um trabalho que envolve até mesmo a construção de pontes.
O agricultor Jorge Martelli é dono de 400 hectares de soja. Ele teve que fazer uma ponte na MA-140 para sair do isolamento. "A gente não tem armazém para guardar. Para quem tem, tudo bem. Então, a gente tem que ajeitar e se sujeitar a arrumar para não perder a lavoura com a chuva, com o tempo”, justificou.
Tratores agrícolas estão sendo empregados na pavimentação de um trecho da estrada. Cinco vizinhos se juntaram, cederam máquinas e combustível. O agricultor Lenoir Martelli interrompeu a colheita para tocar a obra.
"Poderia está fazendo outras coisas, como material da fazenda, e produzindo no campo, mas a gente está tendo gasto em estrada. E lá na lavoura já estaria no tempo de estar com as máquinas em serviço”, reclamou Lenoir Martelli.
A estrada cheia de lama é um dos caminhos que a soja percorre até o município de Balsas. Depois, os caminhões seguem pela BR-230 até Porto Franco, onde os grãos são embarcados nos trens da ferrovia norte-sul, que vai até o porto de Itaqui, perto de São Luís.
Na BR-230, que é federal, o asfalto desapareceu em muitos trechos e os acidentes são cada vez mais comuns. Em um dos pontos, a terra cedeu e o caminhão carregado com 50 toneladas de soja tombou.
Quinhentos metros adiante houve outro acidente e mais um caminhão ficou tombado na estrada. Os motoristas têm problemas mesmo nos trechos asfaltados. "Pega muita pedra, atoleiro, água e pedra. Daí danifica os pneus”, disse o caminhoneiro Luiz Silveira.
O agricultor Airto Zamingnan disse que paga R$ 128,00 de frete para embarcar uma tonelada de soja no navio. Com rodovias melhores, ele disse que o frete seria 40%.
"A nível de fazenda a gente consegue ter hoje no Maranhão uma produtividade igual ou até maior que a americana. O clima do Maranhão é excepcionalmente bom e o solo é bom, só que infelizmente a gente vai ter que concorrer com os produtores americanos com uma estrada igual a essa que a gente transita”, lamentou Zamingnan.
O governo federal admite problemas na manutenção das estradas até pouco tempo atrás, mas disse que isso vai mudar. “As obras antigas eram verdadeiros tapa-buracos. Isso deveria ser até 2006 ou 2007. A partir de 2008, com a aprovação de um novo Programa Nacional De Manutenção Rodoviária as obras são muito mais consistentes. Já se amplia na base, já se mexe no acostamento, coloca uma camada de concreto bem mais consistente. Enfim, as obras reestruturam a malha rodoviária federal. É exatamente dessa maneira que nós estamos trabalhando nesse momento”, explicou Luis Antonio Pagot, diretor do DNIT.
O Ministério dos Transportes promete fazer a recuperação dos trechos mais críticos da BR-230, no Maranhão, até fevereiro do ano que vem.
FONTE: G1