Facchini

São Paulo está parando

A afirmação do título não é um exagero. A cidade de São Paulo, a maior do Brasil e uma das mais populosas de todo o planeta, está, realmente, parando. O trânsito da cidade, que é largamente comentado e citado como um dos piores de todo o globo, está fazendo com que a mobilidade urbana de São Paulo agonize e tenha prognósticos pessimistas para um curto prazo.
No lado da solução, a prefeitura apertou o cerco para os caminhões, eleitos pela administração e pela opinião pública como os malfeitores do trânsito da cidade, criando restrições e proibições para os veículos de cargas, o que dificultou as operações, aumentou o custo do transporte de cargas na cidade, mas não solucionou o problema.
Prova disso são os sucessivos recordes de congestionamento por que passa a cidade desde que os caminhões foram proibidos de circular em vias como a Avenida dos Bandeirantes e a Marginal Pinheiros. Basta chover mais forte em São Paulo para que o trânsito trave. Prova disso foi o recorde de congestionamento alcançado na manhã de 4 de abril, quando a cidade registrou lentidão de 157 km às 9 horas da manhã. O recorde anterior era de 14 de março, quando o registro foi de 143 km de filas.

Mas, se os caminhões foram tirados das principais vias, por que os congestionamentos persistem? Por que em vias em que os veículos de carga são proibidos, como as Avenidas 23 de Maio e Bandeirantes o trânsito é tão caótico?
A resposta está na frota circulante na cidade de São Paulo. Dados do Detran paulista mostram que somente na capital estão registrados 7.012.795 veículos. Destes, mais de 5 milhões são carros de passeio. O viário urbano não está preparado para tantos carros. Simplesmente não há espaço.
“São Paulo já está parando. Estas medidas das restrições até ajudaram, mas são medidas paliativas. É preciso tomar medidas mais rigorosas e firmes em relação ao transporte coletivo. A cidade está parando. Em dois ou três anos teremos dificuldades seriíssimas de circulação. Algumas medidas têm que ser tomadas. A primeira coisa é investir em transporte coletivo com urgência”, comenta o empresário Antonio Arcilha, diretor da Argius Transportes e especialista em logística urbana.


Para Archilha, que é profundo conhecedor do assunto, a prefeitura quer jogar nas costas do transporte de cargas a responsabilidade pelos congestionamentos, colocando o caminhão como vilão do trânsito. “As empresas de transporte foram sacrificadas com as restrições, a proibição do VUC, o rodízio das placas par e ímpar e tantas outras proibições. Uma cidade que hoje emplaca cerca de 1000 veículos por dia, por volta de 20 mil por mês e 240 mil por ano e que tem um espaço viário que não cresce nesta proporção, não pode colocar o caminhão como vilão do trânsito. Esta responsabilidade está recaindo sobre os ombros do transporte de cargas”, diz o empresário.
Alguns especialistas determinaram o ano de 2012 como a data limite para o trânsito de São Paulo parar. Este é um problema crônico que deve ser enfrentado de forma aberta e inteligente pelas autoridades competentes. Se fosse só isso, o transporte no Brasil poderia dormir sossegado. Estamos falando de um problema pontual, que se concentra em apenas uma das milhares de cidades brasileiras. E as rodovias esburacadas? E os portos trabalhando no limite? E os aeroportos?
Dessa forma, fica difícil imaginar uma Copa do Mundo ou Jogos Olímpicos no Brasil. Fica a reflexão. Acompanhe este debate aqui no Portal Transporta Brasil.
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