Facchini

Transporte rodoviário não é de todo mal

O modal rodoviário é constantemente criticado por ser o mais poluente e o mais oneroso, contudo o escoamento da produção brasileira é feito majoritariamente por caminhões, aproximadamente 58%; se for considerado ainda o transporte de minério de ferro, que é feito predominantemente por ferrovia, esta porcentagem pode chegar a 88%. Entretanto, apesar dos pontos negativos, não haverá nenhuma vantagem na utilização das rodovias para o transporte de mercadorias?
Ricardo Melchiori, diretor de Operações da CEVA Ground e coordenador da Câmara Técnica de Operadores Logísticos NTC & Logística, explica que em alguns casos o modal rodoviário pode ser o mais vantajoso.
Mesmo ressaltando os aspectos positivos deste meio de transporte, o executivo relembra que a predominância desse no País não foi algo natural. “Nós acabamos sendo induzidos para o uso das rodovias”, analisa. Ainda de acordo com o especialista, a predominância por este tipo de transporte foi devido ao baixo custo e rapidez na construção de estradas, o que foi determinante nas décadas de 1960, 1970 e 1980, período de grande inflação.
O primeiro aspecto positivo que Melchiori levanta é a rapidez do escoamento na utilização de caminhões para trajetos curtos em comparação à ferrovia e ao aquaviário. Somado a isso, o transporte feito pelas rodovias não precisa de transbordo intermediário. “Por não ter essa necessidade, a embalagem acaba sendo mais leve, mas simples e, consequentemente, mais barata”, explicou o executivo.
O especialista também refuta a argumentação de que o modal rodoviário seja sempre o mais caro. Segundo ele, em até 400 quilômetros a utilização de caminhões é mais econômica que a de trens, e que em até 800 quilômetros é mais vantajoso financeiramente fazer o escoamento por rodovias do que por hidrovias.
Outro ponto favorável ao transporte sobre rodas é o atendimento a necessidades específicas. Portos e ferrovias têm horário de atendimento estipulado, enquanto os caminhões podem atender de acordo com a disponibilidade do seu cliente. Além disso, o escoamento por trens e embarcações só passa a ser interessante a partir de um grande volume, enquanto os veículos podem atender a uma demanda menor.
O Brasil ainda possui uma defasagem nos outros modais em termos de indústria, enquanto um grande volume de caminhões e componentes são fabricados no Brasil, muitas embarcações são feitas em estaleiros no exterior e há apenas uma fábrica de locomotiva no País, na cidade mineira de Contagem, pertencente a GE. “O grande problema desses modais é que dependem muito da importação”, argumentou Melchiori.

Melhorias para o modal
No entanto, o executivo revela que a falta de infraestrutura é o grande problema no setor. A defasagem, segundo ele, é tanto pública - estradas ruins e falta de integração entre os diferentes tipos de vias - quanto privada, falta de capacidade de armazenamento e escoamento.
Para Melchiori, uma possível solução ao problema de infraestrutura privada, uma vez que muitos produtores alegam falta de condições para ampliá-la, é a extensão do horário de carga e descarga. “Se não há como aumentar o espaço físico que se estenda o tempo de serviço”. Uma das opções seria o frete noturno, que além de ampliar o horário de escoamento da produção, também desafogaria o trânsito em muitas cidades.
O executivo ainda bate na tecla da importância de se investir na intermodalidade e lembra das longas filas de espera para fazer o descarregamento em portos e ferrovias, que geram prejuízo ao transportador. Outro aspecto que Melchiori levanta é a necessidade do planejamento para acabar com o frete morto – quando um caminhão descarrega e faz longos trajetos vazio – de acordo com ele, isto torna o transporte rodoviário menos econômico.
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