Facchini

Radares controlarão deus-nos-acuda da BR-040 (MG)


O equipamento imporá o controle da velocidade nos dois sentidos da BR-040, trecho Belo Horizonte – Ewbank da Câmara (km 759), na Zona da Mata. Do total, 24 ‘multadores prontos para agir’ ficam entre a capital e Conselheiro Lafaiete (km 631,5). Ao produzir a notícia, a repórter Joana Suarez, do jornal O Tempo, da capital, não disfarçou sua rejeição ao controle da velocidade nas vias, quando diz: “… os pardais têm funcionado como uma espécie de armadilha”.  Para o leitor que se horroriza com o morticínio das
estradas brasileiras, chegou a surpreender não constar do texto qualquer referência ao batido bordão ‘indústria da multa’. Joana condena a fixação de “aparelhos escondidos atrás de árvores, que são risco para motoristas”. A crônica falta de fiscalização na malha é tão patente que os condutores não aliviam o pé quando vêem a placa de 60 km/h. Dirigem sua imediata atenção para eventual câmera a 300 metros. Preferem segurar em cima dos mínimos segundos de passagem das rodas sobre os sensores no piso.  “No caso da BR-040, só com a ajuda de um passageiro atento, o motorista consegue identificar alguns dos aparelhos sem que antes tenha de frear bruscamente”, reclama a repórter. Em parte, ela tem razão. As freadas são frequentes, provando que a sinalização vertical prévia não foi considerada. Pra quê?
Correria sem consciência é o jeito de trabalhar de caminhões de todos os portes e dane-se o tacógrafo! Para J. Pedro Correa, especialista em segurança no trânsito e autor do denso livro ’20 anos de Lições de Trânsito – Desafios e Conquistas do Trânsito Brasileiro de 1987 a 2007’, o país perdeu “a oportunidade de ouro de desenvolver a cultura da baixa velocidade”. Ele estaria se referindo aos passados 292 radares fotográficos móveis, contratados pelo extinto DNER, entre 2000 e 2001 e dispostos atrás das moitas ao longo de 55 mil quilômetros da malha viária federal. A grita contrária foi desproporcional e com a vitória da desastrada atuação dos incomodados, muitas vidas se perderam e uma nova ordem no trânsito ficou adiada. No entanto, pelo percebido, ela terá de prosperar, porque as evidências têm o peso de um bitrem com excesso.  Em julho, mês de férias, os acidentes de outra matadeira, a BR-381 (leste), provocaram uma única morte. Não cabem comemorações. Apenas registro e chamada de atenção já que a informação oficial partiu do inspetor Aristides Amaral Júnior, da PRF (Polícia Rodoviária Federal) local, anotada por Helena Costa, assessora de imprensa do Setcemg e Fetcemg, entidades patronais classistas do TRC em Minas.
O inspetor Júnior atribui a redução drástica no número de mortes “à colocação de radares e alertas nos trechos mais perigosos”. Estranhamente, como observou Helena “nenhum jornal deu destaque a essa informação durante a semana”. O silêncio é suspeito e pode ser explicado pelo receio de ter de defender o que sempre foi visto como ponta de lança da rejeitada cultura da baixa velocidade, imposta pelos ‘pardais’. Mas penosas aflições açoitam os usuários das estradas e caminham para mudanças. Têm a ver com a saturação do tráfego. Para uma rápida tomada de dimensão, sem falar em automóveis, vale registrar que o mercado totalizará mais meio milhão de caminhões novos, a contar de 2008. A unidade 500 mil sairá de alguma fábrica nas próximas semanas, enquanto as vias cresceram apenas um tico. Se tanto. Devido à precária rodabilidade em pista cheia e desembestada, a rejeição aos radares perde força.

1.400 REGISTROS 
Júlio César, de Blumenau, toca seu Scania 112 entre a Bahia e o interior de São Paulo. Ele aprova os ‘pardais’, mas repete a voz geral: “O medidor de velocidade deve ficar bem visível” e acha que o pórtico é o recomendado “quando numa via troncal a velocidade máxima permitida cai de 100 km/h para 60 km/h em poucos metros”, como é o caso da BR-040, no km 588. Já a comerciante Lucélia Maria da Silva, dona do restaurante e lanchonete da Celinha, adianta que os radares fixados na sua porta são provisórios. Como se sabe e muito se espera, naquele ponto (km 588), um curto trecho será duplicado para ‘humanizar’ a esquinada curva do ribeirão do Eixo, metros abaixo. A obra faz parte dos melhoramentos segmentados da via, numa extensão de 120 quilômetros, que na opinião de um montão de críticos, não passam de ‘puxadinhos’, quando toda estrada deveria ser duplicada até Juiz de Fora.
“Ao reduzir a velocidade no local, meu estabelecimento ganhou visibilidade”, comenta Celinha, enquanto diminuíram os acidentes na curva fechada: “Eram batidas, capotamentos de três em três dias, que pararam”. Como testemunha 24 horas naquele ponto, a comerciante observa que “as freadas se repetem, porque há sempre quem se assuste quando vê o ‘pardal’ meio escondido atrás da árvore”. Os técnicos que fazem manutenção no equipamento revelaram à Celinha que as medições em fase de testes totalizam cerca de 1.400 registros de excessos por semana. O motorista profissional Francisco Anatólio trabalha com uma carreta-caçamba Volvo NH, da empresa São Geraldo, de Congonhas.  Seu apelido é Mosquito, já completou 30 anos de volante e aprova a ‘radarização’ da BR-040. No entanto, alerta que os registradores estão mal sinalizados. “O DNIT precisa colocar várias faixas avisando para a presença da novidade na pista”. Abel Monção tem o seu MB 710 próprio e está com 10 anos de boleia. Ele concorda que “o pessoal respeita o radar”. Na sua opinião, “em via que tem ‘pardais’, há menos correria”. Abel trabalha como agregado do atacadista Zamboni, situado de frente para a Rio-Bahia (BR-116), em Além Paraíba (MG).
FONTE: Carga Pesada
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