Os R$ 27,8 milhões desviados, segundo a Controladoria Geral da União (CGU), das verbas do Dnit-Ceará para os bolsos de engenheiros, amantes, servidores e outros acusados fazem falta nas rodovias federais que cortam o estado cearense. Principalmente na BR-222, onde há trechos perigosos para os viajantes. No caminho de Fortaleza a Sobral, quem decide pegar a estrada arrisca a própria vida e a dos outros.
A maior parte da BR-222 poderia compor o cenário de um filme de suspense ou catástrofe. Como as obras foram interrompidas depois que Polícia Federal e CGU descobriram a roubalheira, a sensação ao longo da rodovia é de abandono.
Após a Operação Mão Dupla, em agosto do ano passado, restaram canteiros de obras “mortos”, máquinas paradas, placas indicando trabalhadores que não existem, desvios que não foram feitos, acostamentos destruídos e alertas de tráfego perigoso sem que haja trânsito.
É que os motoristas, prejudicados pelo estado lastimável da pista e temendo acidentes, desviaram caminhões, ônibus, carros de passeio, paus-de-arara e motos para um itinerário que atravessa o município de Itapipoca. Uma rota que aumentou em mais ou menos 80 quilômetros o percurso de quem vai para Sobral.
Os desavisados ou os que se arriscam enfrentar a BR-222 se arrependem no caminho. O que parece ruim piora ainda mais a cada quilômetro percorrido. Após encarar um zigue-zague cansativo em toda a extensão que corta Itapajé, o motorista não imagina o que o aguarda na vizinha Irauçuba.
Foi o que aconteceu com um caminhoneiro que, por sorte, não morreu e foi obrigado a abandonar seu truncado no km 183. O enorme modelo Tractor da Volkswagen, placa JSM-9562 de Salvador (BA), derrapou e não virou por um triz na beira de uma baixada após o acostamento. Nesse trecho, e em mais 54 quilômetros da BR-222, entre Irauçuba e Forquilha, há um mar de areia e pedra miúda em vez do asfalto.
O POVO trafegou pelo km 183 no último dia 22, uma segunda-feira do mês passado. Segundo o menino Marcos Antônio, 13 anos, morador das redondezas de onde aconteceu o acidente, o caminhão deslizou na “piçarra” no início da noite do dia anterior , 21.
Por não ter iluminação pública no local e sinal de celular para acionar a Polícia Rodoviária Federal, o caminhoneiro improvisou duas lamparinas e colocou-as próximas à traseira do caminhão. Um sinal de fogo para outros motoristas atordoados com a cortina de poeira da rodovia. Pela manhã, foi atrás de socorro e largou a carga de cervejas na ribanceira da estrada.
O poeiral da 222 também atrapalha a rotina das 45 crianças da escola João Loreto de Sousa, situada em uma das margens da BR, perto do lugar onde o caminhão quase virou. De acordo com Maria Alves Duarte, coordenadora pedagógica, as alergias passaram a ser constante nos estudantes de três a nove anos.
Próximo dali, uma placa da construtora Delta informa que acertou com o Governo Federal o valor de R$ 70.299.722,50 para restaurar e reabilitar, em 360 dias (a partir de 2008), o trecho onde hoje não existe mais asfalto e não se sabe o que foi feito do dinheiro.
FONTE: O Povo online