Transportadores de grãos estão mandando instalar mais dois eixos em bitrens fabricados antes de 2006, transformando-os em perigosos bitrenzões de nove eixos curtos para 74 toneladas. É um “jeitinho” para enfrentar a cara exigência de cavalos 6×4 para puxar bitrens, que está em vigor desde janeiro deste ano. Mas o tiro pode sair pela culatra, tanto pelo risco de acidentes como pela suposta economia, pois essa prática pode derrubar o frete.
Com a resolução, desde janeiro deste ano, cavalo novo, para puxar bitrem de sete eixos, tem que ter tração 6×4 – o chamado “traçado”. Assim, o Contran quer, aos poucos, ir substituindo a imensa frota atual de cavalos 6×2 usada nos bitrens. Esses cavalos são acusados, principalmente, de sobrecarregar o asfalto, abrindo aquelas “valas” muito comuns de serem vistas nas subidas, mesmo em pavimento de qualidade.
Só que um cavalo 6×4 pode custar R$ 45 mil ou até mais que um 6×2. Para compensar o gasto extra, muitos transportadores de grãos estão mandando reformar carretas de bitrens fabricadas antes de 2006 para colocar mais um eixo em cada uma, transformando-as em bitrenzões de nove eixos com os mesmos 19,8 metros de comprimento de um bitrem comum.
Dessa forma, com um eixo a mais em cada carreta, o Peso Bruto Total Combinado (PBTC) passa para 74 toneladas, em vez das 57 toneladas do bitrem convencional. Um ganho de 30%! Ou seja: peso de bitrenzão ou rodotrem de 25 metros, só que concentrado nos 19,8 metros de um bitrem.
A artimanha tem outra vantagem: com uma única Autorização Especial de Trânsito (AET) por ano, esses bitrenzões com comprimento de bitrem podem rodar 24 horas todo dia (exceto nas estradas estaduais de São Paulo, onde o tráfego de qualquer bitrenzão é expressamente proibido). Já as composições de 25 metros só podem rodar de dia, fato que leva os transportadores de grãos a se desinteressarem por elas.
Por que só estão sendo reformadas as carretas de bitrens fabricadas antes de 2006? Porque a Resolução 211/2006 do Contran, que alterou o comprimento mínimo das composições de nove eixos (74 toneladas) de 19,8 metros para 25 metros, diz que “poderão circular, até o sucateamento, as Combinações de Veículos de Carga (CVCs) curtas registradas antes de fevereiro de 2006”.
Então é como se aquela carreta nova, de três eixos, que será usada para formar um bitrenzão, já nascesse velha e portanto dentro da lei, porque sua origem foi uma carreta de dois eixos, própria para bitrem, fabricada antes de 2006.
Em resumo: em vez de maior segurança no trânsito e benefícios ao pavimento, o que poderemos ter nas estradas no futuro é um sem-número de bitrens velhos transformados em perigosos bitrenzões curtos em oficinas independentes.
O fato é que, como dizem várias fontes ouvidas pela Carga Pesada, qualquer oficina está instalando eixos a mais nas carretas de bitrens, sem nenhuma garantia de que o “novo” implemento vai rodar com segurança.
Não se pode saber quantos bitrenzões de nove eixos e 19,8 metros estão chegando às rodovias, pois os órgãos de trânsito não têm controle sobre as composições completas. Eles dão registros separados para cada carreta.
No entanto, é possível dizer que o bitrem de sete eixos está perdendo a preferência dos transportadores. Na Randon, esses implementos representavam 60% das vendas de tanques até o ano passado; caíram para 22%. No segmento de grãos, o velho bitrem significava 57% das vendas; agora não passa de 11%. Na Guerra, 70% dos bitrens convencionais que eram vendidos antes, foram substituídos por implementos como o bitrenzão e a vanderleia, segundo o diretor comercial Luiz Mesquita.
A Carga Pesada procurou o Denatran para falar sobre o fenômeno da transformação de bitrens em bitrenzões. A informação é de que estão cientes do que anda acontecendo, mas só vão se pronunciar depois da conclusão de um estudo que está sendo realizado por uma câmara técnica.
FONTE: Carga Pesada