Facchini

Profissionalização do transporte rodoviário de cargas no Brasil


No histórico das melhores empresas de Transporte Rodoviário de Cargas genuinamente brasileiras, podemos comprovar que se originaram de outras atividades, alguém que tinha um comércio e comprou um caminhão, outras começaram da idéia do empreendedor individual que tinha um único veículo e passou a investir mais na atividade, perfil estritamente familiar.
Até mais ou menos a década de 90 o mercado de transportes funcionava num modelo diferente do atual, era comum presenciarmos frotas sem o mínimo de apresentação, o ambiente era muito desorganizado e o relacionamento entre profissionais e empresas era mantido mais à distância. Trabalhávamos num ambiente rústico, visto de forma distorcida da real condição que é esse negócio (de fácil apego - uma vez logística, sempre logística). O relacionamento com os clientes eram mais estreitos, substituídos por processos de contratação mais rigorosos na atualidade.
Os clientes também passaram a fazer BID para equalizar preços do mercado, forçando os prestadores a enxugarem suas planilhas e exigindo mais porque havia alguém que oferecia por menos com qualidade em nível aceitável.
A terceirização de frotas foi bem explorada na década de 90, as empresas que organizaram isso, tiveram êxito; salvo alguns poucos que operam cargas melhores, temos outros que não conseguem pagar as contas nem renovarem seus equipamentos, se é difícil para a contratante manter frotas, para os terceiros não há de ser diferente quando os equipamentos são os mesmos. 
Com a onda de fusões e aquisições a estruturação e expansão das transportadoras que conseguiram sobreviver foi muito sólida, mas em alguns perfis de operações correm o risco cada vez mais de se distanciarem dos clientes; como é o caso das operações em massa no transporte de contêineres, onde as transportadoras são contratadas dos armadores ou operadores logísticos, quando estes não ofertam diretamente o serviço. 
A melhor forma de expansão tem sido a compra de empresas menores, grandes grupos nacionais comprando empresas nacionais. 
Nas fusões temos exemplos de algumas que foram mal sucedidas, precipitadas ou não deixando uma posição clara junto aos clientes. 
Já nas aquisições compram a estrutura, a expertise e as contas dos clientes já ativos.  
Na atualidade fica difícil imaginarmos expansão sem grandes investimentos, em áreas estrategicamente bem localizadas, por conta da exploração imobiliária e saturação dos pontos de concentração de cargas; todos estão em busca de espaço para instalações e não acham. 
Os equipamentos de transportes de maneira geral nos 15-20 anos saltaram tecnologicamente desde o cavalo mecânico de ponta, substituto de máquinas obsoletas, barulhentas e rudes, hoje os equipamentos rodam até três vezes mais que os antigos, não são raros os casos em que atingem um milhão de quilômetros.
O caminhão se tornou recurso interativo entre a base de operações e o cliente, e dependendo da operação a ser aplicado um conjunto cavalo-trator mais semi-reboque e todo o aparato necessário para operacionalizá-lo está na casa de meio milhão ou bem próximo disso. 
A idade média da frota nacional melhorou, as empresas estão renovando em intervalos menores, possuem veículos com capacidade de pesos e dimensões maiores, e buscam sinergia entre tipos de cargas na busca por circuitos estáticos – parcerias entre empresas são cada vez mais freqüentes.
O nível profissional das pessoas nas transportadoras mudou bastante desde a implantação de Sistemas da Qualidade, grande diferencial entre 90 e 2000, agora é requisito; todos para prestarem algum serviço devem ter alguma certificação SASSMAQ, IS0 ou alguma outra.
Os profissionais se conhecem, se organizam e buscam manter relacionamento mesmo estando em empresas diferentes – o mercado fala.
As mulheres ganharam espaço e dominam  posições importantes, algo que começou a mudar na metade de 90 em diante em todos os cargos (do caminhão à diretoria), embora tenha sido pano de fundo para uma redução de custos na época, provaram o que já era sabido. Parabéns às mulheres!
A moeda é a mesma e os salários em alguns casos continuam de mesma base há dez anos ou mais, com poucos líderes e vários profissionais multitarefa, fazendo mais ganhando menos. Pra ganhar um pouco melhor só conquistando um cargo de confiança na empresa.
A adoção de melhores práticas em prestação de serviços cabe mais a idéias inovadoras e na simplificação, e acreditar nelas; isso substituiu o mito de que na área para ser competitiva a empresa necessitasse ter um corpo composto só por técnicos, quando a maior preocupação é conquistar e manter clientes; por conta disso as equipes são cada vez mais multidisciplinares.
Difícil imaginarmos a oferta de algum diferencial competitivo sem falarmos em recurso tecnológico, principalmente tecnologia embarcada, permeada pela empresa como um todo, com aderência aos Sistemas de Informação dos clientes e interação através da web.
Os abastecimentos são feitos através de redes conveniadas, com controles de consumo, a necessidade de manter um caixa para prover abastecimentos e pedágios ficou mais controlada.
As transportadoras organizaram suas áreas de marketing e relacionamento, e as que possuem isso são as mais lembradas pelos clientes na hora que eles precisam, facilitando bastante a venda dos serviços de transportes, demarcando o território perante a concorrência. Na prestação de serviços o cliente só saberá como funciona contratando. Se as pequenas empresas investissem mais nisso teriam resultados melhores, mas ainda dão pouca importância. 
Terceirizaram suas áreas de manutenção, mantendo  pessoal chave para cobrar providências, com frotas mais  jovens os problemas amenizaram e muito. 
Temos muita burocracia nas operações de carga/descarga e o risco envolvendo as operações, principalmente roubos e fraudes. 
Numa operação o tempo gasto em tratativas, liberações, agendamentos, verificações, e embarques são bem maiores que o do veículo rodando no trajeto definido para o atendimento. 
Algumas empresas se organizaram nos últimos 15-20 anos, surgiram empresas mais jovens,  com filosofias desafiadoras e fazendo sombra às mais tradicionais, colocando em prática soluções simples e eficazes, enquanto outras ainda insistem em modelos conservadores e lidam com problemas de sucessão familiar.
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