A fabricação de caminhões, um dos segmentos que vêm sustentando a produção da industrial brasileira, cresce em ritmo inferior ao da demanda do setor logístico e abre a possibilidade de o mercado importar mais veículos de carga. O Instituto Ilos, especializado em consultoria e capacitação em logística, apurou que o tempo de espera por um caminhão novo já é de 6 a 12 meses.
De janeiro a setembro, foram licenciados 129,918 mil caminhões, o que representa aumento de 15,9% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA). Por enquanto, as importações respondem por apenas 2.784 veículos, mas essa quantidade é 59,8% maior que a registrada em igual período de 2010.
O presidente do Ilos, Paulo Fleury, diz que uma importação mais forte pode ser necessária para atender à demanda, caso os novos investimentos na linha de produção do País não deem conta de suprir a necessidade das empresas transportadoras. “A produção nacional cresce como nunca, a 12% ao ano, e ainda assim, há uma fila de 12 meses para conseguir comprar caminhão”, afirmou Paulo Fleury.
Entre as montadoras instaladas no País, no entanto, a previsão é de retração de vendas em 2011. Entre outros motivos, apontam o agravamento da crise internacional.
O diretor da empresa de transportes Rápido 900, André Ferreira, confirma o aumento na demanda por caminhões. “Sabemos que há fila de espera, mas ainda não fomos afetados”.
A empresa comprou recentemente 110 caminhões – a frota já soma 610 veículos. Mas há planos de expansão, que podem ser dificultados pela oferta apertada. Além disso, Ferreira reclama do custo do financiamento.
“As taxas de juros continuam muito altas e os programas governamentais de financiamento privilegiam equipamentos industriais em detrimento dos caminhões”.
As dificuldades para obter linha de crédito são empecilho principalmente para os trabalhadores autônomos. Segundo a Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Fecam – RS e SC), os financiamentos não chegam aos caminhoneiros que trabalham por conta própria, fazendo com que caminhões “aposentados” voltem às estradas.
“São poucos os autônomos que conseguem financiamento para caminhões novos, principalmente por causa da dificuldade de comprovar renda”, diz André Luís Costa, vice-presidente da Fecam – RS e SC. “Eles acabam indo buscar veículos que já tinham sido aposentados por transportadoras”.
Segundo o Instituto Ilos, a idade média da frota nacional de caminhões é de 22 anos, enquanto em países como Estados Unidos é de 7 a 8 anos. Portanto, haveria espaço para uma renovação da frota de veículos que rodam no país. A produção de caminhões está entre as atividades que ainda seguram os resultados da produção industrial brasileira, medida pelo IBGE.
“O principal impacto positivo na produção da indústria vem de veículos automotores, puxado por caminhões, caminhão-trator e veículos para transporte de mercadorias”, afirma André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE. Em agosto, a produção de veículos automotores subiu 5,8% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Os caminhões e veículos para transporte de cargas impulsionaram ainda o resultado da produção de bens de capital (8,6%) em agosto, após o subsetor de bens de capital para equipamentos de transporte ter crescido 18,4% ante agosto de 2010.
As montadoras esperam crescimento este ano, mas estão cautelosas em relação a 2012. Mercedes-Benz, Ford e Agrale estão entre as empresas que esperam expansão este ano, graças ao crescimento do mercado interno. A Mercedes está investindo R$ 450 milhões na conversão de sua fábrica de veículos em Juiz de Fora (MG), que passará a produzir apenas caminhões a partir de 2012. A previsão é começar a operação em janeiro, com capacidade para 15 mil veículos por ano, que deverá ser elevada para 50 mil unidades quando a linha de pintura estiver funcionando a todo vapor. A montadora também aumentará a capacidade da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, que passará a fabricar 75 mil unidades em 2012. Hoje, a capacidade é de 65 mil caminhões por ano.
“Pela primeira vez, estamos trabalhando com três turnos de produção em São Bernardo”, conta Mário Laffitte, diretor de Comunicação da Mercedes Benz do Brasil.
A Agrale viu suas vendas aumentarem 31% de janeiro a setembro, em relação ao mesmo período do ano passado. A expectativa é fechar o ano passado. A expectativa é fechar o ano com expansão de 25%. “É um crescimento significativo, porque em 2010 já tínhamos tido um aumento de 34% nas vendas”, diz o gerente nacional de vendas, Ubirajara Choairi. A Agrale tem capacidade instalada para ampliar a produção se necessário, mas enfrenta um gargalo de mão de obra.
No início do ano, a Ford investiu na capacidade de sua linha de produção, passando de uma fabricação de 18,7 caminhões por hora para 22 unidades por hora. “Temos a linha de produção mais rápida do país”, afirma Oswaldo Jardim, diretor de Operações de Caminhões da Ford.
A montadora espera crescimento de 14% nos emplacamentos de caminhões este ano. Para 2012, no entanto, a expectativa é de queda. A Ford estima que o mercado passará dos 174 mil veículos esperados para 2011 para 150 mil.
FONTE: HRM Logística