A produção de caminhões pisou no freio neste início de ano. A retração era prevista pelas fabricantes, que já contavam com a relutância das companhias transportadoras em adquirir modelos com tecnologia baseada na fase 7 do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) - que corresponde à legislação europeia Euro 5 -, em vigor desde 1º de janeiro.
A fabricação caiu 81% em janeiro frente a dezembro, e deve seguir em ritmo lento neste mês. Segundo dados do segmento, isso refletiu, em parte, a queda no número de veículos emplacados: no primeiro mês do ano, a comercialização havia caído 16,9% frente a dezembro e, na primeira metade de fevereiro, houve queda de 6% no volume vendido na comparação com a metade inicial de janeiro.
A retração poderia ser maior se as montadoras não tivessem se preparado. Boa parte do que foi vendido até agora foram modelos fabricados em 2011 que seguem a norma ambiental Euro 3. Até 31 de março, as fabricantes podem faturar caminhões com a tecnologia anterior para a rede de revendas.
Para os executivos do setor, o primeiro trimestre é encarado como período de transição. Depois, ao longo do ano, as vendas devem acelerar - embora a estimativa seja de um ano com faturamento cerca de 10% mais tímido que em 2011.
O supervisor de marketing de produto da Ford Caminhões, Marcel Bueno, afirma que nessa fase é importante falar aos clientes dos benefícios dos novos modelos, projetados para atender à legislação ambiental. "Procuramos mostrar que os motores oferecem também ganhos de potência e torque, e têm menor consumo de combustível", destaca.
Jens Burger, gerente de vendas e marketing da Mercedes-Benz, também assinala que a retração era natural. "Houve antecipação de compras do Euro 3 no último trimestre." Da mesma forma, ele cita que, apesar do custo mais elevado - em média de 8% a 10% - em relação à motorização Euro 3, os clientes devem se beneficiar de veículos que consomem menos e que vão exigir menos paradas para trocas de óleo.
Novos motores são movidos a diesel S50
Além de preços mais altos, as novas motorizações que seguem a legislação ambiental Euro 5 estabelecem para as empresas de transporte interessadas em renovar a frota outros desafios: um deles é o fato de que essa norma exige o abastecimento com diesel S50, que tem menor teor de enxofre (50 partes por milhão), contra os motores anteriores, que recebiam diesel S500 (500 ppm).
Segundo o presidente do Setrans ABC (Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Grande ABC), Salum Kalil Neto, transportadoras que têm abastecimento próprio preferem uniformizar a frota e não ficar com parte dos veículos com um combustível e o restante com outro. No entanto, além do preço mais elevado do Euro 5, as companhias têm de adicionar nos caminhões um novo produto, chamado Arla (agente redutor líquido), para o tratamento dos gases, que vai em um reservatório separado - e não existe nos modelos Euro 3.
Tudo isso exige adaptações das empresas que, até adquirirem a nova tecnologia, levam as montadoras e concessionárias a fazerem promoções para estimular as vendas. As redes de revendas da Scania, por exemplo, estão fornecendo gratuitamente, até 31 de março, 2.400 litros de Arla, equivalentes a 120 mil quilômetros rodados, para os clientes que comprarem os modelos Euro 5 da marca.
FONTE: Diário do Grande ABC