Apesar do tombo projetado de 10% a 15% nas vendas de caminhões acima de 6 toneladas este ano, “o Brasil deve consumir algo perto de 145 mil unidades este ano (contra 165 mil em 2011) e será o nosso segundo maior mercado do mundo, o que é maravilhoso”, afirmou Jürgen Ziegler, presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO da Daimler América Latina, que atualmente comanda o maior programa de investimento entre as montadoras de veículos comerciais instaladas no País, no total de R$ 1,5 bilhão no período 2010-2013.
“No início deste ano o cenário se mostrou um pouco mais difícil do que prevíamos, mas estou otimista porque todas as condições para o crescimento continuam aqui”, avalia o executivo, citando a grande demanda por caminhões que deve ser gerada nos próximos anos pelo crescimento econômico do País, especialmente nos segmentos de construção civil, agropecuário e mineração.
Com a entrada em vigor em 1º de janeiro da nova etapa da legislação brasileira de emissões para veículos pesados, o Proconve P7, os caminhões com a nova tecnologia Euro 5 ficaram de 8% a 15% mais caros e as vendas no País recuaram 4% no primeiro bimestre, em comparação com o mesmo período de 2011. Mas com o fim dos estoques de modelos Euro 3, que foram produzidos até dezembro e podem ser faturados até o fim de março, o tombo tornou-se mais pronunciado, com recuo nos emplacamentos de 12% na primeira metade deste mês em relação a idêntico intervalo do ano passado.
FALTA INCENTIVO PARA O P7
A situação levou muitas montadoras a promover paradas nas linhas de produção, inclusive a Mercedes-Benz, que já programou férias coletivas de 10 dias (7 úteis) a partir do começo de abril. “Percebemos a dificuldade e por isso vamos parar”, justificou Ziegler, mas destacou que espera por novas medidas do governo de incentivo à produção e exportação que deverão reverter a situação. Nesse sentido, o executivo espera que seja aprovado o chamado Finame Verde, financiamento do BNDES com taxas reduzidas para a aquisição de caminhões Euro 5, que seria justificado pelo ganho ambiental da renovação da frota.
“É preciso lembrar que o salto tecnológico e o investimento entre o Euro 3 e 5 é muito grande. Aqui no Brasil a indústria não teve nenhum incentivo para fazer essa transição de forma mais suave, como aconteceu, por exemplo, na Alemanha, onde foram concedidos benefícios para a compra de veículos comerciais menos poluentes”, pondera Ziegler.
Outro ponto destacado por ele é a necessidade de tornar flexível a produção para os momentos de baixa do mercado, por meio de acordos mais maleáveis com os trabalhadores: “Temos limitações na utilização do banco de horas e na contratação de mão de obra temporária. Esse é um ponto substancial para elevar a competitividade do País”, defende.
Segundo Ronald Linsmayer, vice-presidente de operações da Mercedes-Benz do Brasil, a empresa está nesse momento em negociações com o sindicato para a melhor utilização do banco de horas. “Da maneira que está hoje só é flexível quando a produção sobe, não quando baixa”, disse. Em 2011, ele informou que a fábrica de São Bernardo do Campo (SP) precisou fazer 25 jornadas adicionais ao longo do ano, para dar conta da produção recorde, que se aproximou da capacidade máxima da planta, de 80 mil unidades.
PROMOÇÃO
Os estoques de caminhões e ônibus Euro 3 já terminaram e a Mercedes-Benz não revela quantos Euro 5 já produziu nem quantos vendeu, mas o departamento comercial estima que apenas mil veículos comerciais P7, de todos os fabricantes, tenham sido vendidos até agora no mercado brasileiro. Com o pátio cheio, a montadora resolveu fazer uma ação mais ousada para atrair clientes: até o fim de abril vai enviar mil novos caminhões para testes diretamente na operação dos clientes (leia aqui), além de oferecer contrato de manutenção grátis por um ano e 1,2 mil litros de Arla 32, o reagente à base de ureia necessário para fazer funcionar o catalisador dos veículos P7 com sistema SCR de redução de emissões de poluentes.
Para Ziegler, a ordem agora é direcionar todos os esforços para vender as vantagens dos novos modelos Euro 5, que são mais caros, mas também mais econômicos. “Temos de informar o custo total de propriedade, não apenas no valor de compra. O novo (pesado) Actros, por exemplo, gasta 9% menos combustível, é uma grande economia”, ressalta.
Apesar do tropeço (já amplamente antecipado) das vendas no início do ano, Ziegler está bastante otimista com o desempenho da Mercedes-Benz. “Nossa meta é ser o número um, amanhã se possível”, enfatiza. “Temos condições para isso. Renovamos nossa linha inteira de veículos e começamos a fazer o Actros aqui (montado em Juiz de Fora), assim temos um caminhão pesado a mais no portfólio para competir”, lembrou, destacando que no primeiro bimestre o modelo foi o extrapesado mais vendido do País, com cerca de 24% das vendas do segmento.
FONTE: Automotive Business