Em todo o ano eleitoral, a prefeitura de São Paulo aumenta o rigor das restrições à circulação dos caminhões na cidade. O objetivo é claro: passar a idéia de que está atuando sobre o problema do caos diário no trânsito e que este melhorará com a retirada dos caminhões das ruas e avenidas.
aEssa política não provem dos órgãos de trânsito, nem das universidades. Ela é orientada pela equipe de imagem da campanha eleitoral, já que o caos diário do trânsito de São Paulo é insuportável para todos. Não interessa o diagnóstico técnico e sim fazer de conta que está atacando o problema, para evitar desgaste eleitoral.
O prefeito Kassab esteve presente num evento de prefeitos de grandes cidades, há uns poucos anos atrás, em que ficou patente o diagnóstico de que os automóveis são os grandes vilões dos congestionamentos diários nas metrópoles. E mais, ficou claro que a política a ser efetivada é a de restringir a circulação e estacionamento dos automóveis, nas áreas de grande volume de tráfego, combinada com uma substancial melhoria no transporte coletivo e de massas (trem e metrô).
Cidades como Londres tiveram a coragem – e o bom senso – de implantar o pedágio urbano nas áreas centrais. Com isso, houve uma redução da ordem de 30% na circulação de automóveis e todos ficaram felizes, inclusive aqueles que pagam o pedágio. Lá essa medida foi necessária, apesar do transporte coletivo e de massas ser de alta qualidade.
Venho propondo, há anos, que o pedágio urbano seja implantado em São Paulo. Seria uma medida de eficácia garantida no médio prazo, desde que a receita desse pedágio seja, unicamente, destinada a melhorias no transporte coletivo de ônibus e em ciclovias. Com isso, não seria necessário esperar por décadas a melhoria do transporte de massas. Acrescentaria a isso, a necessidade de política de estímulo ao uso dos táxis, elemento central para que o usuário contumaz de automóvel deixe de sê-lo.
O caminhão tem um papel fundamental na vida das cidades e, por isso, jamais pode ser tratado como vilão. Ao contrário, deve-se garantir fluidez das cargas por ele transportadas, visando reduzir tempos e custos. Os(as) cidadãos(ãs) têm que ter seus interesses atendidos, enquanto consumidores/produtores das cargas que chegam e saem das cidades.
Restringir a circulação dos caminhões, da forma como está sendo feita em São Paulo, é atentar contra os interesses dos consumidores/produtores, por mais que estas mesmas pessoas se sintam felizes como usuárias de automóveis, por não ter que compartilhar as ruas e avenidas com os caminhões. Para esses usuários, os caminhões só atrapalham o trânsito e a vida sem eles seria melhor.
Essa é a contradição “brilhantemente” (?) explorada pelas equipes de imagem que atuam nas campanhas eleitorais.
Por incrível que pareça, ninguém verifica os custos dessa medida da prefeitura. Ninguém se importa com o inferno em que se transforma a vida dos caminhoneiros autônomos e das empresas.
Finalmente, ninguém constata que o caos diário do trânsito em São Paulo permanece o mesmo e, portanto, de nada adiantaram as exageradas restrições aos caminhões. O que é óbvio, já que o vilão, que precisa sofrer restrições, é o automóvel e não o caminhão.
FONTE: Agência T1