A restrição à circulação de caminhões durante o dia passa agora a ser discutida em todo o âmbito da Grande São Paulo. Em reunião realizada na sexta-feira na sede da Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano, na Capital, foram apresentadas propostas para unificar o plano de transporte de cargas. O presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e prefeito de Diadema, Mário Reali (PT), participou do debate.
Atualmente, cidades como Diadema, Osasco e São Paulo já têm a circulação de caminhões restrista a determinados horários. Até fevereiro, o Consórcio estudava aplicar a proibição em cinco dos sete municípios da região.
Na opinião do secretário de Desenvolvimento Metropolitano, Edson Aparecido, a discussão feita nos 39 municípios da Grande São Paulo evita que medidas isoladas causem impactos em outros municípios. "Hoje, todas as cidades da região metropolitana são conectadas. Estas medidas têm de ser de comum acordo, pois impactam nos arredores", avalia.
Na próxima semana, outra reunião será realizada, desta vez apenas com a presença de técnicos das prefeituras. Diversos encontros semelhantes serão feitos até o dia 5 de junho, quando as propostas serão apresentadas em São Bernardo. Segundo Aparecido, os municípios deverão criar entre três e cinco diretrizes para as restrições.
O titular da Pasta adiantou que uma das propostas que teve consenso entre os prefeitos participantes foi a de restringir a circulação de caminhões durante todo o dia e liberar apenas no período noturno.
Foi decidido também que, a longo prazo, será feita pesquisa de origem e destino em cada um dos municípios para conhecer melhor as demandas específicas. O estudo será feito pela Secretaria de Transportes e Logística e pela Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano). Não foram divulgados prazos e valores. Aparecido garantiu que, caso necessário, colocará recursos da Pasta no projeto.
O presidente do Consórcio classificou como positiva a oportunidade de discutir o tema com todos os 39 municípios da região metropolitana. "Precisamos ter política restritiva de transporte de carga para toda a metrópole", avalia Mário Reali. Ele reiterou a opinião de Aparecido, de que medidas isoladas geram problemas nas cidades vizinhas. "Quando proibiram os caminhões na Marginal do Pinheiros e na Avenida dos Bandeirantes, em São Paulo, o fluxo foi desviado para o bairro do Eldorado, em Diadema."
O petista avalia que um dos principais desafios ao criar esse tipo de restrição é a separação dos veículos de passagem e de abastecimento. "Nosso principal problema é o tráfego de passagem, ou seja, os veículos que utilizam o Grande ABC apenas para se deslocar para o Porto de Santos. Já o fluxo de abastecimento traz impacto para a economia local. É preciso ter tratamento diferente nestes casos", finaliza.
Após pressão da indústria, Consórcio cancela restrição
Anunciada em novembro, a restrição à circulação de caminhões na região foi cancelada em março pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC após pressão do setor produtivo. O início das multas estava previsto para o dia 8 de abril.
A primeira proposta da entidade era proibir o transporte de cargas em 40 quilômetros de avenidas de segunda a sexta feira, das 6h30 às 9h e das 16h às 20h.
Em fevereiro, o Consórcio já sinalizava o recuo. A primeira das mudanças acatadas foi a redução no horário da restrição, que passou a ser das 6h30 às 8h30 e das 17h às 20h. As avenidas de Mauá também foram retiradas do plano devido à proximidade com o Trecho Sul do Rodoanel.
Em seguida, foi a vez da Avenida Goiás, em São Caetano, e de trechos da Avenida Piraporinha, em Diadema, serem excluídos do mapa das vias atingidas pela proibição. Para compensar o impacto no viário, o Consórcio estuda a volta do rodízio de automóveis.
Empresários criticam circulação noturna
Empresários da região criticam a proposta que prevê a liberação da circulação de caminhões apenas no período noturno em toda a Grande São Paulo. A ideia surgiu na reunião realizada na sexta-feira na Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano, em São Paulo.
Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do ABC, Sallum Kalil Neto, a proposta prejudica a economia da região, já que as indústrias necessitam de constantes reposições de estoques ao longo do dia.
O diretor-titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Santo André, Emanuel Teixeira, avalia que a circulação noturna esbarra no problema da violência. "Esta discussão já foi feita há cerca de dez anos. Isso acarretaria investimentos em segurança e até escolta das cargas, o que, certamente, pesaria no preço final do produto", comenta. O diretor teme que a indústria local perca em competitividade para as de outros locais./CW
Teixeira elogiou o debate aprofundado mediado pelo Estado, mas alerta para as peculiaridades das microrregiões. "A Região Metropolitana é muito grande. Existem peculiaridades em alguns municípios, como os do Grande ABC."
FONTE: Diário do Grande ABC