Facchini

Ônibus pode ter qualidade de Metrô

Pensar o transporte organizado de uma cidade não é tarefa fácil. A população paulistana, por exemplo, viveu décadas acreditando que o metrô seria a grande solução para o trânsito da cidade. Governos foram criticados pela falta de investimentos nesse modal e pelo consequente caos em que se transformou a cidade. Ainda que tardiamente, um impulso foi dado na construção de novas linhas metroviárias. Antes reduzidas às cores azul e verde, hoje as linhas contam com as cores vermelha, amarela, lilás e laranja, entre trechos implantados e em construção. No entanto, as expectativas de melhoria foram frustradas. O trânsito paulistano não cedeu; as estações de Metrô estão lotadas e, da mesma forma, as ruas estão repletas de carros de particulares.
Com a Lei da Mobilidade Urbana, que entrou em vigor em 13 de abril, temos uma nova esperança de mudança para esse cenário. A preferência ao transporte público em detrimento ao privado é o primeiro passo para caminharmos para um futuro com mais qualidade de vida para a população. Além disso, o anúncio do prefeito Gilberto Kassab sobre a implantação de oito novos corredores de ônibus cria uma nova expectativa, de que as preocupações das gestões púbicas também estão voltadas para o transporte. Os cidadãos esperam ansiosamente que esta iniciativa desafogue o trânsito da cidade, ao menos em parte. Se bem construídos, certamente trarão melhorias no deslocamento urbano, vez que o modal tem grande capacidade de transporte – 45 mil passageiros hora/sentido –, além de ser de rápida e de barata implantação.
Um corredor de ônibus, operado em sistema BRT (Bus Rapid Transit) é um exemplo de eficiência nesse segmento e atende aos requisitos da nova lei. É bem semelhante à operação do transporte metroviário, no que diz respeito ao conforto e eficiência, mas opera sobre o solo e com pneus no lugar de trilhos. São ônibus modernos, na versão trólebus (poluição zero) ou com motores de baixa emissão, trafegando em corredores exclusivos, que garantem prioridade no trânsito. A velocidade média dos veículos nesses corredores é dobrada – em torno de 21km/h –, se comparada aos sistemas tradicionais de ônibus (10km/h), com intervalos curtos programados entre as viagens. O pagamento e a validação de tarifas são feitos em estações fora dos ônibus. As plataformas de embarque e desembarque estão no nível dos veículos, evitando acidentes, facilitando a acessibilidade. O BRT conta ainda com eficientes sistemas de programação e controle da operação por GPS e sistemas de comunicação com o usuário.
Esse modelo foi aplicado pela primeira vez no Brasil na cidade de Curitiba, em 1974, com o “Sistema Expresso” e até hoje é referência como modal rodoviário urbano de qualidade em todo o mundo. Recebeu, inclusive, recomendação da ONU como contribuição para uma economia mais “verde”. A experiência foi exportada e replicada com grande sucesso e extrema eficiência em localidades como Bogotá e Cali, na Colômbia; Santiago, no Chile, e Johannesburgo, na África do Sul. Até agora, todos os sistemas de BRT que foram instalados pelo mundo são motivo de comemoração para as cidades, tanto no âmbito dos recursos públicos quanto nos serviços prestados à população. A Lei da Mobilidade urbana só fortalece os indícios de que estamos caminhando pela estrada certa e indica que devemos seguir em frente. Hoje, valorizar o coletivo ao invés do individual é o que se chama de progresso.
Em São Paulo, o corredor ABD opera desde 1997 nos moldes de um BRT, ligando a região do ABC à capital, com total eficiência. E tem recebido o merecido reconhecimento. Na mais recente pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) sobre a avaliação do usuário dos transportes, o corredor ocupou o primeiro lugar em satisfação. Outra pesquisa, do instituto Toledo & Associados, com mais de três mil passageiros, comprovou essa satisfação. Mais de 80% avaliaram o corredor positivamente.
Esses resultados e as experiências positivas verificadas no exterior dão mostra de que o prefeito Kassab está no caminho certo para oferecer ao cidadão um transporte de massa eficiente. Se for bem construído e planejado, o corredor de ônibus pode atender à população com qualidade de metrô, a preço muito mais baixo e em curto prazo.
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