As vendas de caminhões zero-quilômetro estão em ritmo ainda mais lento do que as de automóveis. Segundo representantes do segmento, que é um dos principais compradores desses veículos, isso reflete, entre outros fatores, o resfriamento no movimento de transporte de cargas neste ano.
De acordo com dados de emplacamentos da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), todo mercado de veículos ficou estável na primeira metade de abril, frente aos quinze dias iniciais de março. O segmento de caminhões, entretanto, teve queda de 5,9%. Além disso, registra retração de 20% em relação ao mesmo período de 2011.
O presidente do Setrans (Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Grande ABC), Salum Kalil Neto cita que, além de antecipação de compras por parte das transportadoras no fim do ano, as companhias do ramo estão menos capitalizadas para investir na expansão de suas fortas. "O mercado desaqueceu, e há menor volume de transporte", diz.
Em relação à antecipação, o dirigente lembra que muitas empresas preferiram fazer compras de modelos equipados com a tecnologia Euro 3 (norma de emissão de poluentes que vigorou até o fim de 2011). Neste ano, as montadoras são obrigadas a fabricar caminhões seguindo a Euro 5, em que os veículos ficaram até 15% mais caros.
Outro problema assinalado é a demora na liberação de financiamento por parte dos bancos, que agora, é maior do que antes. Segundo o dirigente, pode levar até 90 dias para a aprovação.
MUDANÇAS - Concessionários reconhecem que houve diminuição dos negócios, mas também avaliam que muitos clientes estavam no aguardo de novo pacote do governo, que reduziu recentemente as taxas do Finame, do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). "A queda de juros já estava sendo alardeada, e quem iria comprar acabou esperando", diz Roberto Nasser, diretor comercial da rede Dibracam, autorizada MAN.
No entanto, Nasser demonstra otimismo com as condições mais facilitadas de crédito. Os juros para empresas, que giravam em 0,92% ao mês, caíram para 0,62% mensais (7,7% ao ano). Além disso, para pequenas companhias, agora o financiamento cobre até 100% do valor - antes ia até o teto de 80%. A montadora está oferecendo essa taxa de 0,62% no leasing, para a nova linha de caminhões MAN (que não tem índice de nacionalização para aceitar Finame), a fim de atrair clientes.
A procura já subiu, após o governo ter anunciado, dia 3, o plano Brasil Maior, que melhorou as linhas do BNDES, ressalta o vendedor Alexandre Miglioli, da rede Codema, da Scania.
O aumento na demanda não aparece, de imediato, nos números da Fenabrave, observa o diretor de comunicação da Mercedes-Benz, Mario Laffite. "Esses dados são de licenciamentos e, para o mercado de caminhões, são retrato do passado", afirma. Ele explica que, quando a compra de caminhões ou ônibus é feita, leva de um mês a dois meses para o emplacamento.