Grande parte dos caminhoneiros que rodam as estradas do Brasil trabalhando para terceiros tem ou já teve o sonho de comprar um caminhão e se tornar autônomo. O desejo de ser o próprio patrão nasce do ideal de obter lucros maiores, já que as condições de trabalho de um motorista no país são duras. Além da carga horária exaustiva, os carreteiros precisam contar com o volume de fretes para somar a comissão à renda do piso salarial (R$ 1.200,00 em média, dependendo do sindicato regional), e correr o risco da falta de segurança nas rodovias.
O SRZD ouviu o que o empresário Antonio Rocha Santiago Neto, o Torrado, dono da Rocha Santiago Transportes, tinha a dizer sobre esse assunto que mexe com a cabeça de muitos profissionais. Torrado atua há 42 anos no ramo de transportes de cargas e a primeira vez que pensou em comprar um veículo para iniciar suas atividades foi em 1970. Ele alertou que se aventurar nesse mercado sem ter dinheiro é arriscado. "Não tive problemas para fazer o financiamento na época em que comprei meu primeiro caminhão. Mas, nos dias de hoje, só quem tem coragem e condições para dar uma boa entrada e arcar com as parcelas pode se aventurar em comprar uma carreta", disse.
Ele completou dizendo que o Finame (Financiamento de Máquinas e Equipamentos), linha de crédito concedida por instituições financeiras credenciadas ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), não é uma boa opção de investimento. "Nunca fiz Finame. Acho arriscado porque os juros não são fixos e podem alterar de acordo com o Selic ou outros órgãos que corrigem o financiamento", opinou, e deu mais dicas para os novos empreendedores: "É primordial comprar sempre com prestações fixas e nunca com prestações variáveis. E o conselho que eu daria para quem está começando agora é só se aventurar nesse tipo de negócio se tiver contrato de trabalho, senão não dará conta dos gastos".
Mercado saturado
O Vice-Presidente Executivo do Sindicato Nacional de Empresas de Transporte e Movimentação de Cargas Pesadas e Excepcionais (Sindipesa), João Batista Pinheiro Dominici, revelou ao SRZD que o mercado de transportes de carga está saturado no Brasil, já que poucas barreiras impedem a entrada de cada vez mais pessoas neste segmento. "Percebemos um movimento de fusão entre as empresas com o objetivo de combater a concorrência. Quem está entrando agora na área tem que começar com uma frota grande e tecnologias melhores. O motorista que pretende começar com um caminhãozinho sem aparato administrativo e tecnológico não vai sobreviver", enfatizou.
A infraestrutura da empresa, a má conservação e a falta de sinalização das estradas, os iminentes riscos de acidentes e de roubo das cargas e a falta de conhecimento administrativo foram apontados por Torrado e Dominici como os principais desafios que os pequenos empresários precisam enfrentar diariamente, principalmente aqueles que vão pilotar a carreta. "Os caminhoneiros geralmente desconhecem os custos do negócio e a necessidade de reservar uma poupança para repor as máquinas, que têm prazo de validade de até oito anos", disse Dominici.
Custos elevados
Outro problema é que os valores do frete e os altos custos com combustível, funcionários, conserto das máquinas, pedágios e impostos comprometem o saldo líquido e acabam não compensando no final do mês. "Uma carreta média demanda em torno de R$ 1400,00 de diesel e R$ 240,00 de pedágio para ir e voltar do Rio para Belo Horizonte e ainda tem os 12% do frete para cada motorista. Se o frete custa em torno de R$1500 para ir e até R$ 2000 para voltar, no final só me restam R$ 1000", lembrou Torrado.
FONTE: SRZD