Apesar de todo implemento estar em cima ou ser puxado por um caminhão, a indústria de implementos rodoviários teve desempenho descolado do setor de caminhões e mostrou recuperação mais rápida nos meses finais de 2012. Após um ano difícil, em que a média de queda das vendas persistia acima do mercado de veículos comerciais, “no último trimestre a retomada foi muito forte”, conforme destacou Alcides Braga, presidente da Anfir, a associação nacional dos fabricantes de carrocerias, reboques e semirreboques.
Com a recuperação no fim do ano, os fabricantes de implementos fecharam 2012 com 160,4 mil unidades emplacadas no País, em recuo de 15,9% sobre as 190,8 mil de 2011. O desempenho foi substancialmente melhor do que o do mercado de caminhões no mesmo período de comparação, que caiu quase 20%, para 139,8 mil veículos vendidos.
A maior retração aconteceu no segmento de leve, de carrocerias sobre chassis, com vendas de 107,8 mil unidades, 17,9% menores que as de 2011. No mercado de pesados (reboques e semirreboques) o recuo foi de 11,6%, para 52,5 mil rebocados emplacados.
No ano passado, as vendas domésticas de comerciais foram fortemente afetadas pela mudança na legislação de emissões, o Proconve P7, que obrigou veículos diesel a usar motorização Euro 5, mais cara, resultando em retração generalizada dos negócios, agravada ainda pela desaceleração da economia. Em um primeiro momento, esse fator acabou atrasando a compra de implementos, pois muitos frotistas preferiram primeiro renovar a frota com caminhões Euro 3, mais baratos, que ainda estavam em estoque. Depois, todos ficaram esperando pelas definições sobre o financiamento via BNDES/PSI, principal mecanismo de vendas do setor. O governo baixou por três vezes seguidas os juros do programa, até fixá-los em 2,5% ao ano em agosto. Quando as regras de crédito foram finalmente definidas, houve destravamento dos pedidos represados de implementos e as encomendas vieram com força.
Um fator que contribuiu para suavizar a queda das vendas domésticas em 2012 foram as exportações, que cresceram 10% no ano passado, para 5,8 mil implementos rodoviários embarcadas para fora do País. Segundo Braga, a indústria foi beneficiada pelo câmbio favorável e retomou as vendas externas, que na comparação com 2010 avançaram ainda mais, 38,6%. “Esse é um caminho necessário, até como forma de atenuar a tributação. A taxa de câmbio ajudou e começo a pensar que o setor pode colocar como meta exportar ao menos 15% da produção”, avalia.
PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO
“A falta de regras claras de financiamento impediu a recuperação mais rápida. Mas no último trimestre as encomendas voltaram fortes e conseguimos fechar o ano com queda menor do que a esperada”, conta Braga. Agora, com financiamento estável e sinais de apoio à produção, o presidente da Anfir informa que muitos fabricantes já voltaram a contratar e adotaram segundo e terceiro turnos de produção. “As encomendas de implementos pesados chegam a três meses, o que é um nível bastante confortável para nós” afirma.
Com o cenário normalizado e perspectiva de crescimento econômico, a Anfir projeta que o desempenho dos fabricantes de implementos volte a rodar colado com os caminhões. A entidade estima incremento de 6,5% nas vendas este ano, para algo em torno de 171 mil unidades. O segmento pesado, de reboques e semirreboques, deverá ter contribuição menor na expansão, com avanço de 4,6%, para 55 mil produtos, enquanto as implementações de carrocerias sobre chassis devem crescer 7,5%, para 116 mil.
Os resultados de janeiro comprovam a recuperação, com 13,6 mil emplacamentos e crescimento de 5% sobre o mesmo mês de 2011. A retomada é forte no segmento pesado, com 5 mil rebocados vendidos, o que representou expansão significativa de 38,2% sobre o ano anterior. Já as implementações de carrocerias sobre chassis têm ritmo lento, 8,6 mil unidades e retração de 7,6% ante janeiro de 2011. Segundo Braga, essa diferença acontece justamente pela maior dificuldade de obtenção de financiamento do PSI para implementos de menor porte, a maioria feita por autônomos ou pequenos frotistas.
“Já verificamos uma redução do ímpeto em fevereiro, mas como a retomada veio com muita força isso é normal, houve represamento de pedidos em 2012 e grande acúmulo no fim do ano. Agora deveremos entrar em ritmo menos acelerado”, avalia Braga. Segundo ele, não há falta de insumos e as fábricas trabalham com relativo conforto, levando em consideração a capacidade de produção calculada pela Anfir em 215 mil implementos por ano, ou 45 mil abaixo da expectativa de vendas para este ano.
Para Braga, o principal motor do crescimento é a necessidade de melhorar a infraestrutura do País, “não só para Copa em 2014 ou as Olimpíadas de 2016, pois muitas dessas obras já estão em fase de execução e não devem representar grande fonte de compras, mas ainda há muito por fazer em portos e aeroportos, por exemplo”, citou o executivo.
FONTE: Automotive Business