Os problemas de logística provocados por uma safra estimada em 185 milhões de toneladas e nenhum investimento em infraestrutura fazem com que os carregamentos de soja atrasem para chegar aos terminais de descarga nos portos de Santos (SP) e de Paranaguá (PR). E as consequências imediatas já estão aparecendo: nesta semana, algumas empresas começaram a cancelar os contratos de compra com o Brasil, o preço mundial da soja caiu 4% e o custo de transporte da oleaginosa vinda do Mato Grosso, principal Estado produtor, até o porto, subiu 50%. Hoje, de acordo com o Instituto Matogrossense de Economia Aplicada (Imea), já se pratica o valor de R$ 300 por tonelada transportada. No ano passado, no mesmo período, cobrava-se R$ 218 por tonelada.
No litoral paulista, as estradas que dão acesso ao terminal de descarga do Porto de Santos estão entupidas de caminhões. O congestionamento chegou a 27 quilômetros na rodovia Cônego Domenico Rangoni, sentido Guarujá, nesta quarta-feira (20/3), e a média de velocidade atingida pelas carretas foi de 1,6 km/h. Sérgio Mendes, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) explica que todos esses problemas também influenciam no preço do frete. “Os caminhoneiros levam quase doze horas para conseguir acessar o terminal e não podem sair da fila: não dormem, não comem. Isso eleva o custo, com certeza”, diz ele.
O executivo lembra, porém, que não é apenas a falta de investimento nas estradas e nos portos que estão prejudicando os embarques. “O tempo também não colabora. Com chuva, não há embarque de soja em nenhum porto”, diz.
Bolso furado
Exportar está cada vez mais custoso para o produtor rural e o fator que mais influencia na alta dos custos é a falta de investimentos em logística – estradas, hidrovias e portos. “É uma tragédia que foi anunciada faz muitos anos, e há fatores recentes que complicam ainda mais a situação e implicam na alta dos fretes, como a Lei 12.619. que reduz a jornada de trabalho dos caminhoneiros, e a MP dos Portos, que trata da modernização dos mesmos, mas vem provocando greves no setor em escala nacional”, diz Marcos Jank, consultor de agronegócios e bioenergia.
O consultor lembra que, com todos esses custos, o produtor rural brasileiro acaba pagando US$ 70 por tonelada de soja em comparação com produtores argentinos ou americanos. Sérgio Mendes, da Anec, ainda destaca outro fator: “Com os atrasos nos embarques da soja, Chicago corta o prêmio de US$ 18 por tonelada de soja brasileira comercializada e mais US$ 10 por tonelada na line-up dos navios, por dia”, diz ele. “Somente este prejuízo já justificaria qualquer investimento em infraestrutura”.
Paraná
No Porto de Paranaguá, a situação também é bastante complicada. Até quarta-feira (20/3), havia uma fila de 84 navios aguardando para atracar e uma fila de caminhões também se formava nas proximidades do local. Segundo a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina, por causa da chuva, o porto ficou 27 dias parado. Cada dia de atraso também custa US$ 20 mil para o exportador responsável pela venda.
Nos dois primeiros meses deste ano, foram embarcados 2 milhões de toneladas de grãos (soja e milho) por Paranaguá. A administração afirma que, se não fossem esses problemas de clima e logística, a quantidade exportada seria de aproximadamente 4 milhões de toneladas.
Governo
Célio Porto, secretário do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) diz que o governo federal está buscando R$ 54 bilhões para investimentos em infraestrutura logística, através das obras do PAC, já anunciados pelo governo no ano passado. Os recursos, porém, têm um prazo de 25 anos.
O presidente da Anec diz que existem, desde 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, pelo menos dois estudos planejados de investimentos em hidrovias, a Teles Pires/Tapajós, que ligaria o Cerrado ao Porto de Santarém (PA) e a Tocantins, que permitira embarques de grãos produzidos na região Centro-Oeste pelo Porto de Itaqui (MA). “Mas nada disso saiu do papel desde aquela época”, lamenta.
FONTE: Globo Rural