Nos últimos três anos, a subsidiária da montadora sueca Volvo vem pisando firme no acelerador. Em 2011, a empresa ultrapassou a conterrânea Scania. Agora, está prestes a deixar para trás a americana Ford, roubando-lhe a terceira posição no ranking brasileiro de caminhões, liderado pelas alemãs Man/Volkswagem e Mercedes. Trata-se de uma façanha e tanto, uma vez que a Ford ocupa esse posto há 17 anos. A diferença cai a cada mês e está em escassas 71 unidades, levando-se em conta o acumulado janeiro-agosto, com 13.727 unidades para a Ford e 13.656 para a Volvo. Mas, afinal, o que fez com que a Volvo tivesse um desempenho tão favorável? Um dos fatores é o bom momento vivido pelo agronegócio.
É que, para transportar a safra recorde de 187,9 milhões de toneladas de grãos, os operadores logísticos tiveram de apostar em veículos pesados e extrapesados, a especialidade da Volvo. Além disso, as múltiplas obras de infraestrutura em andamento pelo País afora ajudaram a explodir a demanda por veículos desses nichos. De janeiro a agosto eles representaram 60% do total de caminhões comercializados, de acordo com números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). “Queremos um crescimento consistente, não um voo de galinha”, afirma o diretor de caminhões da Volvo, Bernardo Fedalto.
Para dar conta da carteira de pedidos, a fábrica da montadora, situada no Distrito Industrial de Curitiba, opera a todo vapor. Lá, são montados 117 veículos por dia, volume ainda insuficiente para atender a demanda. Segundo Fedalto, a fila de espera chega a 45 dias. A subsidiária está colhendo os frutos de um ciclo de investimento em andamento de US$ 600 milhões programado para o período 2013-2015. Nessa conta está incluída a ampliação da fábrica, além do desenvolvimento e da produção de um novo modelo, que chegará ao mercado em 2014 para substituir a atual família de extrapesados. Batizado de linha FH, o veículo acaba de chegar às estradas europeias.
Um dos comerciais de tevê tem como garoto-propaganda o CEO global Clais Nielssen, que aparece pendurado sobre um caminhão içado por um guindaste, a uma altura de 20 metros, no porto de Gotemburgo, o maior da Suécia. Além da boa performance do agronegócio brasileiro, das obras do PAC e da movimentação em torno da Copa do Mundo 2014, a longa trajetória da marca com veículos de grande porte também pode ser apontada como um fator que ajudou a Volvo a engatar a sexta marcha por aqui. "Neste segmento, a opinião do motorista conta muito no momento que os transportadores pensam em renovar suas frotas”, diz o sócio da Kross Consultoria, Emanuel Queiroz. “Quem tem tradição acaba levando a melhor."
Para chegar mais perto dos consumidores, os suecos pretendem ampliar o número de revendas. A meta é adicionar cinco concessionárias à sua rede, apostando nos Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde se concentra a produção de grãos. Com isso, a marca deve fechar o ano com 90 pontos de venda. Outro aspecto importante do plano traçado é a qualificação dos mecânicos. Somente neste ano serão capacitados 1.740 profissionais. “Nosso caminhão não pode ficar parado”, diz Fedalto.
E a Ford, como fica nessa história? Bem, diante da ameaça nórdica, os dirigentes da montadora americana no Brasil resolveram adicionar um veículo extrapesado à sua linha Cargo. O modelo foi apresentado em julho, durante uma festa cercada de pompa e circunstância em pleno deserto do Atacama, no Chile. A reação da Ford, ainda não foi suficiente para defender sua posição. Desde maio, os dirigentes da Volvo veem os americanos se distanciarem cada vez mais no retrovisor. No mês passado, por exemplo, os suecos comercializaram 2.054 unidades ante 1.872 vendidas pelos ex-donos absolutos do terceiro lugar. Procurada a Ford não se manifestou.
FONTE: Istoé Dinheiro