Facchini

Falta de capacitação do setor de transportes vai do motorista ao mecânico

A falta de mão de obra especializada não é novidade para a economia do Brasil. São muitas as funções que precisam de mais trabalhadores com um currículo recheado de experiência e boas referencias. No setor de transportes não é diferente. Quanto mais tecnologia um caminhão possui, mais difícil é encontrar motoristas que saibam tirar o melhor do equipamento, sem desgastar peças e economizando combustível. No entanto, não são apenas os caminhoneiros que precisam renovar seus conhecimentos: também há dificuldades por parte de transportadoras e concessionárias em encontrar mecânicos prontos para trabalhar com os novos sistemas da geração Euro 5.
“O mundo mudou e os níveis de exigências são diferentes. Existe quem sabe dirigir um caminhão, mas ele precisa se adequar às novas exigências do mercado. Afinal de contas, não é somente um prestador de serviços, e sim uma continuidade da empresa”, afirmou Claudemir Turquetti, Gerente de Desenvolvimento da JSL, uma das maiores transportadoras do Brasil.
A realidade das estradas também se reflete nas oficinas. “Faltam profissionais no mercado de forma geral”, afirma Augusto Ramos, Diretor de Pós-Vendas da Auto Sueco. “Hoje em dia, um caminhão ou qualquer equipamento está tecnologicamente muito evoluído. Os técnicos que o mercado oferece muitas vezes não estão preparados para esta tecnologia. É um profissional que está habituado com situações mais simples”, revela o executivo.
Com este cenário negativo, só resta uma saída para as empresas do segmento: apostar no perfil e no potencial dos candidatos inexperientes e capacitar estes profissionais.

Treinamento leva à perfeição
Resultados positivos em qualquer atividade são obtidos com muitos fatores, mas poucos são tão importantes quanto o preparo. Seja para fazer um gol em final de Copa do Mundo ou para dirigir um caminhão carregado com soja, qualquer profissional precisar de treinamento, por menor que seja, para conseguir seus objetivos. “Tem pessoas que sabem dirigir, mas não tem experiência de trânsito. Aí treinamos elas com um curso de 360 horas. Fazemos o treinamento teórico e operacional”, diz o Gerente de Desenvolvimento da JSL.
Em 2012, a empresa formou 691 profissionais em seus cursos, sendo que cerca de 88% destes motoristas seguem na empresa. Neste ano, o número já passa de 400. Para o caminhoneiro ter tranquilidade enquanto melhorar sua capacitação, a JSL possui acordo com o sindicato, pagando um salário para o “estudante” por até 90 dias. “Antigamente você tinha o caminhoneiro como um profissional valorizado. Isso se perdeu e precisa ser resgatado. Ele é visto como quem não teve oportunidade, e precisa ser valorizado”, explica Turquetti.
Mas para chamar a atenção da JSL, é preciso antes fazer um teste prático. “Não é só o fato de ter habilitação, isso não significa que ele está apto, vemos isso no trânsito“, expõe o gerente, que também presta atenção no perfil dos candidatos. “Claro que sempre olhamos o posicionamento pela idade, como ele se comporta, como é o relacionamento interpessoal, o que ele busca na profissão, se para ele é uma profissão, ou outro mecanismo de trampolim. Isso faz com que tenhamos essa percepção”, explica.
A formação é realizada dentro da própria empresa, com carga horária desenvolvida pela própria JSL e colocada em prática nos caminhões dela. Há um plano de carreira traçado, principalmente para motoristas de ônibus. “O profissional entra no programa “Sempre Melhor”, e formamos o cobrador para motorista, ou o ajudante, varredor, para motorista. Ele entra como motorista de carro leve, então treinamos para ele ter um upgrade em termos de carreira”.

Fidelização de clientes
Além da capacitação em estrutura própria, as transportadoras contam com outra ajuda ao comprar caminhões: os treinamentos em concessionárias. A Auto Sueco, que comercializa caminhões e ônibus Volvo, explica o ABC dos caminhões que vende aos seus clientes. “Nós treinamos esses motoristas que vão dirigir esse caminhão. Treinamos motoristas por caminhão vendido”, revela Augusto Ramos.
Há um porém que expõe a fragilidade da mão de obra especializada no setor de transportes. A alta rotatividade atrapalha as empresas. “Muitas vezes, quando o cliente compra outro caminhão, temos que treinar outro motorista. A mesma rotatividade que observamos entre os mecânicos acontece com os motoristas”, diz o Diretor de Pós-Vendas da Auto Sueco.
A Volvo também possui o Transformar, programa de apoio aos seus cliente. “O Transformar é um programa multiplicador. Damos uma opção mais rápida para o cliente, e se a empresa tiver um treinador dentro dela, ele pode regularmente ministrar treinar novos motoristas. Esse pode ser uma forma da empresa motivar os caminhoneiros”, avalia Ramos.

Procura-se mecânicos
Como muitas transportadoras, a JSL possui oficinas próprias para fazer a manutenção de seus veículos. No entanto, a falta de mão de obra não é um problema grande para a empresa por conta de um único fator: treinamento. “Fazemos plano de carreira. O mecânico entra como ajudante, aí trazemos uma unidade móvel do Senai que nos ajuda a reforçar as competências do profissional”, explica Claudemir Turquetti. Para ser um colaborador, basta ter noções básicas de mecânica.
Apesar das novas tecnologias, não há grandes dificuldades, na opinião de Turquetti, por conta da geração Euro 5. “Você precisa familiarizar o mecânico com os novos equipamentos. É a adaptação à tecnologia. Você não vai encontrar um profissional já com esse conhecimento”, explica o Gerente. No caso deste profissional, a JSL dá o treinamento junto da jornada de trabalho, com eventuais treinamentos fora da jornada de trabalho, tudo pago pela empresa.
Em nota enviada à imprensa em setembro, a Auto Sueco anunciou resultados do Programa Protec, que tem como objetivo formar tecnicamente 20 jovens, entre 17 e 24 anos de idade, a cada um ano e meio. “Precisávamos aumentar o quadro técnico na ordem de 30% para atender a demanda, mas, pela dificuldade do mercado, só preenchemos 15% das vagas. Resolvemos formar os profissionais e oferecer um plano de carreira para manter os que se destacarem”, revela o diretor executivo da Auto Sueco São Paulo, Fernando Ferreira.
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