A lei dos caminhoneiros existe há dois anos. Ela exige descanso de 30 minutos a cada quatro horas na estrada - e jornada máxima de 11 horas por dia. Mas o repórter Marcos Losekann percorreu algumas estradas pra mostrar a dificuldade deles pra cumprir as exigências.
Eles carregam uma imensa responsabilidade: levar e trazer bens de consumo pelas estradas de um país que carece de alternativas de transporte. Em contrapartida, buscam um simples lugar à sombra. Um lugar tranquilo para tomar banho, preparar a comida e descansar depois de uma longa jornada na boleia.
“A gente depois do almoço geralmente tira um cochilo, que ajuda muito pra você tocar até mais tarde”, conta o caminhoneiro Josué Rodrigues.
O problema é que esse caminho - que todos os caminhoneiros deveriam seguir - quase não aparece no mapa do Brasil.
Os caminhões geralmente têm bastante espaço, principalmente as carretas, e acabam virando os quartos, muitas vezes as próprias casas da grande maioria dos caminhoneiros. Eles podem dormir nas cabines com certo conforto. O grande problema é onde estacionar o caminhão pra passar a noite com segurança. Falta infraestrutura rodoviária para que a lei seja cumprida.
“O governo tem que dar condições para nós, tem que dar, tem que providenciar ponto de apoio, ponto de recurso, que nós não temos”, comenta Valdir Raspine.
Só tem em alguns postos de combustível. “Não tem nada a ver com a realidade do Brasil. Que posto de combustível é uma área particular, pode estacionar ali quem abastece”, afirma Josué Rodrigues. O gerente confirma: “Abasteceu, pode ficar à vontade”.
Para quem não quiser encher o tanque, a alternativa é pagar pelo estacionamento no posto. “Eles estão querendo 15, 20 conto pra parar”, conta um caminhoneiro
Só que não adianta ter dinheiro no bolso, se não correr pra conseguir um estacionamento livre. “É, o jeito é disputar vaga no posto, amigo. E quando acha, quando não acha tem que dormir na beira da estrada. É pedir pra ser roubado”, comenta José Carlos Pereira.
Na BR-020, que liga Brasília à Barreiras, na Bahia, um trecho de 600 quilômetros, não há nenhum lugar seguro pra parar, sequer existem postos de combustível.
A Polícia Rodoviária Federal, que fiscaliza o cumprimento da lei nas BRs, diz que não é responsável pela infraestrutura e reconhece que não há controle em todo país.
Os motoristas - principalmente os autônomos - se queixam que as empresas botam pressão neles em vez de cobrar solução do governo. É pegar ou largar.
“Conscientizar também os patrões, que nós temos que parar. Se a gente não parar, tem cinco, seis motoristas já esperando a nossa vaga. É difícil”, comenta Washington Soares Pereira.
Difícil e perigoso. Muitos caminhoneiros recorrem às drogas - o chamado ‘rebite’ - para virar a noite na estrada.
“Não vou mentir não, porque nós tomamos rebite mesmo, Porque você não vai atrasar as entregas, porque não tem lugar de apoio para você. E a condição é essa aí: rodar, rodar a noite inteira, dia, o que der pra nós descansar, nós descansamos”, confessa um caminhoneiro.
É esse tipo de jornada - longa e perigosa, sobretudo ilegal - que o Ministério Público do Trabalho denuncia.
“O governo, ele é omisso com relação a conservação das estradas, a instalação de pontos de paradas condizentes à qualidade de vida que a lei pretende implantar”, diz Alessandro Santos, procurador do Trabalho.
Para a maioria dos caminhoneiros, escrever a lei no papel é fácil. Complicado é botar na estrada sem formar uma estrutura pra isso. “Do jeito que está, se não formar, não pega. Eu acho que não pega”, declarou um motorista.
FONTE: G1 Jornal Nacional