As empresas de transporte de cargas que precisam passar pela BR-364, em Rondônia, estão fazendo adaptações mecânicas nos veículos para evitar danos e prosseguir a viagem até o Acre, já que a rodovia federal é o único acesso terrestre ao estado. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), esta é a única alternativa para que o tráfego não seja totalmente interrompido. A cota do Rio Madeira nesta quarta-feira (26) está em 18,55 metros. A maior cheia registrada na capital ocorreu em 1997, quando o rio atingiu 17,52 metros.
Um controle dos policiais rodoviários federais permite que apenas 20 caminhões, por hora, sejam liberados para a travessia sobre as águas do Rio Madeira. “A intenção é evitar transtornos e filas muito grandes na chegada à balsa sobre o Rio Abunã”, explicou o inspetor João Ribeiro, da Polícia Rodoviária Federal, nesta quarta-feira (26). Somente as carretas tipo cegonha não conseguem passar pela região inundada da BR-364, a partir do quilômetro 158, em Porto Velho sentido Rio Branco. “A lâmina d'água sobre o asfalto permanece em 80 centímetros desde a última segunda, e apenas os caminhões com filtro de ar mais alto têm condições de fazer a travessia”, afirma o inspetor, e também faz uma alerta: "se a lâmina d'água subir mais 10 centímetros, o nosso plano B entrará em ação”.
O plano B seria o recuo de uma das balsas que operam no Rio Abunã para Jacy-Paraná. O Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre já construiu um atracadouro no local, mas a obra, que é considerada razoavelmente rápida, já foi descartada após ser tragada pelas água. Um cais mais alto precisaria ser construído. “Neste caso extremo, a travessia teria um tempo aumentado em 3 horas através do desvio improvisado até que a embarcação alcance uma parte seca da estrada e siga caminho até a balsa do Abunã”, explicou.
A cheia histórica do Rio Madeira já traz prejuízos para a economia do estado e mais de 1,8 mil famílias estão fora de suas casas, isso fez o com que a gravidade da enchente em Porto Velho subisse ao nível 3, numa escala que vai de 1 a 3. O nível do rio continua subindo, segundo o Corpo de Bombeiros.
“Do gênero alimentício ao gás de cozinha e combustíveis, tudo está passando”, explicou Ribeiro. O acesso fecha somente durante a noite, apesar do reforço na sinalização luminosa. A PRF afirma que há cerca de 14 quilômetros de estrada completamente inundados pela cheia história. O governador Confúcio Moura informou que, em Porto Velho, apenas 20% as bases da Petrobrás, Shell do Brasil, Ipiranga e Equatorial estão conseguindo fazer o bombeamento de combustíveis até os caminhões distribuidores.
Na Estrada do Belmont bases estão completamente alagadas e não há como caminhões se aproximarem. Na terça-feira Confúcio Moura afirmou que "pode haver uma tragédia ambiental sem precedentes se houver vazamento de combustível que está debaixo da água". Os revendedores de gasolina, óleo diesel e álcool se veem obrigados a seguir rotas alternativas para evitar desabastecimento na capital. “A saída tem sido buscar gasolina e afins na cidade de Paulínia (SP), onde está situada a refinaria mais próxima daqui”, explicou o inspetor da PRF. A viagem pode chegar a 4 horas, somente o trecho de ida.
No caso do Acre, o vice-governador César Messias (PP), em reunião com o ministro da Integração Nacional, na terça-feira, informou que o combustível está chegando a Rio Branco a partir da BR-364, desde a cidade de Cruzeiro do Sul. O percurso de 540 quilômetros é feito em 12 horas. O vice-governador não soube informar a reserva de combustíveis nas balsas de Cruzeiro do Sul, mas adiantou que os carregamentos demoram até duas semanas para chegar no Vale do Juruá por balsas, saindo de Manaus.
Porto suspende funcionamento
A cheia histórica provocou a interdição do cais flutuante no Porto Organizado de Porto Velho, na terça-feira, o que impede a movimentação de grãos (soja e milho). Com isso, os grãos devem ser levados por terra aos portos de Paranaguá (PR) e de Santos (SP), segundo a Sociedade de Portos e Hidrovias do Estado de Rondônia (Soph).
A interdição, segundo a Soph, pretende garantir a segurança das operações portuárias, uma vez que há risco da estrutura desabar, pois a correnteza está puxando a plataforma suspensa por correntes para baixo. No cais flutuante, a ponte que dá acesso e sustentação ao terminal ficou alagada.
As cargas de grãos representam cerca de 70% total do porto, mas a Soph diz que com o aumento em cerca de 500% no movimento, influenciado pela cheia histórica do Rio Madeira, não está havendo prejuízo para o setor.
FONTE: G1