Nos últimos 11 anos, a MAN Latin America – conhecida apenas como Volkswagen Caminhões até 2009 – reinou absoluta no mercado brasileiro de veículos de transporte rodoviário. Entre 2002 e 2012, a distância que a separava da segunda colocada, a compatriota Mercedes-Benz, era superior a cinco mil unidades, em média, e distante das rivais Ford, Volvo e Scania. A liderança da MAN no País continua, com a venda de 40,8 mil unidades e produção de 50,9 mil caminhões no ano passado. Mas a concorrência está cada vez mais apertada. Em 2013, a Mercedes vendeu apenas 2,7 mil veículos a menos que a MAN, o equivalente a 25 dias de vendas.
Diante desse cenário, a montadora não se intimidou e partiu para o ataque. Neste ano, estreou em um segmento inédito para a empresa no País: o de caminhões extrapesados, aqueles que podem puxar mais de 40 toneladas. “O mercado de caminhões cresceu basicamente nesse nicho”, diz Roberto Cortes, presidente da MAN na América Latina.
“Vamos fortalecer nossa atuação nesse segmento, com novos produtos.” Uma das apostas da MAN é o modelo Constellation 420, que continuará trazendo o símbolo da Volkswagen Caminhões e Ônibus. A família Constellation, embora seja vendida no País desde 2006, agora terá versões maiores e mais potentes.
Como diferencial, os novos gigantes da marca prometem ser mais competitivos do que os concorrentes no quesito preço. “Estávamos fora do jogo em um segmento que cresce num ritmo de 40% a 50% ao ano.” Para sustentar a posição de liderança no mercado brasileiro, a MAN definiu uma agressiva estratégia de investimentos no País. Até 2016, será investido R$ 1 bilhão em novos produtos e na ampliação da capacidade produtiva de sua fábrica em Resende (RJ). Cerca de 50% desses recursos, segundo Cortes, já foram colocados nas linhas de montagem, no desenvolvimento do novo Constellation e na nacionalização de um dos modelos da marca MAN, o europeu TGX. “É o veículo mais sofisticado que temos atualmente. Com ele, o transportador pode escolher entre o caminhão mais simples, o Constellation, ou o top de linha, o TGX”, disse.
A tropicalização dos caminhões da MAN é, indiscutivelmente, um dos pilares das estratégias da companhia no País. O modelo TGX passou por 270 modificações técnicas para rodar no Brasil. Mesmo assim, o caminhão possui, atualmente, 45% de peças nacionais, índice que dificulta a obtenção de 100% de financiamento por meio do Finame, do BNDES. Não por acaso, a meta da montadora é alcançar o índice de nacionalização de 60% nos próximos dois anos, percentual mínimo para ter acesso ao empréstimo total do programa. “A montadora tem uma marca muito forte”, diz o consultor automotivo Francisco Satkunas. “Ao conseguir implementar todas as estratégias, terá condições de concorrer nesse segmento.”
Outra parte fundamental do plano brasileiro da MAN é o aumento da capacidade produtiva. O atual limite de 80 mil caminhões por ano será ampliado para 100 mil unidades até 2016. Para isso, a companhia está abrindo espaço, literalmente, dentro de sua fábrica. Alguns fornecedores, que hoje operam dentro da linha de montagem, serão realocados para uma área no entorno. Em Resende, a MAN criou uma espécie de parque industrial para que suas parceiras, como a Meritor, fabricante de eixos, e a Suspensys, do grupo Randon, pudessem se manter por perto, mas não dentro. Desde o ano passado, as duas empresas atuam fora do galpão principal. A próxima a se instalar no local, até o final de março, é a Maxion, fornecedora de chassis.
“Estamos negociando com mais três ou quatro empresas para se transferirem para o local”, afirma Cortes. As parceiras que ainda não se mudaram são a Aethra (de estamparia e solda das cabines), a Carese (pintura), a Continental (montagem interna das cabines) e a Remon, que fornece rodas e pneus. “Há novos produtos a caminho e temos que abrir espaço para eles”, justifica Cortes. Um desses produtos, aguardado pelo mercado, mas mantido em segredo pela MAN, é um veículo que poderá concorrer no segmento de vans e furgões, hoje liderado pela Sprinter, da Mercedes-Benz. “Não vou revelar em quais áreas vamos entrar, mas é só observar em quais nichos ainda não estamos para saber”, diz o executivo, dando pistas de qual caminho a montadora irá tomar no mercado brasileiro.
FONTE: IstoÉ Dinheiro