Facchini

Mercedes é forçada a reduzir sua produção

As restrições impostas pelo governo argentino para a compra de produtos brasileiros gerou impacto direto na região. A Mercedes-Benz decidiu reduzir a jornada de trabalho de 2.000 funcionários da linha de montagem de caminhões em um dia por semana para ajustar sua produção. A montadora conta hoje com quadro de 12,5 mil empregados na fábrica do Grande ABC.
Há aproximadamente seis meses, como medida para fortalecer a indústria local, o governo argentino tem dificultado a entrada de produtos brasileiros em terras portenhas. Porém, o país vizinho é um dos principais mercados para as montadoras de caminhões.
A Mercedes informou, ontem, que a medida de redução da jornada de trabalho semanal, de cinco para quatro dias, tem como objetivo “adequar a produção com a situação do mercado, tanto brasileiro quanto argentino”.
A montadora destacou ainda que ambos são muito importantes para a empresa, mas não precisou o percentual de participação no faturamento com a linha de caminhões.
A situação do segmento de veículos com a Argentina é agravante. Neste mês, o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Moan Yabiku Junior, destacou que o “atual cenário econômico da Argentina teve peso relevante para o desempenho” do setor. As exportações caíram 28%.
Na avaliação do professor de Economia Sandro Maskio, que também é coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, a medida adotada pela Mercedes vai de acordo com o cenário atual de comércio entre Brasil e Argentina. “Principalmente os produtos industrializados têm enfrentado dificuldades para entrar no país.”
Ele acrescentou ainda que a medida, provavelmente, é apoiada em uma análise da montadora sobre o resultado do último trimestre de 2013, levando em consideração apenas as contribuições do mercado argentino na decisão de redução semanal.
“Se os estoques estavam altos o suficiente para reduzir a produção em um dia por semana, a ponto de equilibrar com a demanda, isso seria uma estratégia interessante do ponto de vista financeiro da empresa”, avaliou Maskio.
De acordo com informações do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), São Bernardo exportou 1.302 caminhões para a Argentina no último trimestre de 2013, queda de 14% sobre o acumulado dos três meses anteriores, quando o registro foi de 1.511 unidades.
Para se ter noção da representatividade da Argentina no total de caminhões vendidos a outros países por São Bernardo, o total comercializado de outubro a dezembro aos hermanos equivaleu a 59% do total exportado pelo município. E as principais representantes do segmento são a Mercedes e a Scania, que não respondeu aos questionamentos da equipe do Diário até o fechamento desta edição.
A queda de 3,9% nas vendas totais de caminhões no primeiro bimestre no mercado doméstico, contra o mesmo período do ano anterior, e o anúncio de mudanças nas regras do financiamento subsidiado pelo BNDES/Finame, o PSI (Programa de Sustentação dos Investimentos), apenas no dia 24 de janeiro, são fatores que também têm atingido, negativamente, o setor.

REGRAS
A jornada de trabalho de 2.000 trabalhadores da Mercedes está reduzida há cerca de um mês, desde a terceira semana de fevereiro. A empresa garantiu que tudo foi negociado com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A entidade destacou que a Scania, também como forma de proteção à queda na demanda, concedeu quatro dias de folga aos funcionários neste mês e mais dois estão previstos para abril.
Os trabalhadores que ficarão em casa um dia por semana não terão seus salários alterados. O período será descontado do banco de horas.
A montadora destaca ainda que não há previsão para o retorno de jornada padrão até que os mercados apresentem normalidade de demanda. As produções de agregados e chassis de ônibus continuam em plena operação.
A empresa não precisou quantos caminhões deixará de produzir por causa da redução.
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