O comitê independente formado pelo conselho de administração da fabricante de caminhões Scania recomendou nesta terça-feira que os acionistas da companhia não aceitem a oferta pública de aquisição (OPA) de ações da alemã Volkswagen para fechar o capital da sueca.
A opinião foi emitida com base em laudos do Morgan Stanley e do Deutsche Bank.
Para o comitê, baseado nas projeções de crescimento de longo prazo e em sua experiência já comprovada no setor, além dos potenciais de sinergias, “a proposta não reflete o valor fundamental da Scania, muito menos o prêmio pelas economias a serem realizadas”.
Há um mês, a Volkswagen disse que faria uma OPA para ficar com todos os papéis da produtora de caminhões que não possui, pagando 200 coroas suecas — cerca de US$ 30,57 — por ação. Como o grupo já controla 62,6% do capital social da Scania, desembolsaria 6,7 bilhões de euros no total.
Como argumento para seu laudo, o Morgan Stanley cita, por exemplo, a cooperação e as sinergias possíveis entre a sueca e a MAN, divisão de veículos pesados da Volkswagen. Como não há cálculos desse montante divulgados pelos auditores das companhias, o banco acredita que não há como determinar se os atuais acionistas podem se beneficiar.
Já o Deutsche Bank afirma que foram levadas em conta as últimas cotações dos papéis no mercado e fusões e aquisições consideradas semelhantes com a da Scania. Entretanto, a instituição lembra que não lhe foi garantida nenhuma informação além daquelas que já são públicas.
“A Scania é líder mundial em seu setor e o comitê tem muita confiança no plano de negócios desenhado pela companhia”, comentou, em nota, Asa Thunman, presidente do comitê independente. “Nossa visão é de que a oferta atual não reflete o valor de longo prazo da empresa.”
As ações da fabricante de caminhões, que desde o anúncio de OPA pela Volkswagen funcionavam como um tipo de investimento em renda fixa, cotadas em torno das 200 coroas suecas, caem no pregão de hoje da bolsa de Estocolmo.
Réplica
Como réplica à negativa de fechamento do capital da Scania, a Volkswagen publicou na manhã desta terça-feira um comunicado informando que a sua oferta representa o máximo de valor que os investidores da sueca podem esperar ter de retorno de suas aplicações na empresa.
“[O preço] excede, em muito, o valor individual da Scania e ainda inclui um prêmio justo dos potenciais de sinergia de longo prazo, baseado na integração completa [da fabricante de caminhões] com o grupo Volkswagen”, afirmou a montadora.
Além de discordar da posição do comitê formado por membros independentes do conselho de administração, a Volks aproveitou para dizer que não há motivos para mudar sua proposta.
A janela garantida pela alemã para que os acionistas da Scania decidam se vão aderir ou não à operação se fecha em 25 de abril. Para que possa fechar o capital da controlada, o grupo precisa possuir ao menos 90% do capital social da fabricante de caminhões — hoje, esse percentual é de 62,6%.
A resposta da Volks mostra confiança na oferta lançada, com a empresa afirmando que o potencial de ganhos com a cooperação “só poderá ser realizado se a transação for bem sucedida, permitindo que restrições legais sejam derrubadas”. “Scania e Suécia continuarão a ter papel central em nossa estratégia de veículos comerciais”, garantiu a montadora.
O grupo foi além e informou que aguarda os sindicatos para discutir as situações trabalhistas dos funcionários da Scania. Segundo a alemã, o compromisso com os empregados será mantido, assim como as linhas de montagem da sueca.
Vendas
Paralelamente à recomendação contrária à oferta de compra de ações lançada pela Volkswagen, a Scania divulgou hoje uma prévia operacional do primeiro bimestre do ano. Segundo a companhia, as encomendas por seus veículos estão em nível semelhante ao apresentado no mesmo período de 2013, mas números concretos não foram revelados.
De acordo com o comunicado, na Europa a participação de mercado da sueca subiu de 14,7% para 14,9%. Até o fim do ano, a companhia espera ser beneficiada pelo encarecimento dos caminhões usados na região e pelas necessidades de troca dos veículos — entre outros motivos, pela mudança do padrão de emissões de carbono.
Enquanto isso, na América Latina, a montadora disse que foi mantido o mesmo patamar de vendas observado no último trimestre de 2013. Também foi divulgado crescimento em um ano nas regiões da Eurásia, África e Oceania.
O comunicado cita também as iniciativas conjuntas de Scania e MAN, da Volkswagen. A empresa lembra da cooperação com a subsidiária da alemã, mas informa que em 2014 essas sinergias provavelmente serão limitadas.
FONTE: Valor Econômico