Após o acidente que matou o piloto Edson Beber, 46 anos, na 24ª Arrancada Internacional de Caminhões, em Balneário Arroio do Silva, a Federação de Automobilismo de Santa Catarina (Fauesc) promete rever os conceitos de segurança exigidos para a execução de provas. Um inquérito foi iniciado ontem em conjunto com a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) para apurar as causas do acidente e as falhas nos itens de segurança.
No regulamento da prova, assinado inclusive pelo presidente da Fauesc, Almir Petris, é exigido dos pilotos apenas o uso do cinto de segurança e sapatos fechados, enquanto nas provas de arrancada homologadas pela CBA, itens como macacão, sapatilhas, luvas de competição, colar cervical (protetor de pescoço) e capacete fechado, além da armação de cabine conhecida como gaiola, que reforça a carroceria em caso de tombamento ou capotamento.
Petris garante que a prova tinha autorização dos órgãos competentes (Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e prefeitura) e que a Fauesc entrou apenas para supervisionar a parte técnica e desportiva do evento, quem organizou o evento foi a prefeitura de Balneário Arroio do Silva.
Diário Catarinense — O regulamento de uma prova nacional exige capacete, colete cervical, gaiola de segurança, macacão e luva, que não aparece no regulamento dessa prova. Por que?
Almir Petris — Na verdade, essas provas, quem faz, quem organiza é a prefeitura de Arroio do Silva. Esse não é um campeonato catarinense, a gente só faz a supervisão da prova, a Fauesc agora começou a se empenhar um pouco mais sobre esses eventos, porque existiam muitos eventos e ainda existem hoje que nem passam pela Fauesc, são provas frias que o pessoal faz sem a homologação de ninguém. Não estou dizendo que é o caso deles, mas essa prova não está no nosso regulamento de campeonato Catarinense, nem do Brasileiro. Eles vêm tocando há muitos anos e agora a gente tem que realmente se inteirar desses assuntos todos e transformar em campeonato ou catarinense ou brasileiro.
DC — O uso do capacete faz parte do regulamento? E havia a gaiola de proteção?
Petris — Na verdade, o capacete não faz parte do regulamento. Foi uma fatalidade. Porque 24 anos com prova lá, nunca tinha acontecido nada. No caso específico da gaiola, não sei te dizer, porque era um protótipo, esse caminhoneiro é um pouco diferenciado dos outros, não sei te dizer se tinha nesse caminhão.
DC — A quem cabe regulamentar a segurança do público?
Petris — Envolve alguns órgãos, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Ambiental, o clube que organiza o evento. A Fauesc é responsável pelo departamento técnico e desportivo. Os órgãos competentes é que autorizam o evento. É uma prova com característica de Fórmula 1, pelo público que compareceu no final de semana. Que foi autorizado por todos os órgãos competentes. Também foi um caso isolado, uma fatalidade como em todos os esportes pode acontecer, a exemplo do Ayrton Senna, que na Fórmula 1 acabou falecendo também. Mas sem dúvida tem de se avaliar e disso se tirar algo para rever bastante coisa no item segurança.
DC — Depois desse acidente, o que a Fauesc vai fazer para evitar que se repita?
Petris — Penso que cada evento, modalidade nova, a gente vem trabalhando na ideia de melhorar principalmente no item segurança. No caso de uma fatalidade dessa, tem de rever muita coisa. Hoje não dá para dizer tudo o que precisa modificar, mas na verdade a gente vai sentar e discutir. Hoje a Fauesc, junto com a Confederação Brasileira de Automobilismo, vamos montar um inquérito para ter avaliação mais técnica.
DC — Uma foto aérea mostra o público dos dois lados da pista, separado por raias de areia. Qual a garantia de segurança se o veículo ultrapassar?
Petris — Neste caso quem autoriza e dá o alvará do evento e determina. Todo esquema de segurança não cabe a Fauesc.
DC — Mas o senhor assinou o regulamento da prova. Não lhe passou pela cabeça que havia vulnerabilidade?
Petris — Hoje a Fauesc vai sentar com os órgãos competentes para poder ter uma melhor avaliação. Mas na verdade, todos os eventos, se for olhar o risco, não se faz inclusive futebol.
DC — A Federação tem suspeita do que causou o acidente?
Petris — Um piloto profissional, várias vezes campeão. Seria muito prematuro fazer uma colocação do que possa ter havido no momento. Estamos aguardando, no mais tardar quinta-feira, ter uma posição mais concreta.
DC — Há duas semanas, uma prova de arrancada foi cancelada em Florianópolis. Esse acidente mancha o esporte?
Petris — A gente tem que rever várias coisas. Infelizmente o esporte é assim. Isso pode acontecer. É claro que a gente preza e tenta trabalhar no maior item de segurança, maior controle. Estamos trabalhando muito forte em cima disso, com bombeiros, Polícia Civil, Polícia Militar. Hoje qualquer alvará para ser liberado é bastante difícil. Penso que cada vez tem que ser mais.
FONTE: Zero Hora