Pelo tamanho da reunião, o problema é grande. Pela primeira vez, a presidente Dilma Rousseff recebeu todos os principais executivos – a maioria presidentes – de todas as 29 empresas associadas da Anfavea em uma reunião convocada por ela mesma realizada na manhã de quinta-feira, 17, no Palácio do Planalto, em Brasília. Encabeçada pelo presidente da entidade, Luiz Moan, a comitiva da indústria automobilística também foi recebida pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Mauro Borges, e pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Rogério Caffarelli, na mesma reunião que durou mais de duas horas.
Moan pediu apoio do governo para a retomada do fluxo de exportações para a Argentina - segundo ele, o principal motivo do encontro. De acordo com o executivo, que falou aos jornalistas presentes após a reunião, a presidente determinou que o ministro do MDIC e o secretário da Fazenda negociem rapidamente com o governo argentino para destravar as exportações para o parceiro do Mercosul.
“A presidente demonstrou grande interesse em conhecer em profundidade o nosso setor.
Ela pediu que a questão das exportações fosse trabalhada em conjunto, tanto pelo Ministério da Fazenda quanto pelo MDIC. A questão com o governo argentino foi uma restrição às importações de veículos do Brasil. No último dia 28 de março foi assinado um memorando de entendimento entre os dois governos determinando o retorno do fluxo de comércio. Só que para ser funcional necessita ainda um ajuste na linha de financiamento da exportação brasileira para a Argentina. O que os ministros colocaram é que já na próxima semana estarão na Argentina iniciando essa negociação”, comentou o presidente da Anfavea à Agência Brasil.
Moan disse que as restrições às vendas para a Argentina tiveram grande impacto sobre os negócios do setor. “Nós perdemos no primeiro trimestre 32% das exportações previstas. Então é um prejuízo bastante pesado. Como as exportações representam cerca de 20% das vendas, o impacto total foi aproximadamente 7%.” Nesta semana, os representantes já haviam discutido o assunto com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em São Paulo (leia aqui).
IMPACTO DE CUSTOS
Ainda de acordo com a Agência Brasil, todos os representantes falaram sobre a conjuntura do setor automotivo. Estavam presentes executivos de empresas fabricantes de automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, máquinas agrícolas e rodoviárias de construção, entre eles dois ex-presidentes da Anfavea: o mais recente, Cledorvino Belini, presidente do Grupo Fiat Chrysler para a América Latina, e Rogelio Golfarb, vice-presidente de assuntos corporativos da Ford América do Sul.
Sobre o mercado interno, Moan relatou a Dilma que o setor automotivo sofre os impactos do aumento de custos do aço, da logística e da energia elétrica. “Mostramos claramente a preocupação nossa com aumento de custos generalizado”, disse, acrescentando que não há condições de repasse ao consumidor, mas diminui a produtividade do setor.
“Hoje eu diria que o setor automotivo brasileiro é o mais competitivo do mundo. Nós temos 62 marcas atuando no mercado, oferecendo ao consumidor brasileiro mais de 2,5 mil versões e modelos de automóveis e, com isso, não há espaço para aumento de preço. O que estamos dizendo claramente é que esse aumento de custo, de certa maneira, dificulta e traz a nossa produtividade a um nível muito baixo”, declarou.
No encontro, também foram apresentados à presidente dados da perda de mercado do País na área de máquinas agrícolas e caminhões. Essa perda foi gerada pelo atraso da regulamentação das regras do Finame PSI: “O BNDES paralisou as operações até o dia 27 de janeiro e, até o fim de março, houve um acúmulo de processos, dificultando a entrada de novos pedidos de financiamento. Há dez dias foi lançado o BNDES simplificado, o que reduz bastante essa burocracia que nós tínhamos e já estamos com reflexos [positivos] nas vendas.”
IPI E DEMISSÕES
O presidente da Anfavea acrescentou que o aumento do IPI, feito em janeiro e com previsão de outra majoração em julho próximo, não foi assunto na reunião: o tópico foi citado apenas como mais um item no aumento do custo da produção. Segundo ele, o encontro não foi destinado a cobrar o governo: o objetivo foi apresentar a “situação real” do setor e preocupações de médio e longo prazos. Segundo a Agência Brasil, Moan disse que possibilidade de demissões em massa também não foi mencionada por nenhum dos representantes.
O executivo, que também é diretor de relações governamentais e institucionais da General Motors do Brasil, disse que as empresas do setor estão atualmente em processo de ajuste dos estoques. Para superar as dificuldades, as montadoras usam de alguns mecanismos para preservar empregos.
“Algumas associadas praticaram PDV (Programa de Demissão Voluntária), outras deram licença remunerada. Todas têm a visão clara de que o investimento em cada trabalhador do setor automotivo é extremamente alto. Nosso pessoal qualificado é um grande investimento que fizemos e, tanto quanto possível, vamos preservá-lo.”
FONTE: Automotive Business