Ser motorista de caminhão pode ser o sonho de muitas crianças ao brincarem e ao viajarem pelas estradas, tanto pelo encantamento de dirigir um grande veículo como por conhecer diversas regiões do Brasil e outros países. Mas, segundo um motorista experiente, é preciso paixão. “Para ser motorista, a pessoa tem que gostar porque fica muito tempo fora de casa”, afirma Maurício Célio dos Santos, 60 anos, há 42 na direção.
Mas gostar de ficar fora de casa e ter a experiência de conhecer pessoas e culturas diferentes não são os únicos atrativos. O mercado de trabalho chama bastante a atenção. Como revela Maurício: “graças a Deus, nunca fiquei desempregado. E hoje motorista não fica parado”. O presidente da Federação Interestadual das Empresas de Transportes de Cargas (Fenatac) e empresário do setor, José Hélio Fernandes, confirma a realidade da profissão. “Para ficar sem trabalhar, só por vontade própria ou por algum impedimento de ordem mais séria”, ressalta.
De acordo com a Pesquisa Anual de Serviços (PAS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2011, o transporte rodoviário foi o responsável pela geração de mais da metade da receita do seu grupo de atividades. Em 2011, o setor obteve a maior participação na receita líquida, R$ 149,9 bilhões (52,0%), no número de empresas, 114,1 mil (77,6%), na massa salarial, R$ 25,8 bilhões (51,4%), e na quantidade de pessoal ocupado, 1,5 milhão (65,5%).
Se, por um lado, a alta demanda absorve a mão de obra apta e interessada em trabalhar no ramo, por outro, ela deixa buracos nas contratações. Falta pessoal para ocupar todas as vagas que surgem a cada dia. Segundo dados do setor, há uma carência de aproximadamente 100 mil motoristas profissionais. No ano passado, a atividade, fundamental para o desenvolvimento e competitividade do país, empregou cerca de 2,6 milhões de trabalhadores, o que equivale a 20,5% de toda a força de trabalho empregada no setor de serviços privados não financeiros.
Segundo José Hélio, falta mão de obra em todas as regiões do país. Para ele, a Lei do Motorista (Lei 12.619), sancionada em abril de 2012 e que trouxe mudanças para o dia a dia de trabalhadores e empresas, impactou o setor, mas não pode ser apontada com a principal causa. “Ela (a Lei) pode até ter contribuído porque, por exemplo, em alguns lugares, teve que colocar dupla de motoristas para percursos de longa viagem. Mas é também em função do grande número de caminhões que o setor comprou nos últimos cinco a seis anos e não houve novos profissionais entrando no mercado na mesma proporção. Isso acabou gerando essa falta de profissionais. Na verdade, é um conjunto de fatores que levou a essa falta de motoristas no mercado”, explica.
A falta de qualificação, justificada por alguns especialistas, também colabora para as vagas desocupadas no setor. Segundo o empresário, um exemplo são os novos motoristas, que tiram sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e não conseguem, de imediato, ter experiência necessária nas rodovias, principalmente, porque são veículos de grande porte. “Isso exige uma determinada qualificação e uma certa experiência para conduzir e transportar um número elevado de toneladas”, argumenta. Maurício, motorista experiente, confirma a falta de profissionais no setor e avisa: “tem que ter muita qualificação porque os caminhões estão se modernizando demais”.
Salário
Além de emprego garantido, o setor também oferece salários atrativos. De acordo com a PAS 2011, as empresas de transporte foram as que pagaram melhor em 2009, na média, dentro do setor de serviços. Pelo segundo ano seguido, os profissionais das empresas que transportam materiais por tubulações foram os mais bem remunerados. As empresas de transporte dutoviário (que levam gás ou óleo por tubulações) pagaram uma média de 18,2 salários mínimos mensalmente, valor bastante acima dos registrados nos demais segmentos de serviços medidos pelo IBGE. O transporte rodoviário de cargas figurou com um salário médio mensal equivalente a 2,2 salários mínimos, acima dos serviços de alojamento e alimentação.
José Hélio revela que as remunerações pagas pelo setor têm aumentado. Segundo ele, há um grande número de motoristas contratados com base nas convenções trabalhistas e existem empresas pagando de forma diferenciada exatamente para conseguir contratar e manter o seu quadro de motoristas. Não há como falar em valores, pois o salário varia conforme a região, o modal e o segmento do transporte (grãos, carga perigosa, fracionada etc). No entanto, Maurício menciona que o salário médio de um motorista de rodotrem e bitrem (caminhão com duas carretas, sete e nove eixos) gira em torno de R$ 4 a 5 mil. Segundo o empresário, a remuneração vem se tornando cada dia mais atrativa. “A médio prazo, será um fator de atração de motoristas”, assegura José Hélio.
FONTE: Agência CNT