“Nós engenheiros tivemos uma grande lição: não basta apenas projetar com todo rigor técnico. É preciso considerar toda cadeia envolvida no processo e principalmente os custos”. Esta foi a observação feita pelo engenheiro Gilberto Leal, coordenador do Fórum da SAE – Sociedade de Engenharia Automotiva – que termina hoje em Curitiba, depois do painel A VÓZ DO CLIENTE: DOIS ANOS E MEIO DE PROCONVE P7, E AGORA?
Leal se referia a uma pesquisa apresentada no evento pela NTC&Logística sobre os resultados da aplicação dos motores Euro 5. Entre outras constatações, a pesquisa mostrou que nada menos que 65% dos transportadores não percebem os benefícios decorrentes da utilização destes novos motores, menos poluentes: “Nem o benefício ambiental é percebido. Além disso, em muitos casos, a tecnologia não está sendo usada da forma correta, como imaginamos”, comentou Leal que trabalhou por 41 anos na Mercedes-Benz e atualmente é consultor automotivo.
Na pesquisa foram ouvidas 113 empresas e o resultado, que ainda será divulgado em detalhes, mostra toda sorte de dificuldades, principalmente o aumento de custos do transporte decorrente do custo de aquisição dos veículos, do diesel e também da Arla 32, um reagente à base de uréia, necessário para o bom funcionamento destes novos motores.
Muitos empresários e caminhoneiros tiveram que absorver estes custos por não conseguirem repassar para o proprietário da carga, no caso o embarcador, que não se sensibilizou com o argumento dos ganhos ambientais da nova tecnologia. Diante destas dificuldades e da redução da oferta de fretes com o menor ritmo da economia, muitos transportadores acabam abastecendo com o diesel mais barato, o S500, e burlando a eletrônica do caminhão para não usar a Arla32.
Outro fato bastante lembrando no Fórum foi a correria da pré compra em 2011, para aproveitar os preços dos veículos Euro 3 ainda disponíveis e pelo menos 15% mais baratos que os que viriam a ser comercializados a partir de janeiro de 2012. “Mesmo com a economia estagnada na época, os empresários tiveram que se endividar para tentar fugir deste aumento de custos”, lembra Leal.
EURO 6 - O diesel S10, por ter baixo teor de enxofre é menos poluente e mais caro que o diesel S500, usado ainda nos veículos mais antigos. No Paraná esta diferença gira em torno de R$ 0,11 e no Rio Grande do Sul chega a R$ 0,22. Isso acontece, segundo alguns técnicos presentes no encontro, em função da baixa escala de produção por parte da Petrobras, que ainda precisa importar parte deste combustível para atender a crescente demanda. Estima-se que, somente este ano, aproximadamente 140 mil novos caminhões, equipados com estes motores, sejam fabricados no Brasil. Em alguns postos ouvidos pela Revista Carga Pesada o diesel S10 já responde de 30 a 35% do volume de vendas nas bombas.
Para atender às novas normas de emissões, entretanto, só o diesel mais limpo não basta. A maioria dos motores Euro 5 adotou o sistema SCR (Seletive Catalitic Reduction) que utiliza no pós-tratamento dos gases de escape o Arla 32 (Agente Redutor Líquido de NOx Automotivo), produto químico composto por 32,5% de ureia dissolvida em água desmineralizada, que neutraliza o NOx resultante da combustão, convertendo-o em substâncias inofensivas e não contaminantes: nitrogênio e água.
O consumo médio esperado da Arla 32 é da ordem de 5% do consumo de óleo diesel, podendo variar dependendo das condições de uso do veículo e de tráfego. O litro de Arla está custando, em média, R$ 3,00 quando adquirido em galões. Mas pode variar para mais em algumas regiões. A venda a granel, da mesma forma como é feita com o diesel, que poderia baratear o produto, ainda não está regulamentada. Alguns postos, entretanto, já estão oferecendo esta opção e o preço, neste caso, chega a R$ 2,29 o litro.
Envolver representantes do transporte de cargas e passageiros no debate foi uma iniciativa pioneira para a Sociedade de Engenharia Automotiva, até porque outro importante tema do encontro foi justamente a tecnologia que sucederá a atual, a dos motores Euro 6, que já estão rodando na Europa e nos Estados Unidos. A previsão é de que esta tecnologia, ainda mais rigorosa em termos de emissões de poluentes, chegue ao Brasil por volta de 2020.
FONTE: Carga Pesada