Tradicionalmente, o segmento de extrapesados é o que mais vende no Brasil quando se fala em caminhões. E isso explica a crescente concorrência entre as marcas que atuam no país. Mesmo diante da queda de 18,3% nas vendas de cavalos mecânicos nos primeiros oito meses de 2014, em relação ao mesmo período de 2013, o cenário continua próspero para os veículos que transportam acima de 45 toneladas. Tanto que, de acordo com os dados da Fenabrave de janeiro a agosto de 2014, o número de emplacamentos desta categoria já corresponde a 39,8 % do total de caminhões vendidos. Em 2013, no mesmo período, esse valor era de 38,2% e no final do ano, fechou em 38,6%.
Muitos são os fatores que influenciam o destaque dos mais pesados caminhões no Brasil. Mas o principal deles é, sem dúvidas, a expansão do agronegócio, especialmente alavancado pelo transporte de grãos e insumos. A safra brasileira de grãos 2013/14 deve chegar a cerca de 194 milhões de toneladas, índice quase 3% maior que a anterior, de 188,66 milhões, de acordo com a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab. “Esse cliente precisa de torque alto para mover composições de sete ou nove eixos, que possibilitam tracionar até 74 toneladas de peso bruto total combinado”, analisa Victor Carvalho, gerente executivo de vendas de caminhões da Scania no Brasil, que comemora o bom desempenho do modelo R440. O modelo já emplacou 3.693 unidades entre janeiro e julho deste ano. Em 2013, fechou como o mais emplacado entre todos os caminhões à venda, com 10.508 exemplares.
A agricultura pode até ser a maior incentivadora na venda de cavalos mecânicos com cargas acima de 45 toneladas. Mas há também outras funções que atraem esses veículos para os transportadores. Em muitos cenários, caminhões maiores acabam tendo um custo operacional menor no transporte de longa distância. E nem mesmo as restrições de tráfego impostas pela legislação para esses modelos é capaz de retrair essas vendas. “As facilidades de um centro de distribuição fora das áreas urbanas e o desenvolvimento da logística já vêm retirando dos centros das cidades os caminhões extrapesados”, aponta Gilson Mansur, diretor de Marketing e Vendas de caminhões da Mercedes-Benz, que tem o terceiro extrapesado mais vendido do país neste ano, o Atron 2729, com 3.516 unidades emplacadas até o fim de agosto.
Na verdade, o que impacta nesse mercado é o termômetro da economia. A lógica é simples: se há o que ser transportado, há demanda por caminhões. Como, por exemplo, carga industrial, da própria indústria automotiva e de obras de infraestrutura. Além disso, a população brasileira vem comprando cada vez mais, influenciando também as vendas dos semipesados, a segunda maior categoria em volume de emplacamentos, com 35,86% das vendas totais entre janeiro e agosto. “Outros segmentos ligados ao crescimento da economia foram responsáveis pelo aumento na comercialização de veículos extrapesados, como a construção civil, transporte de combustíveis, produtos químicos, frigoríficos e containers, entre outros”, cita João Herrmann, gerente de Marketing do Produto da MAN Latin America, que atua com as marcas Volkswagen e MAN, mas se destaca mais na área de semipesados.
Há quem aposte também na mudança da legislação sobre a atividade de motorista de caminhão como um fator de impulso para as vendas de extrapesados. “Frotistas e transportadoras aumentaram o tamanho da frota de caminhões, investindo principalmente nos que percorrem grandes distâncias”, defende Flávio Costa, supervisor de Marketing de Produtos da Ford Caminhões. A marca, inclusive, voltou a investir no segmento de extrapesados no fim do ano passado, com o lançamento dos Cargo 2842 e 2042. Mas ainda não alcançou resultado significativo, de acordo com os dados da Fenabrave. Até o relatório de agosto, os modelos sequer aparecem na lista dos dez mais vendidos.
Caminhões de grande porte, porém, demandam um forte investimento. Nesse ponto, os incentivos públicos são fundamentais para aquecer as vendas. “Apesar das safras recordes, o Finame oferece taxas muito atrativas desde 2012 e alavancou o crescimento desse setor”, avalia Marco Borba, vice-presidente da Iveco para a América Latina, que passou a oferecer no Brasil moderno e tecnológico Hi-Way no segundo semestre do ano passado. E foi também a troca do Finame simplificado pelo convencional um fator de retração nas vendas do início de 2014.
“Diante de muita pressão, o BNDES voltou atrás no começo de abril. Mas esse movimento prejudicou muito o primeiro trimestre do ano”, ressalta Herrmann, da MAN. “Acreditamos que o comportamento do segmento de caminhões estará melhor neste segundo semestre, com a maior oferta de crédito. Já aumentamos gradativamente o volume de produção em Ponta Grossa”, torce Jorge Medina, diretor de Marketing da DAF Caminhões no Brasil, que fabrica no Paraná o extrapesado XF 105 desde o fim de 2013.
FONTE: Salão do carro