O primeiro caminhão fabricado pela holandesa DAF no Brasil saiu da linha de produção há, exatamente, um ano. O veículo, cuja capacidade de carga chega a 80 toneladas, está exposto no hall de entrada de sua sede administrativa, localizada no município de Ponta Grossa, no Paraná, no mesmo endereço da fábrica. No entanto, passada a euforia pelo início das operações, em meio a um cenário de mercado superaquecido, a empresa, que é controlada pela americana Paccar, segunda maior montadora de veículos pesados dos Estados Unidos, apresenta resultados decepcionantes.
Seu ritmo de produção atual, de dois caminhões por dia, é metade do projetado inicialmente, para o atual estágio do plano estratégico, e um décimo da capacidade total da fábrica, de 20 caminhões diários. “A realidade se mostrou mais difícil do que esperávamos”, afirmou à DINHEIRO o mexicano Marco Davila, presidente da DAF Brasil. “Mas, se continuarmos nesse ritmo, sem acelerar demais e focando na qualidade, os resultados virão.” Os planos são ambiciosos: conquistar 10% do mercado de pesados brasileiro em até sete anos. Se atuasse no mercado financeiro, seria possível dizer que a DAF cometeu o erro capital de comprar na alta e vender na baixa.
O ano passado foi excepcional para os fabricantes de caminhões. As vendas cresceram 11%, atingindo 154 mil veículos. No segmento em que a DAF atua, o de pesados e extrapesados, o resultado foi ainda melhor, com alta de 34% e 55 mil caminhões comercializados, segundo dados da Anfavea, a associação das montadoras. Na época da inauguração da unidade de Ponta Grossa da DAF, o mercado projetava um desempenho no mínimo semelhante neste ano, o que não aconteceu. De janeiro a agosto, o setor acumula uma queda de 14%, em comparação ao mesmo período de 2013.
Segundo Luiz Moan Yabiku Junior, presidente da Anfavea, o mercado foi afetado pelas incertezas no setor político, relacionadas com a eleição, o que reduziu a confiança dos clientes. O cenário não parece tirar o sono dos executivos da DAF. “Somos uma empresa com mais de 100 anos de história e temos intenção de ficar no Brasil pelo mesmo período”, afirmou Ron Armstrong, CEO da Paccar, à DINHEIRO. Fundada em 1905, na cidade de Seattle, a Paccar é a segunda maior fabricante de veículos pesados dos Estados Unidos, atrás apenas da Freightliner, marca pertencente ao grupo alemão DaimlerChrysler.
A estratégia para sair da marcha lenta e acelerar no mercado brasileiro está no apelo do baixo consumo de combustível e da robustez dos caminhões da marca, com um toque de luxo. “Nosso caminhão apresenta desempenho semelhante ao dos modelos que são referência, hoje, no Brasil – ou até melhor”, afirma Davila. A empresa considera seus produtos como sendo do segmento premium. As máquinas possuem acabamento de primeira e já saem de fábrica com ar-condicionado, teto solar, piloto automático e comandos do rádio no volante.
Para conquistar o cliente, a DAF adotou a prática de emprestar caminhões por até 15 dias, para o chamado teste drive, uma mostra de confiança no produto. A empresa também aposta na montagem de uma rede de concessionárias diferenciada. Sua loja-modelo, em Ponta Grossa, recebeu investimentos de R$ 17 milhões, feitos pelo concessionário José Divalsir Gondaski, conhecido como Ferruge, experiente empresário da região, dono de uma rede de concessionárias da fabricante de máquinas agrícolas John Deere. Gondaski espera recuperar o investimento em dois anos. “Por coincidência, dois dos meus clientes são holandeses”, afirma o empresário. “Eles já conhecem a marca.”
FONTE: IstoÉ Dinheiro