Analistas gastam horas e horas analisando os fatores micro e macroeconômicos, cruzam dados, fazem projeções, analisam a conjuntura buscando entender porque a inflação está acima ou abaixo da meta, com o Banco Central diuturnamente ‘lutando’ com os ferramentais de política monetária para que os preços se acomodem no centro da meta.
O Departamento de Economia da Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP), chama a atenção para um item de peso nessa discussão, e que é totalmente desconhecido da sociedade, mas tem forte impacto no aumento dos preços de toda a economia: o pneu.
Sim, a velha e boa borracha com um furo no meio, que na maior parte das vezes as pessoas nem se dão conta de sua existência, tem forte correlação com a onda de aumentos que o consumidor só percebe quando vai ao supermercado e paga mais caro pelo arroz, feijão, açúcar, sal, óleo, leite, bebidas, carnes e toda sorte de bens duráveis e não duráveis de que necessita para o seu dia-a-dia.
E o que o pneu tem a ver com isso? Em um país que é movido sobre rodas, é necessário ter pneus para que os caminhões transportem de um lado para outro as mercadorias neste continente chamado Brasil. E pneu é custo. Ele custa muito para a empresa de transporte de cargas, para a empresa de transporte rodoviário de pessoas (nas cidades e nas estradas), e nós descobrimos quanto ele custa.
Com base em dados do Índice Nacional da Variação de Custos do Transporte Rodoviário de Carga Lotação (INCT-L), apurado pelo Departamento de Custos Operacionais, Estudos Técnicos e Econômicos da NTC& Logística (Decope), descobrimos que o pneu foi o insumo que mais subiu de preços entre seis itens que compõem a planilha de custos dos frotistas e é usado como base para a formação do INCT-L – o indicador que parametriza os ajustes dos preços do frete no segmento de transportes.
Em janeiro de 2014 ante janeiro de 2013, o preço do pneu sofreu reajuste de 10,12%, superior ao aumento dos salários pagos pelas empresas de transportes aos seus motoristas e profissionais do setor administrativo. A inflação medida pelo IPCA no mesmo período foi de apenas 3,41%, o que referendou um aumento REAL de 5,47% para a indústria brasileira de pneus.
E como foram os aumentos ao longo do período?
1. Em fevereiro de 2014 ante fevereiro de 2013, os pneus subiram 12,13%, quase o dobro do IPCA acumulado no período, que foi de 6,31%. Isso representa um aumento REAL de 5,47%.
2. Em março de 2014 sobre março de 2013 a indústria reajustou os pneus em 11,16%. O IPCA foi de 6,65%, refletindo alta real de 4,23%.
3. Em abril de 2014 comparado a abril de 2013 os preços evoluíram mais 11,16% ante um IPCA de 6,86% e majoração real de 4,02%.
4. Em maio de 2014 sobre maio de 2013 houve alta nominal de 9,28% nos preços dos pneus para um IPCA de 6,77% e real de 2,35%.
5. Em junho de 2014 comparado a junho de 2013 mais 8,32% de aumento nos pneus. O IPCA acumulou 6,88% e o ganho real no bolso da indústria foi de 1,42%.
6. Em julho de 2014 ante julho de 2013 os pneus subiram 6,78%. O IPCA acumulou 6,53% e o ganho real ficou em 0,23%.
7. Em agosto de 2014 sobre agosto de 2013 a indústria elevou os preços dos pneus em 3,71%, o IPCA acumulou 6,77% e a perda real foi de 2,87%.
“Veja que apenas em agosto houve aumento abaixo da inflação e sabe por quê? Porque não está havendo expansão da economia, porque o segmento de transportes sofreu recuo na movimentação de mercadorias e diante disso passou a deixar caminhões parados nas garagens, nos centros de distribuição. Nesse ambiente, a indústria brasileira de pneus não encontrou um cenário positivo para manter os seus reajustes continuados acima da inflação. Pelo contrário, teve de dar ‘DESCONTOS’ para poder conseguir vender pneus”, destaca o Diretor Executivo da Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP), Milton Favaro Junior.
“Toda a cadeia produtiva de nosso País tem, em sua maioria, o transporte rodoviário para a logística de seu negócio e os custos do frete hoje são extremamente importantes para a definição do preço de um produto que é adquirido na ponta final, pelo consumidor. O diesel e o pneu são imprescindíveis nessa equação e os principais custos do transporte no Brasil e no mundo, só que estamos vendo que os preços dos pneus reajustados pela indústria passam a ser o maior custo do transportador”, diz o executivo.
“O que a ABIDIP pretende mostrar com esses dados é que o ‘estrago’ dos preços mais altos dos pneus já ocorreu na formação do preço do frete. O impacto disso na inflação já está dado e só o governo e as autoridades monetárias não percebem isso. Não estamos falando do preço do diesel, estamos falando do preço dos pneus, cujos dados alinhavados pelo Decope mostram claramente: o custo do pneu foi e vem sendo o vilão dos preços altos entre os insumos que compõem as planilhas de custos dos frotistas e transportadores brasileiros”, afirma Milton Favaro Junior.
E como corrigir isso?
O primeiro objetivo da ABIDIP é mostrar que o pneu é um item que está ajudando no descontrole da inflação (e do preço do frete). O segundo objetivo é mostrar que esses aumentos têm um culpado: a indústria brasileira de pneus.
O terceiro objetivo é mostrar que mesmo diante dos abusos de poder que essa indústria opera junto ao mercado, ela também é responsável por mais de 55% das importações de pneus usados em caminhões e ônibus no Brasil hoje.
“O consumidor brasileiro precisa saber que a indústria brasileira de pneus, ao invés de produzir localmente, de gerar empregos, de gerar renda, de gerar impostos para municípios, estados e União, essa indústria se transforma, dia-a-dia, em plataforma de importação. Ela gera emprego? Sim. Lá fora. Ela gera renda, impostos? Sim. Lá fora”, aponta Milton Favaro Junior.
Aqui, essa indústria só busca privilégios como: a desoneração da folha de pagamentos, o Reintegra, além de benesses fiscais que não se consolidam como realidade de investimentos produtivos e voltados à geração de capacidade de produção local.
“Hoje, neste momento, a indústria já responde por mais de 55% das importações de pneus de carga que rodam no Brasil – se ela produzisse aqui o que ela importa, certamente o nível de emprego seria maior, os salários melhores e a arrecadação de impostos superior aos números atuais. Mas ela prefere ‘importar’, e sua sede é crescente nesse sentido. Nos bastidores de Brasília, essa indústria quer ampliar o programa por dumping – já existente contra pneus importados da China -, para outros seis mercados: África do Sul, Rússia, Coreia do Sul, Taiwan, Japão e Tailândia. Se o governo brasileiro acatar o desejo dessa indústria, ela, sozinha, responderá por 80% das importações de pneus de caminhão e ônibus no Brasil. Perguntar não ofende: se hoje, dominando 55% das importações a indústria já promove ajustes reais sobre os preços dos pneus, com 80% você acha que o preço do pneu vai cair?”, destaca o Diretor Executivo da Abidip.
“Não entendo porque o governo deva aceitar um pedido desse tipo vindo da indústria nacional - de aplicar medidas de protecionismo absurdamente altas -, fazendo com que a própria indústria seja, além de produtora, a maior importadora de pneus do mercado. A indústria não pede protecionismo para os países dos quais ELAS importam, mas dos países que competem e concorrem com ela. São multinacionais importando de seus redutos de produção, quando no mínimo deveriam aumentar sua capacidade de produção no Brasil.”
A história (econômica e política) mostra que quem detém o monopólio detém o poder. Com 80% das importações em suas mãos, a indústria não consolidará os investimentos prometidos, não permitirá a livre concorrência e pelos números do principal indicador de preços para a formação de fretes do Brasil, o INCT-L, o futuro do pneu é de aumentos contínuos, em patamares reais, e em um ambiente monopolizado por meia dúzia de empresas descompromissadas com a competição e a concorrência.
FONTE: Guia do TRC