Facchini

Eficiência questionada

A utilização de aparelhos rastreadores nos caminhões é uma exigência da grande maioria das transportadoras, principalmente para os carreteiros autônomos. Sem o equipamento é mais difícil de conseguir bons fretes, admitem os estradeiros. Nas frotas das grandes empresas esse item já faz parte do kit de acessórios obrigatórios para a segurança do veículo e do motorista.
Mesmo assim, há quem reclame da vigilância constante sobre a vida pessoal do motorista, enquanto a preocupação maior deveria ser em relação ao caminhão e à carga transportada. O rastreador custa caro e a mensalidade do serviço algumas vezes é paga pelo embarcador. As críticas também se estendem para os sinais fracos em determinadas rotas, os quais acabam gerando problemas para o motorista, com o bloqueio do veículo em razão das dificuldades de comunicação.
Para o carreteiro autônomo Marlon Brandt, 33 anos de idade e 10 de profissão, natural de Iraí/RS e dono de um caminhão ano 1994, o uso do rastreador é indispensável para trabalhar como agregado da Kraft Cargo, uma transportadora argentina. O equipamento é dele, a transportadora paga as mensalidades do serviço para a operadora. Segundo ele, sem o rastreador não se consegue trabalhar em boas empresas ou conseguir cargas mais lucrativas.
Brandt está acostumado a viajar pelo território nacional e internacional, ou “para onde tiver o melhor frete”, acentua. Nunca teve dificuldades na operação do rastreador, reclama apenas dos eventuais bloqueios que acontecem principalmente no trecho entre Curitiba e São Paulo, considerado crítico pela alta quantidade de assaltos a motorista de caminhão. Nesse trecho o sinal fica muito fraco e às vezes até as ligações por celular são prejudicadas conforme explica. “Daí é um problema. Se ficarmos sem comunicação e a operadora bloqueia o caminhão num lugar impróprio ou perigoso, a coisa fica preta”, comenta. Ele lembra que numa ocasião precisou mandar 32 mensagens para a seguradora solicitando o desbloqueio. E como essas mensagens são pagas, ainda recebeu “uma chamada” do patrão. Mesmo assim, acredita na utilidade dos rastreadores para a segurança do caminhão, mas impedir o assalto, ah, isso não impede, garante.
O estradeiro Itamar Rodrigues, 59 anos de idade e 34 de volante, natural de Santiago/RS, também atuando na rota internacional, reconhece a necessidade de equipar o bruto com rastreador. Explica que para a maioria das empresas, ter o rastreador é uma condição básica para a liberação de fretes ou cargas mais valiosas. Por isso ele assumiu uma dívida de R$ 6.800,00 para a compra do equipamento e além de pagar as prestações tem o custo de mais R$ 145,00 pelo sinal. No entanto, considera que foi um bom investimento que não chega a pesar no final do mês, a não ser que haja algum imprevisto que estoure o orçamento. E como garantia adicional, tem um seguro pessoal, “pois ninguém sabe o dia de amanhã”. Outra vantagem do rastreador, conforme destaca, é que a sua filha, em casa, pode saber a sua localização a qualquer instante através do computador. “Uma tranquilidade para a família”, afirma.
Na opinião do motorista Cristiano Bitencourt Leivas, 39 anos de idade e 10 anos de estrada, natural de Porto Alegre/RS, atualmente trabalhando com uma carreta , prancha, para o transporte de cargas especiais, o rastreador é útil para as empresas no acompanhamento do patrimônio e das cargas. Todavia, reconhece as dificuldades que surgem quando o sinal falha ou fica fraco, com a ocorrência de bloqueio do caminhão em lugares absolutamente inconvenientes. Tem opinião de que mesmo com o rastreador o motorista não está livre dos ladrões, que muitas vezes querem apenas o dinheiro ou os pertences do motorista, sem preocupação com a carga. “Ou então em casos de quadrilhas organizadas, nem ligam para o rastreador. A coisa não tá fácil, conclui.
O estradeiro Vanderlei Luiz Fraporti, conhecido no trecho como Bodão, 46 anos de idade e 20 de direção, natural de Nova Bréscia/RS, “Terra da Mentira e dos Churrasqueiros”, como faz questão de lembrar, reconhece que o equipamento dá um pouco mais de segurança ao motorista, porém não acredita que possa impedir um assalto, roubo do caminhão ou da carga.
Bodão viaja apenas dentro do Estado do Rio Grande do Sul transportando com frequência polietileno do Petrosul, de Triunfo/RS até Uruguaiana, carga valiosa, por isso é exigido o rastreador. Lembra que comprou o aparelho em 36 vezes, pagando mensalidade de R$ 160,00. O sinal é pago pela empresa para a qual trabalha como agregado. Acredita que se o motorista trabalhar direito, sem sair da rota e fazendo as paradas programadas, não terá problemas de bloqueio do caminhão e nem a “pegação de pé”, dos operadores das seguradoras. Considera o aparelho fácil de usar e nunca teve problema “tecnológico”.
Lourival Rodrigues da Silva é natural de Londrina/PR e vive atualmente em São Paulo. Tem 46 anos de idade, 18 de profissão e trabalha ao volante de uma carreta sider no transporte internacional. Como normalmente transporta produtos de grande valor, utiliza dois rastreadores no caminhão e muitas vezes é acompanhado por escolta. Apesar de considerar esse equipamento fundamental no transporte rodoviário de cargas, acredita que ele parece ser mais destinado a “ferrar” com o motorista através de uma vigilância obsessiva em tudo o que ele faz, nas paradas, aberturas de portas, sem liberdade para nada.
Em sua opinião, o rastreador cuida mais da vida pessoal do motorista do que do patrimônio. Além disso, as frequentes perdas de sinais acabam causando sérios transtornos, como o bloqueio do veículo em locais perigosos ou até mesmo no meio da estrada. Lembra que um colega que trafegava com 10 minutos de vantagem, foi assaltado na Ruta 5, no bairro Lampa, em Santiago do Chile, no momento em que batia os pneus. Os criminosos o colocaram numa Fiorino enquanto a carreta foi levada para outro local. Ele foi liberado pouco depois sem dinheiro e sem documentos.
Conta que o cavalo-mecânico só foi localizado três dias depois pelas autoridades policiais e a carreta continua desaparecida, já que o rastreador ficou “sem sinal”. Recorda que precisou emprestar roupas e dinheiro para o colega, enquanto providenciava o retorno para o Brasil. Além da perda do sinal, os ladrões também utilizam um equipamento chamado “chupa-cabra” para impedir o correto funcionamento do rastreador. Enfim, segundo ressalta, a segurança é relativa.
O autônomo Mauri César Zambom é natural de Santo Ângelo/RS, 44 anos de idade e 26 de profissão, dono de uma carreta com cavalo-mecânico ano 1983, atua no transporte nacional e internacional. Sempre trabalhou como autônomo, nunca pensou e nem pensa em equipar o caminhão com um rastreador, embora saiba da utilidade e das exigências da maioria das transportadoras. “Algumas pedem, outras não”, lembra. E, como carrega constantemente na mesma transportadora, onde já é bem conhecido, e não exigem o aparelho, diz que “vai levando”. O caminhão está pago, tem seguro total e seguro pessoal, portanto, é só trabalhar.
FONTE: O Carreteiro 
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