Na última tentativa do setor de adequar o excesso de estoques nos pátios de fábricas e concessionárias, a indústria de veículos está programando férias coletivas mais longas no fim deste ano. Maior montadora de caminhões do país, a Mercedes-Benz interrompe a produção já na segunda-feira e os trabalhadores - tanto da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, como na de Juiz de Fora, em Minas Gerais - retornam ao trabalho apenas no dia 5 de janeiro.
Na MAN, que produz os veículos comerciais da marca Volkswagen, e no parque industrial da Volvo em Curitiba, as férias começam no dia 15 de dezembro. No caso da MAN, instalada em Resende (RJ), elas vão durar três semanas. Já na Volvo, a depender do setor da fábrica, a paralisação vai durar entre quatro e cinco semanas, ao se incluir, junto com as férias, folgas concedidas como compensação a operários.
Normalmente, as montadoras liberam os funcionários apenas nas duas últimas semanas de dezembro. Mas neste ano o setor enfrenta um cenário de mercado interno recessivo, queda nas exportações e estoques nas alturas. Entre janeiro e outubro, as vendas de caminhões no Brasil tiveram queda superior a 13%, na esteira da desaceleração econômica, da retração na atividade industrial e das dificuldades relacionadas ao financiamento desses veículos no início do ano. Em igual período, as exportações caíram 26% e a produção, 24,6%.
Embora o mercado, incluindo os carros de passeio, esteja confirmando o tradicional aquecimento das vendas no último bimestre, o foco ainda é diminuir um encalhe na rede que superava 413 mil veículos no fim do mês passado, o suficiente para 40 dias de venda. A meta é reduzir isso para um giro mais próximo de 30 a 35 dias, o que daria melhor condição para a retomada da produção em 2015.
Na Ford, que produz tanto carros como caminhões em São Bernardo do Campo, as férias coletivas vão durar um mês, começando em 15 de dezembro. Já na fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia, o setor que monta o EcoSport e o Ka fecha por um período mais curto: duas semanas, entre 22 de dezembro e 2 de janeiro.
Segundo informações do sindicato dos metalúrgicos do ABC, a Scania programou férias coletivas de três semanas, a partir de 29 de dezembro. Na indústria de veículos comerciais, além do mercado fraco, as montadoras mostram cautela ao programar a oferta dos primeiros meses do ano que vem porque o governo ainda não anunciou quais serão, a partir de janeiro, as novas condições do Finame, a linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) responsável por cerca de 80% das vendas de caminhões no país. No início deste ano, a demora do governo em divulgar as novas condições do Finame, seguida por alta burocracia nos financiamentos, travou o mercado desses veículos até abril.
Grandes fabricantes de autopeças também já definiram que vão acompanhar a parada nas montadoras. A lista dos fabricantes de componentes que vão alongar as férias incluem Randon e Marcopolo. A fábrica da Meritor que produz eixos de caminhões em Osasco (SP) vai parar por um mês a partir de 8 de dezembro. A empresa fabrica uma média de 9 mil eixos por mês, mas em dezembro esse volume vai cair para 3 mil unidades. "A carteira de pedidos de dezembro é a menor em uma década", afirma Silvio Barros, diretor da Meritor.
Entre 15 de dezembro e 6 de janeiro, férias coletivas de três semanas estão previstas na BorgWarner, fabricante de turbocompressores sediada em Itatiba (SP). Nem durante a crise financeira de 2009 a empresa teve férias tão longas.
FONTE: Valor Econômico