O segmento de caminhões pesados fora de estrada tem perspectivas de crescer 10% este ano, enquanto o mercado como um todo deve ter retração próxima a 15% em comparação com 2013. Ele representa 9% das vendas, considerando todos os segmentos, e o valor médio de cada unidade beira os R$ 400 mil. Todas as marcas que atuam no segmento de pesados possuem versões voltadas para o off-road, porém, a Iveco afirma que o modelo dela, o Trakker, é o único vendido no Brasil que nasceu projetado exclusivamente para atuar no fora de estrada, como forma de dizer que ele é mais competente. Porém, isso não significa que os das outras marcas, desenvolvidos a partir de suas versões rodoviárias, também não sejam competentes para as tarefas mais pesadas do transporte.
Os modelos fora de estrada são adquiridos por empresas que não têm o transporte como foco, mas outra atividade, como agronegócio, principalmente nas usinas de cana-de-açúcar, construção civil, mineração entre outras. Porém, para essas companhias, o veículo off-road pesado é uma ferramenta importantíssima, e saber fazer boa escolha na hora da compra do equipamento e no cuidado de sua operação pode fazer diferença no resultado.
Para conhecer melhor as competências do Iveco Trakker fomos visitar a Usina da Mata (que produz álcool e açúcar em Valparaíso, no oeste do Estado de São Paulo) para conhecer a operação dos caminhões Trakker.
No mesmo dia, a Iveco disponibilizou uma unidade do Trakker para nossas impressões. A versão foi a 740T48 6x4 atrelada a um rodotrem canavieiro da Randon. O peso total da composição era de cerca de 82 000 kg. O peso da composição vazia era de 21 897 kg (10 797 kg do cavalo mecânico com cabine simples somado aos 11 100 kg do implemento canavieiro) e cerca de 60 000 kg de cana-de-açúcar.
O Iveco Trakker tem PBTC (Peso Bruto Total) de 74 000 kg e a CMT (Capacidade Máxima de Tração) de 132 000 kg.
Considerando que os veículos que rodam em estrada de terra não precisam obedecer a Lei da Balança (por enquanto), vale ressaltar que o caminhão dessa avalição não excedeu em nada a sua capacidade de carga. Pelo contrário, como estava puxando um rodotrem (composição formada por um semirreboque mais um reboque), somente o semirreboque (o primeiro implemento engatado no cavalo) entra para a soma do PBTC. Assim, o Trakker mais o semirreboque e a carga estavam com o PBTC em torno de 46 000 kg no modelo avaliado. O reboque (segundo implemento) mais a carga pesavam 36 000 kg e esse peso, somado aos 46 000 kg do primeiro conjunto, formam o peso total de 82 000 kg tracionados pelo Iveco. Portanto, ele ainda tinha 50 000 kg de folga para chegar à sua capacidade máxima de 132 000 kg.
Mecânica eficiente
O ponto forte do Trakker é o seu trem de força, tendo como ponto alto o seu motor Cursor 13 fabricado pela FPT Industrial, uma das empresas do grupo CNH Industrial, do qual a Iveco também faz parte. A versão avaliada pela TRANSPORTE MUNDIAL está equipada com o propulsor de 480 cv a 1 900 rpm e torque de 230 mkgf de 1 000 a 1 500 rpm, bastante elogiado pelos operadores que trabalham dirigindo os 20 Trakker da Usina (versões 720T42T ainda com motores Euro 3) que trabalham 24 horas por dia. A robustez também foi bastante elogiada, mostrando que a Iveco tem razão na sua afirmação que o Trakker é robusto por já ter nascido como caminhão off-road.
A transmissão automatizada Eurotronic é fabricada pela ZF e possui 16 marcas. Sem pedal de embreagem, como todos os câmbios automatizados, ela é muito simples de operar, bastando usar apenas três teclas no centro do painel: D (de drive) para colocá-lo em marcha, N (de neutro) e R (ré). Na coluna de direção, junto com a haste do sistema de freio auxiliar, há também dois botões para mudanças manuais das marchas.
Essa caixa automatizada aumenta muito o conforto e a segurança na condução do caminhão, além de proteger todo o trem de força de trancos comuns nos erros de mudança manual de marchas. Porém, ela pode evoluir ao patamar das últimas gerações das caixas I-Shift da Volvo, PowerShift da Mercedes-Benz e Opticruise da Scania, que apresentam mudanças ligeiramente mais rápidas e contam com funções extras, como modo manobra, entre outros. Na Eurotronic, as funções se resumem em Down Hill Control, que faz a sincronização eletrônica entre freio motor e transmissão para maior controle em declives, e a Kick-Down, que prioriza maior potência do motor e força uma redução de marcas. Os modos de direção também são somente dois, econômico e standard. Porém, podemos comprovar em nossa avaliação que o software da transmissão da Iveco garantiu que o motor sempre trabalhasse na faixa verde do conta-giros, o que garante maior economia de combustível.
Consumo no fora de estrada
A média de consumo dos Trakker da Usina é de 800 metros por litro. Para uma operação em estradas de terra com aclives, declives, buracos, em baixa velocidade e com peso que beira as 100 toneladas, não é um número que gera insatisfação. Mas, claro, na ampliação ou renovação da frota pela Usina, a versão com o câmbio automatizado Eurotronic pode melhorar essa média.
Aliás, falando em melhorias, duas coisas que os operadores que dirigem os caminhões da Usina gostariam que o Trakker tivesse são: um freio motor mais potente e controle de tração, pois em dias de chuva, os caminhões patinam bastante em aclives. Segundo a Iveco, o Trakker avaliado conta com freio motor Iveco Turbo Brake, que garante 415 cv de potência de frenagem a 2 400 rpm. Opcionalmente, pode ser equipado com Intarder, item que eleva a potência de frenagem para 975 cv. Pelo tipo de operação de uma usina, terreno acidentado e quase sempre rodando com peso bruto de quase 100 000 kg, talvez o que esteja faltando seja o opcional Intarder.
Vida a bordo
Internamente, a cabine é simples sem deixar de ser moderna em termos de design do painel. Bancos de motorista e passageiro contam com suspensão pneumática, e as forrações são de material lavável. A lista de equipamentos de série é razoável, mas conta com um item importantíssimo para quem precisa trabalhar o tempo todo com o vidro fechado por causa da poeira: ar-condicionado. Essa lista continua com climatizador e rádio com CD-player.
Em termos de conforto, os motoristas da Usina gostam do Trakker, principalmente da versão que estava para avaliação, superior aos modelos que lá já existem. Porém, não disfarçaram que os Volvo FM (16 unidades que também trabalham na Da Mata) são um pouco mais confortáveis, o que não tira os méritos do conjunto da obra robustez e força do Iveco Trakker.
FONTE: Transporte Online