Facchini

Funcionários da Mercedes cruzam os braços por 24 horas

Os cerca de 10,5 mil trabalhadores da Mercedes-Benz em São Bernardo – sendo 7.000 do chão de fábrica e 3.500 das áreas administrativa, vendas e RH – cruzaram os braços durante todo o dia de ontem sob forma de protesto às demissões de 244 trabalhadores, de um grupo de 1.015, que não tiveram a renovação do lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) até 30 de abril. A montadora alemã, por sua vez, pela primeira vez se pronunciou sobre número oficial de demitidos, que chega a 260, sendo 100 por meio do PDV (Programa de Demissão Voluntária) e 160 involuntariamente.
Durante a assembleia, realizada na entrada dos funcionários do primeiro turno antes do sol raiar, a maioria, entusiasmada ao manifestar insatisfação com os cortes, levantou os braços e concordou com a paralisação. “Essa briga é de todos nós. Cada um aqui tem que se colocar no lugar dos 244 (de madrugada, a Mercedes ainda não havia divulgado a informação oficial). A companhia foi cruel ao demití-los no último dia do ano. E pior ainda ao alegar que esse pessoal é de baixa performance. O que é isso? Se eles não quisessem trabalhar, seria uma coisa. Mas se nunca faltam, que justificativa é essa?”, indagou ao microfone o diretor administrativo do Sindicado dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges.
“O emprego é o maior patrimônio do trabalhador, não é o carro nem a casa, porque é desse emprego que ele tira dinheiro para pôr comida na mesa”, disse, ovacionado na sequência.
“Cheguei às 4h30 para apoiar o movimento da greve. A empresa está sendo arbitrária, temos uma história de conversa e acordo que foi quebrada quando os 244 trabalhadores foram mandados embora. Eu não fui dispensado, mas estou aqui para apoiar quem foi. Amanhã pode acontecer a mesma coisa comigo”, disse um dos metalúrgicos que protestavam com cartazes pedindo que a empresa cumpra o acordo. Por dia parada, a montadora deixa de produzir 240 veículos, sendo 170 caminhões e 70 ônibus – com base nos índices de novembro.
Selerges informou que hoje os funcionários trabalham normalmente, com manifestações em algumas áreas dentro da fábrica, como demonstração de solidariedade e, amanhã, haverá assembleia na área externa e existe a possibilidade de outra paralisação. “Estamos no aguardo de contato da direção da Mercedes. O diálogo tem que ser permanente. Ela tem que nos procurar porque foi ela que demitiu. Enquanto isso, vamos discutir estratégias de mobilização diariamente.”
O sindicalista disse que a montadora reconhece excedente de 1.700 profissionais, o que gera o risco de mais cortes. Ele, que está na Mercedes há quase 30 anos, lembrou que em 1995 foram demitidos 1.282 funcionários devido à crise econômica. “Ninguém compra caminhão para ir à praia. Se a economia vai mal, a demanda por produtos e serviços diminui e, consequentemente, a necessidade de caminhões”, afirmou. “À época, porém, não havia mecanismos para conter os cortes como hoje. Na Alemanha, a Mercedes utiliza sistema de proteção ao emprego em que reduz a jornada de trabalho e o governo ajuda a empresa a pagar parte dos salários. Queremos o auxílio do governo para implementar medida semelhante.”
Selerges apontou que, caso a frota de caminhões brasileira tivesse mais incentivo para ser renovada, esse mercado cresceria 30%.
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